Pelé, um sonho de criança

por Carlos Chinellato

Sempre guardei comigo um sonho quando criança: me encontrar com Pelé!
Não era um sonho impossível.

Minha família mudou-se de Limeira para Santos, em 1970. Minha mãe, ainda uma jovem professora em início de carreira na rede estadual; meu pai, caminhoneiro.

Eu tinha 3 anos. Sabia o que era uma bola, mas, evidentemente, não conhecia ainda o futebol.
Fui crescendo, ouvindo falar de Pelé.

Os anos se passaram. Permanecemos em Santos até os meus 11 anos. Lembro de ter visto pela TV duas Copas do Mundo – a de 1974 (ainda sem entender muito de futebol) e a de 1978 (aí sim já apaixonado pelo esporte).

Lembro como se fosse hoje do 0 a 0 contra a Argentina, os donos da casa, em 1978. Lembro do Chicão, um valente médio volante, escalado por Cláudio Coutinho, para impor respeito contra os não menos valentões argentinos.

Dos meus 7 a 11 anos, joguei muito futebol como garoto, ainda em Santos. Das peladas com os gols de cachote, como se denominavam as traves marcadas por pedras nas ruas calmas onde morávamos, até o futebol nas areias da praia do José Menino – entre o canal 1 e a divisa com São Vicente.

Foi talvez aquele um período de maior felicidade em minha vida. Era jogar futebol, ir para a escola. Fui “criado” com a ajuda de empregadas domésticas (duas delas muito simpáticas, inesquecíveis), enquanto meus pais trabalhavam o dia todo.

Recentemente, tive uma conversa com meu pai. Do alto dos seus 86 anos, e padecendo de Alzheimer (ainda com vários momentos de lucidez), ele me relatou com absoluta franqueza e lucidez que me levou (ainda bem criança) a ver vários jogos do Santos de Pelé, na Vila Belmiro, o templo do futebol do Rei. Estranha a doença que faz os que dela sofrerem lembrar e muito do passado, mas não saber falar do presente.

Vivi com minha família oito anos em Santos. Não realizei meu sonho de garoto de me encontrar com o Rei, talvez tocá-lo ou ouvir algumas palavras. Mas foi confortável saber que, de alguma forma, vi Pelé jogar. Ele partindo para o final de carreira. E eu mesmo sem saber ao certo o que se passava naquele gramado de quatro linhas.

Carlos Chinellato, 55, é jornalista graduado pela Unimep e pós-graduado em Comunicação e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero. Foi repórter, colunista editor-executivo e editor-chefe do Jornal de Limeira por 20 anos; colunista e editor-chefe da Gazeta de Limeira; diretor de Jornalismo da TV Mix Regional; atuou nas rádios Mix e Educadora; foi professor do curso de Jornalismo do Isca Faculdades e repórter do Diário do Povo, de Campinas. Atualmente é diretor de Comunicação Institucional da Prefeitura de Limeira.

Capa de 30/12/2022 do jornal espanhol Marca

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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