Como uma compra de lanches terminou em tragédia em Limeira

Em relatório final entregue à Justiça nesta semana, a Polícia Civil concluiu as investigações sobre a morte do comerciante Allan Antônio da Silva, de 29 anos, no dia 15 deste mês no Parque Nossa Senhora das Dores I. O acusado do homicídio, R.P.A., de 24 anos, está preso. E tudo começou por conta de uma compra de lanches feita pelo irmão dele.

Uma semana antes da tragédia, o estudante de 27 anos, irmão de R., adquiriu lanches na lanchonete de Allan. A compra ficou em R$ 85 e o rapaz assinou e entregou um cheque no valor de R$ 200. Ele afirmou à Polícia Civil que o combinado era pegar o troco posteriormente. Três dias depois, o rapaz afirmou ter ido à lanchonete pegar o troco, mas o comerciante ainda estava com o cheque, que foi devolvido a ele com o pedido de que houvesse o pagamento do valor devido.

Na véspera do crime, os irmãos bebiam em um bar, que fica em frente à lanchonete de Allan no final do dia, quando, segundo relataram à polícia, o comerciante chegou gritando e pegou a bicicleta do rapaz que devia, como uma forma de pagamento da dívida. Não houve briga, como contou o acusado, que se queixou da forma como o comerciante teria abordado o irmão, com ameaça. Conforme o seu relato, isso “morreu ali”, sem briga. O irmão disse que receberia dinheiro no dia 20 seguinte e acertaria a dívida. Mesmo assim, Allan teria levado a sua bicicleta.

Os irmãos seguiram para uma festa. Na volta para casa, por volta de meia-noite, o acusado disse que encontrou com o sogro de Allan, conversou e disse que a discussão não precisava chegar naquele ponto. O sogro, de 52 anos, teria dito que todos estava errados e tentou apaziguar a situação. O encontro ocorreu na lanchonete, que pertence à filha. O homem disse a polícia que passou toda a madrugada tentando contornar a situação. Quando amanheceu, foi para a casa tomar um banho e, em seguida, voltou à rua novamente.

A situação não estava contornada. E não terminou bem.

O desentendimento

O acusado do crime passou a noite bebendo cerveja. Pela manhã, estava na rua de casa, quando teria encontrado Allan e este teria dito: “A hora que eu voltar eu te pego”. E foi embora. O ameaçado relatou à Polícia Civil que foi até a sua casa, pegou uma faca de cozinha, mas, nervoso, não ficou na residência e saiu à rua. Nesse momento, teria encontrado o sogro de Allan e falou: “Isso vai dar problema”.

O genro tinha ido até sua casa. Enquanto isso, o homem viu o rapaz, nervoso, com uma camiseta enrolada na mão e uma faca. Assustado, o homem tentou amenizar a situação, o acusado teria jogado a arma no chão, voltou a pegá-la e ficou por ali. O homem não sabia onde o genro estava e entrou no bar. Cinco minutos depois, quando saiu, Allan e seu algoz já estavam brigando a tapas.

O acusado contou que, ao ir para casa, Allan estava parado, bebendo cerveja. Foi quando ele fez movimento com a faca, indicando que estava com a arma. Disse a polícia que não fez ameaças. Foi quando Allan teria dado uma garrafada em seu olho. Na reação, ele deu a facada.

Quando Allan chegou próximo ao sogro, caiu no chão com uma perfuração no peito. O sogro iniciou uma massagem cardíaca e o genro teria retomado a consciência – um amigo o ajudou no procedimento. O homem decidiu ir atrás do acusado. Encontrou-o em casa, quando fugiu pulando o muro. A perseguição teria continuado no quarteirão debaixo, mas o acusado retornou à casa. Foi quando os policiais militares chegaram para capturá-lo.

O sogro de Allan, após ter saído atrás do algoz do seu genro, voltou ao local onde a vítima estava caída. Não havia mais nada fazer.

Depoimentos

O acusado contou à polícia que ficou sabendo da morte de Allan quando muitas pessoas apareceram em sua casa. Desesperado, tentou fugir. Insiste que só deu a facada como forma de defesa. “Os fatos só chegaram a esse ponto por conta dessa dívida”, disse em seu depoimento. Admitiu estar arrependido.

O rapaz que tinha a dívida com Allan contou que viu o irmão chegando em casa com a faca e, ao tentar tomar a arma, teria cortado os dedos. Ele não soube relatar onde foi parar a faca, que desapareceu.

O proprietário de uma barbearia, ali perto, contou que Allan apareceu no local por volta das 9h, pediu uma cerveja e ficou na rua. Ele ouviu as primeiras palavras do desentendimento e também viu quando Allan atirou a garrafa contra o acusado. Ambos se atracaram e houve a facada.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência foi chamado até à Rua Dr. Nilo Rodrigues da Silva, mas Allan morreu no local. Os primeiros PMs que chegaram receberam informações de populares e prenderam o acusado na garagem de casa. No dia seguinte, a pedido do Ministério Público (MP), o juiz Rudi Hiroshi Shinen decretou a prisão preventiva, como garantia da ordem pública. Ele permanece no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Piracicaba.

Com a entrega do relatório final, o Ministério Público (MP) vai analisar todas as circunstâncias para oferecer a denúncia contra R.P.A.. Como se trata de crime contra a vida, quem julga é o tribunal do júri. O caso foi registrado na Polícia Civil como homicídio qualificado por motivo fútil. Cabe ao MP apontar por qual crime R. deverá responder à Justiça.

Foto: Pixabay

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