Seja meus olhos

por Fernando Bryan Frizzarin

O título, em inglês, é Be My Eyes. O nome de um aplicativo que tem como objetivo conectar pessoas com baixa ou nenhuma visão, que não sabem a língua do local onde estão ou são analfabetas, a voluntários que podem ajudá-los nas tarefas mais diversas, cotidianas ou não, como, por exemplo, indicar onde está o pacote de café, verificar se o botão do forno está realmente na posição desligado, conferir se a roupa que estão vestindo não está do avesso, ou auxiliar em qualquer outra tarefa que uma pessoa com dificuldades visuais necessite.

Esse aplicativo está disponível tanto para os sistemas operacionais Android quanto iOS (Apple) e, ao acessá-lo pela primeira vez, você pode escolher entre ser um voluntário para ajudar ou uma pessoa que necessita de ajuda. Essa configuração pode ser alterada posteriormente nas configurações. Também é possível escolher em quais línguas você está apto para atender.

Tive duas experiências bem rápidas depois de escolher ser voluntário. Funciona assim: o telefone toca, indicando que é uma chamada do Be My Eyes, e você atende como em uma chamada de vídeo.

Na primeira chamada, uma senhora aparentemente bem mais velha do que eu apontou a câmera do celular para um armário de cozinha e me perguntou se eu poderia identificar qual era o pacote de café. Pedi para aproximar um pouco mais, e respondi: “The red one, on the left, next to the yellow can.”

Na segunda chamada, também uma mulher, me pediu se eu poderia ler para ela uma placa, aparentemente em um supermercado. Nada muito desafiador, mas muito interessante.

Fiquei pensativo sobre isso por um bom tempo. Eis uma coisa genial e inovadora que existe, serve para uma infinidade de tarefas e é uma experiência agradabilíssima para quem se dispuser a encará-la com seriedade para ajudar e ser ajudado. Ajudado sim, pois a maioria das pessoas que pedem ajuda faz isso em inglês ou em outras línguas, poucas em português. No entanto, afirmo isso sem um embasamento científico ou estatístico. Há uma chance de praticar, contando com a ajuda de alguém a quem você também está auxiliando. É uma troca.

Recomendo o uso.

Decidi testar mudando a configuração para ser uma pessoa que precisa de ajuda.

Para solicitar ajuda, você pode escolher um tipo de ajuda especializada entre assistência para tecnologia, saúde e beleza, carreiras, casa e limpeza, saúde pessoal ou técnica. Dentro de cada uma dessas opções, há muitas outras possibilidades que vão te conectar com alguém que realmente entende daquele assunto para te auxiliar.

Ou simplesmente você pode tocar no grande botão “Call a volunteer” e esperar alguém atender. Não consegui enganar e passar por alguém que realmente precisava de ajuda. Expliquei que era apenas um teste, agradeci e desliguei.

Então, descobri que ao lado do ícone “Get support”, há outro chamado “Be My AI”, e aí, como dizem, meu cérebro explodiu depois que toquei nele.

Você tira uma foto de um lugar, um objeto ou o que quiser, e uma inteligência artificial cria uma descrição detalhada do que você “está vendo”. Basta esperar alguns segundos.

Não tive dúvida, virei o celular para o lado e enviei a foto:

“A imagem mostra uma sala que parece ser uma sala de aula ou área de estudo. Em primeiro plano, há uma mesa redonda branca com uma cadeira de malha preta. Sobre a mesa estão alguns itens, incluindo uma bolsa preta, um molho de chaves, um telefone celular e um controle remoto branco.

Ao fundo, há uma parede laranja com um ar condicionado branco montado próximo ao teto. Abaixo do ar condicionado, há um longo balcão branco com uma impressora 3D preta. Há também várias mesas brancas com cadeiras pretas ao redor. No lado direito da parede laranja, há uma porta aberta, e uma prateleira preta alta e vazia é visível através da porta. Na extrema direita, há um quadro branco pendurado na parede e um pano verde em cima de uma mesa branca. O piso é de ladrilhos brancos.

Descrição da imagem fornecida com Be My Eyes.”

Ok, Be My Eyes errou, pois na verdade o micro-ondas é uma impressora 3D, mas o resto está perfeitamente correto.

No Instagram, por um bom tempo, usei a hashtag #PraCegoVer com a descrição da cena que postava. Com programas de assistência que leem o texto da tela, as pessoas que não enxergam podem ter uma ideia do que é aquela fotografia, a imagem que coloquei na frente delas.

Agora, com o Be My Eyes, essa tarefa será mais simples do que nunca! Muitas coisas se unindo, evoluindo e ajudando as pessoas.

Por isso, tenho certeza de que a humanidade tem muitas coisas maravilhosas e inimagináveis para construir e alcançar.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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