Retratos Fantasmas: O Brasil em busca do Oscar

por Farid Zaine
@farid.cultura

No sábado, dia 09, fui com um amigo a Campinas para ver o novo filme de Kleber Mendonça Filho, “Retratos Fantasmas”. Eu disse a ele que precisava ir, porque no dia 12 o longa seria o escolhido para representar o Brasil no Oscar 2024. Não deu outra: na terça-feira a Comissão de Seleção da Academia Brasileira de Cinema e Audiovisuais, responsável pela escolha do nosso concorrente a uma vaga entre os finalistas da categoria Melhor Filme Internacional, optou pelo documentário do cineasta pernambucano.

Por que eu tinha essa certeza? Simplesmente porque eu gosto demais de três dos mais aclamados filmes de Mendonça Filho, “Aquarius”, “O Som ao Redor” e ”Bacurau”. “O Som ao Redor” representou o Brasil em 2014, mas não chegou aos finalistas. Uma grande chance viria com “Aquarius”, mas uma interferência política tirou o filme do páreo, e ele foi preterido, sendo indicado um filme menor, “”Pequeno Segredo”, em 2017. Em 2020, “Bacuraru” teve grande visibilidade por ter vencido o Prêmio do Júri em Cannes daquele ano, mas “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, também havia sido laureado na mesma edição, levando o prêmio principal da mostra “Um Certo Olhar”, o segundo prêmio mais importante de Cannes. Na disputa interna aqui no país, “A Vida Invisível”, um belo filme, levou a melhor e foi representar o Brasil, mas não chegou aos finalistas.

Agora, em 2023, Kleber Mendonça Filho ganha uma nova chance de levar o Brasil ao Oscar. Seu documentário “Retratos Fantasmas” reúne todas as qualidades para isso. Nele a obra do próprio diretor está bem presente, principalmente quando ele mostra a casa da mãe em que parte de “O Som ao Redor” foi filmada, no bairro conhecido como Setúbal, em Recife. A casa é lembrada e mostrada em suas transformações ao longo do tempo. O forte, contudo, são as histórias e imagens guardadas pelo diretor sobre os cinemas de rua de Recife. O que vemos no capítulo 2 do filme é uma viagem pelos grandes e luxuosos cinemas da capital pernambucana, num passeio pela memória de Mendonça Filho e pela própria história da cidade e do país.

Ao mostrar imagens do tempo das imensas e glamurosas salas de exibição ,confrontando-as com as cenas atuais de abandono e destruição delas, o diretor nos remete a um exercício de nostalgia e , ao mesmo tempo, de conexão com uma fase da história do país e do mundo a partir da transformação inevitável trazida pela modernidade e pelos novos hábitos da sociedade, quando os cinemas foram relegados aos multiplex dos shopping centers. Quantos dos luxuosos cinemas de rua não tiveram o mesmo destino, o de virar templos evangélicos, lojas, estacionamentos, ou simplesmente terem se transformado em ruínas?

Com passagens belíssimas por sua trajetória no cinema e pelas suas memórias sobre os cinemas de rua de Recife, enriquecidas pelas contribuições que recebeu de outras pessoas e de suas pesquisas, Kleber Mendonça Filho entrega ao público um documentário que deve conquistar o público, principalmente aquele formado por cinéfilos. Tomara que conquiste também os membros da Academia de Cinema de Hollywood. Afinal, eles estão entre os maiores apaixonados pela sétima arte, e devem ser tocados pela visão poética, sentimental , crítica e muito bem montada , que é que vemos nos “Retratos Fantasmas” de Kleber Mendonça Filho.

RETRATOS FANTASMAS: Documentário de Kleber Mendonça Filho –Brasil, 2023 – em cartaz nos cinemas.
Cotação: ***** ÓTIMO

Foto: Reprodução

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