Sem limites

Por Carlos Chinellato

Não há nada que iguale mais os homens como a morte. A vida do bilionário inglês tripulante do submarino transformado em destroços no fundo do mar do Atlântico tem o mesmo valor de um farrapo humano dependente da cracolândia de São Paulo. Você tem dúvidas disso? Eu, não! Ambos conhecem o mesmo sentido da vida quando da iminência da morte, sem distinção.

Uma das mais impressionantes declarações sobre acreditar em Deus é a do escritor paraibano Ariano Suassuna. Ele disse, certa vez, mais ou menos o seguinte: “o que me mantém vivo diante desse mundo [das tragédias, inclusive sociais] é saber que Deus existe”. Ariano já morreu, deixou um legado – a meu ver – de conhecimento e de sabores positivos da vida. A miséria humana de famintos e desolados é de causar indignação, como sugeria o sentimento de Suassuna. Isso não é ideologia comunista ou algo que valha, um aviso aos desavisados.

Em recentíssima conversa com um amigo, cujo grau de inteligência é incomparável, fiz lhe uma pergunta: “o que move capitalistas bilionários concentradores de riquezas e posses, mas apáticos em tudo, em especial ao que chamamos de ser solidário ou ao menos indignado, sabendo que o seu dia chegará?” A resposta: “talvez seja a essência de um capitalismo primitivo, tal qual ganhar, acumular e acumular”.

Sem limites! Ponto! O excêntrico bilionário Musk viu seu projeto afortunado de uma nave explodir em segundos, em episódio recente. O bilionário inglês se juntou a outros para de perto ir ver o que sobrou do Titanic, 111 anos depois.

E o que falar do sujeito acumulador de riquezas de toda ordem, desproporcional em relação a um mundo quantitativo de miseráveis, que aqui estão, desprovidos de tudo. Aqueles são os sem limites, que talvez nunca souberam que a vida é finita.

Carlos Chinellato é jornalista.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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