Não ao discurso e prática de ódio

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé”


Inicio este texto com a primeira estrofe da famosa Oração de São Francisco, rezada e principalmente cantada até os dias de hoje. O que muitos não sabem, e este escrevinhador também não sabia antes de preparar este texto, que a oração é atribuída a São Francisco de Assis e, por isto, escrita em sua época. Mas não.

O texto foi escrito em 1912 e de autoria anônima, publicado em um Boletim Espiritual na cidade de Paris na França. No entanto, quatro anos depois encontrou-se em Roma na Itália um panfleto com a Oração de um lado e do outro a imagem do Santo dos Pobres e dos animais. Atribui-se a São Francisco, pois o conteúdo da oração reflete sua vida e o que ele pregava.

A versão musical aparece pela primeira vez muito tempo depois. Em 1968, o padre paraguaio Irala a gravou com a melodia que conhecemos em um compacto.

Mas a Oração/Canção tem várias versões inclusive no Brasil, onde destacamos a de Raimundo Fagner no disco “Quinze”, de 2003, de Ana Carolina no CD “Estampado”, além de muitos outros como padre Fabio Mello e padre Marcelo Rossi.

Mas esta introdução histórica de resgate de uma das orações mais importantes não só do cristianismo católico, mas de várias outras denominações religiosas de outras fés inclusive, que adotaram este texto como ponto de meditação, reflexão e, por que não, um manifesto pela paz como São Francisco perseguiu sua vida toda.

Estes primeiros versos acima colocados são bem objetivos e soam como um preâmbulo do que as demais estrofes irão dizer.

Ser um instrumento da paz e onde houver ódio que se leve o amor, este recado e os demais são claros e não foram escritos como delírios e sem base material e real para se falar deste assunto.

Infelizmente, desde que o mundo é mundo, o ser humano em suas contradições busca como objetivo ser feliz. Nem sempre os caminhos da felicidade são trilhados com sentimentos de solidariedade, fraternidade e amor. O ódio circunda a humanidade desde seus primórdios promovendo ofensas, discórdias, sangue derramado, guerras e exclusões.

O ser humano em sua estupidez muitas vezes se envolve no sentimento de destruição para se apropriar o que deveria ser de todos a vida terrena.

Algumas semanas atrás, dois fatos chamaram a atenção, um nacional e outro de Limeira (SP).

O primeiro foi o discurso de defesa do nazismo pelo youtuber bolsonarista Monark. O fato repercutiu com consequências como demissão do rapaz pelo veículo de comunicação que trabalhava, processos judiciais e muita polêmica.

O outro fato envolve a vereadora Isabelly Carvalho (PT), que recebeu ameaças físicas e xingamentos transfóbicos nas redes sociais por ter apresentado, na Câmara Municipal, propositura do Dia Marielle Franco, no sentido de discutir a violência às mulheres negras, em especial.

Os dois fatos demarcam o acirramento de um discurso de ódio que pelo menos nos últimos cinco ou seis anos têm se transformado em uma rotina cruel e que leva literalmente a morte.

Só para ficar com dados sobre crimes de ódio, no primeiro ano do atual governo, o Brasil teve um aumento de 2% em relação ao ano anterior de praticas que levaram a morte, de negros, comunidade LGBTQ+, imigrantes, nordestinos, mulheres e outros. Foram 12.334 crimes, uma média de 33 registros por dia.

Vejam, como o Estado Brasileiro não divulga números oficiais, decerto este número aumentou significativamente, pois cresceu a liberação de compra e porte de armas no País.

Um outro dado é a infestação destas práticas nas redes virtuais e sociais. O uso frequente destes espaços para difundir o ódio tem sido assustador. Assim elaboramos abaixo algumas dicas de como colaborar para combater o ódio, sobretudo na internet. O leitor está livre para discordar e, se quiser acrescentar sugestões, fique à vontade:

1 – Não discutir com pessoas que, não respeitando diversidades e opiniões, apelam com agressões verbais e físicas, sobretudo na Internet;

2 – Xingamento, agressões, ofensas, preconceito são crimes, portanto, devem ser denunciados às autoridades policiais. Realizar boletins de ocorrência, denúncia no Ministério Público e outros;

3 – Não repassar postagens ou conversas sem checar sua veracidade. Buscar saber a fonte de onde veio a “informação” é o caminho. Precisa ser uma fonte confiável e conhecida.

4 – Textos não assinados ou com autoria não conhecida deve ser desconsiderado;

5 – Não participar de grupos que propagam a exclusão de pessoas LGBTQ+, negros, mulheres e outros. Além disto, denunciar às autoridades o conteúdo destes grupos, seja virtual, seja presencial;

6 – Buscar conhecer na História trajetórias de intolerância que levaram ao discurso e pratica de ódio;

7 – Engajar se possível em instituições e grupos que promovam a tolerância e a cultura da paz;

8 – Compartilhar, nas redes sociais e em grupos presenciais, experiências positivas e afirmativas de combate ao ódio e de estimulo à solidariedade, a fraternidade, a igualdade;

9 – Identificar em suas redes, pessoas ou grupos fascistas ou de intolerância. Excluí-los, denunciá-los a polícia e a sua rede de contatos;

10 – Que as instituições públicas proíbam que, em suas páginas virtuais e atividades, que haja práticas de discurso de ódio;

11 – Que a educação pública e privada discuta e insira, em seus currículos e metodologia, a cultura da paz, não só como disciplina, mas como princípio;

12 – Buscar cobrar das instituições públicas uma política de humanização de seus quadros funcionais

Toda a nossa solidariedade à vereadora Isabelly Carvalho.

João Geraldo Lopes Gonçalves é escritor e consultor político e cultural

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.