Estelionato sentimental: mulher banca despesas e processa ex-namorado que sumiu

Ela é de São Carlos, ele é de Campinas, interior de São Paulo. Ambos se conheceram por meio de um aplicativo e passaram um réveillon juntos. Tempos depois, a mulher passou por um problema de saúde e, quando estava acamada, o homem lhe pediu para bancar despesas, como o conserto da motocicleta e contas de telefone, com a promessa de que a reembolsaria. As visitas pararam, ele nunca mais voltou e ela decidiu processá-lo por “estelionato sentimental”. A ação foi julgada no final de janeiro e a Justiça deu razão à mulher.

A prática, conforme apontou a petição, é a utilização da confiança conquistada com o relacionamento, visando a obtenção unilateral de vantagens econômicas às custas do outro. “Tudo através da ilusão criada na vítima, que acreditou vivenciar um relacionamento perfeito, embalado em atitudes simuladas de atenção e afeto”. No final, não foi nada disso.

No início, o homem dava indícios de que nutria sentimentos pela mulher. Entre abril e maio de 2021, mais de um ano após se conhecerem, ela ficou hospitalizada em decorrência de um problema de saúde que lhe deixou sequelas. Quando voltou para casa, não conseguia sair da cama. Mesmo assim, ele continuou a visitá-la a cada 15 dias.

Em junho daquele ano, o homem pediu que ela comprasse peças originais para o conserto da moto, para que pudesse trabalhar e visitá-la. Acreditando nele, a mulher ligou para a oficina e fechou o orçamento em R$ 3,5 mil. Quando o encontrava e cobrava a devolução do dinheiro, ele tinha sempre a mesma resposta: esqueceu o dinheiro, não conseguiu fazer o depósito ou ainda não havia recebido nenhum valor e, por isso, não tinha condições de pagar.

No decorrer do relacionamento, os pedidos continuaram. O próximo foi o pagamento de três parcelas atrasadas do telefone. Posteriormente, ela descobriu que a conta estava vinculada à filha dele. Em dezembro, pediu mais um pagamento de conta telefônica, alegando que, do contrário, “cortariam sua linha e o deixaria sem meios para conversar com a amada”. Ela, mais uma vez, pagou.

No mês de março de 2022, ele solicitou novos celulares, para conversar com ela com mais qualidade. A mulher comprou dois aparelhos, sob a promessa de que ele iria transferir sua parte mensalmente. O dinheiro nunca chegou.

No processo, a mulher descreveu e comprovou todos os gastos que teve em atendimento aos pedidos do ex-namorado. A última visita ocorreu em julho de 2022 e ele não voltou mais. E também não ressarciu a mulher.

“O estelionato sentimental se concretiza com a grande arma do chamado ‘catfish’, ou seja, a lábia. E quando o agente encontra mulheres carentes, exploram esse lado. Por mais inteligente que uma mulher seja, por melhor que seja a sua formação acadêmica e a sua autoestima, a carência é democrática, pode acontecer com todas. Quando a vítima percebe que caiu em um golpe e decide procurar a polícia, as dificuldades aparecem. É um desastre na vida da vítima que se envolve com toda boa-fé, ajudando, pensando no bem do casal. No presente caso não foi diferente, caiu no referido conto por estar frágil e sensível, acreditou na história do requerido e se penalizou”, diz a ação.

A Defensoria Pública fez uma contestação geral, representando o homem. O juiz Marcelo de Moraes Sabbag, da 3ª Vara Cível de São Carlos, entendeu que a mulher comprovou os fatos constitutivos de seus direitos. Ele fixou indenização de R$ 2 mil por danos morais, além de obrigar o ex-namorado a restituir os R$ 5,7 mil de despesas bancadas pela mulher. Cabe recurso à decisão.

Foto: Freepik

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