Livro mergulha na obsessão de cirurgião que esquartejou amante

Lido como uma grande reportagem, o livro da jornalista Patricia Hargreaves, lançado em novembro de 2021 pela Editora Máquina de Livros, mergulha em detalhes na investigação de um dos crimes que chocaram o país. Em janeiro de 2003, o cirurgião plástico Farah Jorge Farah matou Maria do Carmo Alves, com quem teve um caso proibido, e esquartejou o corpo em seu próprio consultório.

O título e longo subtítulo resumem a obra: “Farah Jorge Farah, o médico que virou monstro: A história de obsessão, fé e loucura do cirurgião que esquartejou a amante e se matou vestido de mulher”. Antes da história de Farah e o homicídio, a jornalista começa pelo final. Ao saber que seu último recurso havia sido negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e voltaria à prisão, Farah cometeu suicídio antes da chegada de policiais, ouvindo música clássica na casa onde morava.

Até o ato final, a jornalista buscou, nas entrevistas, detalhes sobre a personalidade de Farah. Reconstituiu sua trajetória e como a clínica cresceu – e não sem problemas. O médico foi acusado de abusos por pacientes antes da loucura final.

Maria do Carmo, que era casada, foi sua paciente. Descobriu-se que os dois tiveram um breve caso. Após o fim, o relacionamento ficou conturbado. A mulher procurava-o insistentemente. As ligações bloqueavam as linhas telefônicas da clínica de Farah, que procurou a polícia. A jornalista relatou todos os episódios entre os dois, registrados em boletins de ocorrência. De janeiro a setembro de 2022, a partir de telefones usados por Maria do Carmo, foram 26.458 chamadas para Farah e para a casa dos pais deles.

A relação tumultuada terminou em tragédia. Em 24 de janeiro de 2003, Farah recebeu a paciente no início da noite, quando já não havia mais ninguém na clínica. Dali em diante, ele diz que teve um apagão. No julgamento, alegou legítima defesa. Farah sedou Maria do Carmo, matou-a e a esquartejou na clínica. Os fragmentos foram colocados em sacolas e guardados no porta-malas do carro. O local foi devidamente limpado pelo médico. Dias depois, foi ele mesmo que avisou os parentes sobre a atrocidade.

Farah permaneceu preso por 4 anos e 4 meses e passou a responder em liberdade após habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Enfrentou dois júris populares. No primeiro, foi condenado a 13 anos de cadeia. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), porém, determinou novo julgamento ao entender que um laudo que apontava a semi-imputabilidade do réu havia sido ignorado pelos jurados. O segundo júri foi pior: o laudo também foi desconsiderado e a pena foi maior.

Ironia do destino: o corpo de Farah foi encontrado 14 anos e 8 meses depois do crime, o mesmo período da sentença a qual havia sido condenado. Um adendo: o crime cometido pelo cirurgião foi um dos primeiros a ser descobertos pelo uso do Luminol. A substância reage quando entra em contato com a hemoglobina. Foi assim que a polícia descobriu que a clínica de Farah, devidamente higienizada, havia sido palco de uma carnificina.

Um caso de grande repercussão, em registro breve, objetivo e detalhado de forma competente pela jornalista Patricia Hargreaves. A obra deve virar um documentário em breve pela mesma produtora que levou o caso de Elize Matsunaga à Netflix.

Avaliação
Nota: 8/10

Título: Farah Jorge Farah, o médico que virou monstro: A história de obsessão, fé e loucura do cirurgião que esquartejou a amante e se matou vestido de mulher
Autora: Patricia Hargreaves
Editora: Máquina de Livros
Páginas: 168
Gênero: Livro-Reportagem, True Crime
Ano de Lançamento: 2021

Foto: Reprodução

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