O telefone celular (de novo)

por Fernando Bryan Frizzarin

O destino quis e o algoritmo fez (ou o algoritmo quis e o destino fez?) que um vídeo chegasse até mim. Nesse vídeo há um aparelho celular cinza, bem grande, na frente de um fundo cinza, onde imagens também cinzas de pessoas cabisbaixas, mexendo em um celular, também cinza, entram na tela do telefone.

O som é de violão, com melodia bucólica, muito bem tocado, instrumentalizando a música “Don`t Cry” do Gun’n’Roses, onde a primeira estrofe é “Se pudéssemos ver amanhã, quais são seus planos?/Ninguém pode viver na tristeza, pergunte a todos os seus amigos/Tempos que você aproveitou, eles voltaram a ser procurados/Fui eu quem está lavando o sangue das suas mãos”

Durante o vídeo há um texto que vai aparecendo, que é o seguinte:

“Matou a TV
Matou o computador
Matou o relógio
Matou a câmera fotográfica
Matou o rádio
Matou a lanterna
Matou o espelho
Matou o jornal
As revistas e os livros
Matou o videogame
Matou a carteira
O calendário de mesa
Matou o cartão do banco
E o pior de tudo é que matou também muitos casamentos
E junto matou muitas famílias
E aos poucos está matando nossos olhos
Nossa coluna cervical
Nossa saúde mental
Tentando acabar com a próxima geração
Se não vigiarmos ele vai matar nossa alma
Pense nisso”

Pensei. E cheguei a mesma conclusão quando, absurdamente, propuseram proibir de forma categórica qualquer existência do telefone celular nas escolas. Como se, no caso da proibição primeiro e, depois, no caso desse vídeo, o eletrônico tivesse o poder mágico de realizar ações demoníacas para destruir a Humanidade.

Pensei. E vou dar o roteiro para outro vídeo, se alguém quiser produzi-lo terá meu incentivo:

Música do Belchior ao fundo, com Maria Rita cantando baixinho, começando já pela estrofe “Minha dor é perceber que apesar de termos/Feito tudo, tudo, tudo o que fizemos/Nós ainda somos os mesmos e vivemos/Ainda somos os mesmos e vivemos/Ainda somos os mesmos e vivemos/Como os nossos pais…”

As imagens do fundo podem ser pessoas, paisagens ou quaisquer coisas que lhe agradar melhor. Minha sugestão de texto é:

“Revitalizou a TV, tornando-a inteligente
Encaixou o computador no bolso
Revigorou o relógio, e apesar dos atrasos persistirem, a culpa é das pessoas, não da tecnologia
Popularizou o uso diário da câmera fotográfica, revelando visões inimagináveis sem ela
Desvinculou o rádio de sua limitada cobertura regional, levando-o ao mundo, permitindo ouvir de qualquer lugar para qualquer lugar
Eliminou a escuridão, integrando a lanterna ao telefone
Elevou o espelho a um novo patamar, agora não apenas para reflexão pessoal, mas para projetar sua imagem narcisística no mundo
Revitalizou o jornal, garantindo notícias sempre frescas, e o papel tornou-se obsoleto
O mesmo aconteceu com revistas e, no caso dos livros, a não impressão os tornou mais acessíveis em preço e logística
Antes confinado ao quarto, agora é possível desfrutar do videogame com amigos em qualquer lugar
Digitalizou documentos, simplificando significativamente a vida
Transformou o calendário, que agora inclui endereços, trajetos, anotações e contatos
Substituiu senhas por impressões digitais e reconhecimento facial nos cartões bancários, aumentando a segurança
No entanto, os casamentos desmoronaram, mas o problema são as pessoas, não a tecnologia
Para as famílias, trouxe parentes de longe para a conivência diária.
Trouxe os avisos para despreocupar as mães.
A geolocalização em tempo real para afagar os corações aflitos.
Mas é mais fácil culpar a tecnologia do que admitir incompetência no amor fraternal
Cada desafio requer uma solução, não uma culpa
Cuide de sua saúde mental para evitar destruir as próximas gerações”.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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