Absorventes já e misoginia

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

A semana que passou foi mais uma daquelas de arrepiar cabelos neste Brasil onde parece que as pessoas endoidaram ou querem voltar ao tempo da Idade Média. Mais uma vez as mulheres preenchem o noticiário. Mais uma vez não é uma ode, homenagem a mulheres brasileiras por lutarem e conseguirem avanços significativos no campo da igualdade e do combate a desigualdade.

Pouco se fala neste País, pelo menos em parte das mídias tradicionais, de políticas afirmativas, exemplos positivos e textos que possam conscientizar e preparar o povo para se organizar em torno de seus direitos. O discurso retroativo toma conta de manchetes nos impressos, nos portais, no telejornalismo, no rádio e por aí vai.

Que o país da triste era de Bolsonaro na presidência é um baixo astral só, não temos dúvida: desemprego, fome, morte por Covid-19, sucateamento da educação e saúde, violência estatal e corrupção estampam nosso dia a dia.

Três notícias nos chamaram a atenção nesta semana envolvendo mulheres.

A primeira: o portal UOL trouxe uma matéria assustadora e que nos deixa muito preocupado. A cada cinco meninas, uma deixa de ir à escola, pois não tem como comprar absorvente no período menstrual. Pesquisa feita pelo Ensino Social Profissionalizante (Espro) dá conta de que ao menos 20% de garotas entre 14 a 24 anos se encaixam nesta situação.

Quando a pesquisa aponta meninas negras, cujas famílias têm renda de até dois salários mínimos, este número cresce para 24%. Ainda sobre a pesquisa, ela aponta que em boa parte dos locais de moradia não há banheiros com agua potável para higiene pessoal e muito menos a condição de alimentação é plena e permanente.

Esta semana seria votado no Congresso Nacional o veto do Presidente da República ao projeto aprovado no ano passado, que garantia a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de rua, lei de autoria da deputada Marilia Arraes (PT-PE).

Em Limeira, lei semelhante foi aprovada no ano passado, de autoria da vereadora Mariana Calsa (PL), que também disponibiliza a distribuição a mulheres em situação de vulnerabilidade dos absorventes. O veto deve cair e, sobre a lei municipal, não temos notícias de que está em vigor e sendo cumprida.

Absorvente é um artigo de importância vital às mulheres, não pode ser considerado um luxo e custa muito caro. Não tem como não criticar o Estado em todas as suas instâncias por não considerar a menstruação como política pública, portanto, seu atendimento deve ser gratuito e atender a todas.

Outro fato é local, aqui de Limeira (SP), aconteceu no bairro onde este escrevinhador mora, o Jardim Vista Alegre.

Um homem foi pego em flagrante por populares se masturbando na Avenida Luís Varga, anel viário da cidade. Em vários perfis das redes sociais as pessoas comentaram o fato. Lamentavelmente, algumas postagens trazem caráter machista, misógino e violento. O clássico comentário de que o macho comete este assédio porque as mulheres não se dão o respeito foi constatado, infelizmente.

Deixei para comentar por último os comentários do sempre presente (que triste, né), nos besteiróis e na violência aos pobres e em especial às mulheres, o Zero Três. Falo do deputado Eduardo Bolsonaro que, ao comentar o acidente em que obras do metrô em São Paulo que tiveram deslizamento de terra, criando uma cratera gigante na marginal Tietê, atacou as engenheiras responsáveis pelo projeto.

Foram duas falas. A primeira dizendo que a culpa do deslizamento é o fato da empresa contratar mulheres para o trabalho. Depois, a violência foi maior ao dizer que a culpa das mulheres no mercado de trabalho é de homens frouxos.

Eduardo tem sido criticado mais uma vez por quase todos os segmentos da sociedade. Porém, em Limeira, não vimos até o presente nenhum posicionamento da bancada do Partido Liberal, agremiação do pai do sujeito e que será o dele em março.

O PL em Limeira tem duas particularidades em relação aos demais na cidade. Tem o deputado federal Miguel Lombardi, que também não se manifestou, e metade das vereadoras da Câmara Municipal.

Na última segunda feira em sessão plenária, a vereadora Isabelly Carvalho (PT) cobrou veemente posição das três vereadoras do PL – Mariana Calsa, Lu Bogo e Terezinha da Santa Casa -, bem como da vice-prefeita Érika Tank, que não permitissem que discursos misóginos, como o de Bananinha, fossem tolerados, ainda mais em se tratando de futuro filiado e membro da bancada de apoio do governo em que o presidente é do PL.

Penso que é preciso começar a ter tolerância zero com atitudes que ferem a Constituição, a declaração dos Direitos Humanos e a dignidade das pessoas. Não é Liberdade de expressão discriminar, exalar preconceito e misoginia. É crime, que não se combate sem punir nas barras da lei.

Confesso e defendo que uma educação baseada em direitos fundamentais deve ser trabalhada desde a tenra infância, inclusive a igualdade de gênero. Mas a impunidade não pode prevalecer, em especial para autoridades publicas, como Eduardo Bolsonaro.

Ufa, espero que no mês que vem, dedicado às mulheres possamos neste espaço dar notícias esperançosas e afirmativas.

Mas por enquanto….

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.