A execução de Jesus

Por Ronei Costa Martins Silva

Às 15h de hoje, a tradição cristã católica faz memória da morte de Jesus após, como sabemos, um extenso processo de tortura que culminou com a sua crucificação.

Para nós, cristãos, este evento encerra o domínio da morte sobre a vida e religa, definitivamente, a humanidade a Deus. Sua morte rasgou o véu do Templo, que separava a humanidade da presença divina.

Na época do império romano, as crucificações eram muito comuns. Há registros históricos de até duas mil cruzes com seus condenados pendurados nelas, ao longo da via Ápia, uma das mais famosas estradas do período. No ano 67 antes de Cristo, o escravo romano e gladiador Espártaco, foi crucificado após liderar uma das maiores revoltas contra o Império Romano.

A morte de cruz era uma condenação exclusivamente destinada aos crimes de sedição, ou seja, uma espécia de revolta política contra o Império. Todo aquele que ameaçasse o trono de César, deveria sofrer a morte de cruz.

Visando coibir outros revoltosos, tal humilhação seguida da morte era aplicada com a ostentação pública do condenado. Mesmo morto, o condenado continuava exposto por dias seguidos, até que suas partes fossem dilaceradas por aves de rapina e cães selvagens. Uma exemplar execução, para intimidar quaisquer outros motins.

A tradição diz, entretanto, que Jesus teve outro destino. Por meio da bondade de um certo Arimatéia, Jesus foi retirado da cruz e destinado a uma sepultura familiar, algo raro entre os despossuídos.

Um fato intrigante e eivado de certa contradição refere-se ao tipo de morte imposta a Jesus. Há um movimento histórico para isentar o Império Romano da responsabilidade sobre sua morte, ao mesmo tempo que acontece uma forçosa responsabilização sobre os judeus.

Como a consolidação dos evangelhos se deu a partir do ano 70, após a guerra judaica, na qual os judeus e também Jerusalém foram aniquilados pelo exércido romano, pode haver neste fato histórico alguma influência para o fato de se rer isentado Roma e culpabilizado os judeus.

Um dado importante, entretanto, pode esclarecer e reposicionar os atores daquele ato de execução de Jesus.

José Pagolla, teólogo espanhol, em seu livro ‘Jesus, aproximação histórica’ nos mostra que, conforme consta no códico legal dos Judeus, no livro Levítico, se Jesus tivesse mesmo sido condenado por blasfêmia, como tentam nos fazer acreditar para isentar Roma, Ele teria sido condenado à morte por apedrejamento.

Ocorre que, como sabemos, Jesus sofreu a morte de cruz, condenação exclusivamente destinada aqueles que lideram lutas políticas contra o Império Romano, tal como acontecera com Espártaco, seis décadas atrás.

Este dado, segundo Pagolla, pode nos mostrar uma nova perspectiva sobre as motivações da execução de Jesus e, mais ainda, apresentar uma dimensão do Mestre que muitos de nós não aceitamos: Jesus como uma liderança política, contra o Império e a favor dos despossuídos.

Hoje, rememoramos a entrega de sua vida em favor da vida plena para todos. E somos convidados a algo ousado e profético: seguir seus passos!

Ronei Costa Martins Silva – é arquiteto e urbanista e pós graduado em arquitetura e arte sacra. Possui diversas obras de arquitetura sacra espalhadas por São Paulo e outros três estados. Em 2018 foi convidado para presentear o Papa Francisco com uma obra sua, a Cruz da Esperança. Possui onze obras de arquitetura selecionadas para Mostras Nacionais, sendo duas em 2017 e nove em 2019.
Também é pesquisador da máscara do palhaço há 22 anos, tendo atuado em hospitais, presídios e outros espaços de vulnerabilidade social. É pai do Benício.

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