Depois que o carnaval passar

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Hoje é sexta feira de carnaval e a folia de uma das maiores festas brasileiras do ano mobiliza milhões de pessoas, entre organizadores, patrocinadores, funcionários e foliões. Carnaval no Brasil é um acontecimento não só cultural, mas social e político.

É social porque não há discriminação para pular e brincar. Há espaços para todos, mesmo que alguns lugares insistem em se elitizar, como os blocos em Salvador nos últimos anos.

No carnaval, o preto e o branco se confraternizam. O rico e o pobre se misturam, mesmo o primeiro impedindo que o segundo frequente “espaços” dele.

O carnaval é político também. Autoridades buscam participar, de uma forma ou outra, com o intuito de dar as caras, principalmente em ano eleitoral. Alguns colocam fantasias e vão para a avenida sacudir o corpo e depois dar declarações que ama o povo.

Mas também é espaço para manifestações, seja folclórica ou políticas. São cinco dias em que o País dá um tempo pra correria do dia a dia. Dá um tempo para notícias “ruins”. Dá um tempo para o baixo astral.

Só acaba na quarta feira de Cinzas, onde corpo e alma, se puder, pedem descanso e cama. Porém, nem sempre possível, pois a vida continua depois da Festa de Momo, ou começa como defendem alguns.

Este ano não haverá desfiles de escolas de samba e blocos de rua, seja em São Paulo, Rio de Janeiro e na Bahia. A pandemia ainda está contaminando, matando e a vacinação ainda está longe de imunizar a todos.

No entanto, há registros de que salões e clubes farão a festa, contrariando mais uma vez os cientistas e médicos que pedem não aglomerar, pois a Ômicron continua por aqui.

Mas mesmo sem eventos oficiais, muitos lugares serão feriados, ponto facultativo e o povo vai emendar, para descanso em viagens ou mesmo ficar em casa.

Praias cheias com certeza, já que nesta época do ano, o calor é intenso. E aí o perigo da Covid-19, ficar mais um pouco nos atormentando, apesar dos alertas para o isolamento social.

De qualquer forma, a máxima de que o País para na folia até tem uma certa razão. Pensamos que, após as festas de fim de ano, quase nada funciona, a não ser as chuvas que causam tragédias como a de Petrópolis com mais de 200 mortos e as lambanças de Bolsonaro.

Mas são as instituições públicas e privadas que fazem as coisas funcionarem, trabalham com o freio de mão puxado, com muita gente de férias ou acometido pelo vírus que mata, que tanto este início do ano, como em 2021, tiveram índices recordes de contaminação, em relação a outros meses do ano.

Mas o Rei Momo, mesmo trabalhando em fogo brando, termina o seu reinado nas cinzas e aí, com o tempo cristão, o ano começa para todos.

E com o inicio quaresmal, vem o mês das “Aguas de Março”, cantada por Elis Regina e Tom Jobim. As universidades voltam, os trabalhadores retornam de férias e do descanso da folia, o Legislativo no Brasil e o Supremo Tribunal dão o ar da graça funcionando 100%.

Mas, para partidos políticos, o mês é especial e importante, este ano de eleições. De acordo com a legislação eleitoral em vigor, a partir do dia 1º até o dia 31 de Março, está aberta a temporada de filiações e mudanças partidárias. É a famosa Janela de Transferência, que determina que um politico para disputar eleições deve estar filiado a um partido, no mínimo, seis meses antes do Pleito eleitoral.

Antes disso, quem estiver filiado e tem mandato eletivo não pode mudar de sigla, sob pena de perder sua cadeira seja no Legislativo, seja no Executivo.

Este ano temos uma novidade que pode alterar o cenário político no Brasil. O Congresso Nacional aprovou na minirreforma eleitoral a introdução das federações partidárias. Elas vêm para substituir as antigas coligações que, desde 2020, são proibidas no Brasil para o Legislativo.

Porém, a primeira diferença da federação com as coligações, é que a primeira deve prevalecer durante os quatro anos de mandato dos eleitos, com pena de punições ao político que sair do grupo na instituição legislativa.

As federações, que devem ser organizadas, levaram em consideração afinidades ideológicas e – estamos no Brasil -, conveniências eleitorais.

Pelo que estamos acompanhando, são as federações que irão definir candidaturas em suas chapas. Pelos critérios, o partido de maior bancada no Congresso Nacional tem maioria de candidatos, bem como quem disputa a reeleição em vaga garantida nas chapas.

Partidos sem representação no Legislativo tendem a não ter candidatos ou nem participarem de Federações, tendendo a lançar chapa própria. Além disto, os critérios de viabilidade de importância do Colégio Eleitoral continuaram prevalecendo nas federações.

Por isto que o mês de março é de suma importância, pois as filiações e os troca-trocas devem levar em consideração a composição das federações, que terão um prazo para concluir até junho. Assim, as articulações serão intensas e interessantes para acompanhar.

Este escrevinhador é simpático às federações, pois elas podem (ou não) construir estruturas partidárias fortes, orgânicas e que possam eliminar o fisiologismo, as conveniências, as siglas de aluguel, e etc.

Para todas e todos, um bom carnaval, mesmo sem folia.

João Geraldo Lopes Gonçalves é escritor e consultor político e cultural

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