A Noite das Bruxas: o longevo fascínio pela obra de Agatha Christie

por Farid Zaine
@farid.cultura

Agatha Christie leva seu indefectível detetive Hercule Poirot a lugares exóticos e que, não raro, já inspiram mistérios. Entrar na pele de Poirot tem sido um belo exercício para o já consagrado ator e diretor Kenneth Branagh. Com uma carreira longeva que reúne sucessos populares, acenos quase sempre generosos da crítica e muitos prêmios, Branagh parece estar se divertindo muito ao ser identificado como uma das personagens mais icônicas da história das tramas policiais.

Ao ver anunciada uma nova adaptação de algum clássico de Agatha Christie com Branagh, o público já começa a se preparar para ver uma obra no mínimo visualmente luxuosa, paisagens belíssimas, figurinos e direção de arte exuberantes. Tem sido assim desde “O Assassinato no Expresso do Oriente”, de 2017, em que a ação se passa durante uma viagem num trem de luxo, em que ocorre um assassinato. Claro, as suspeitas caem sobre os passageiros, todos com aparentes motivos para ter cometido o crime, como é do costume da autora colocar em seus livros. Branagh dirigiu esse filme, e também como sempre, contou com participações de peso no elenco, como Judi Dench, Johnny Depp, Daisy Ridley, Michelle Pfeifer, Penelope Cruz e Willem Dafoe, entre outros.

Depois do Expresso do Oriente foi a vez de Hercule Poirot, na pele de Branagh e dirigido por ele, embarcar em outra viagem luxuosa, agora num cruzeiro muito glamuroso pelo Egito: nesse cruzeiro a lua de mel de um casal é interrompida por um assassinato e, naturalmente, começa a busca meticulosa de Poirot por indícios que levem ao criminoso. Esse é “Morte no Nilo”, de 2022, também visualmente impecável e com outro elenco estelar onde se destacam Armie Hammer, Gal Gadot, Annette Benning, Tom Bateman e Leticia Wright.

Agora em 2023 chegou a vez de Poirot ir para Veneza. Com “A Noite das Bruxas”, Agatha Christie leva seu detetive para a paisagem sempre tão cinematográfica da cidade italiana e seus canais. Veneza já tem um ar misterioso tantas vezes explorado no cinema. Lembremo-nos do instigante e inovador “Inverno de Sangue em Veneza” , um filme de 1973 com Donald Sutherland e Julie Christie. E , naturalmente, é impossível falar de Veneza na tela grande sem mencionar a maior obra-prima que tem a cidade como cenário, o clássico absoluto “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti, baseado na obra homônima de Thomas Mann e que celebrizou o sublime Adaggietto da 5ª Sinfonia de Mahler. Mas isso é outra história.

A Veneza visitada por Poirot é outra bem diferente, embora também tenha a morte muito presente, mas em outro contexto. “A Noite das Bruxas” repete a fórmula de ter um cenário exótico, direção de arte rebuscada, embora a fotografia exagere na preferência pela escuridão, pois a maior parte da trama é desenvolvida à noite dentro de um “palácio” decadente. Poirot agora precisa lidar com uma inusitada combinação: além de crimes a serem desvendados  numa imensa e lúgubre mansão, uma questão é colocada: o espaço seria possuído por espíritos inquietos que teimariam em assombrar a residência, talvez assim esclarecendo a trágica morte de uma garota, tratada como doente e possivelmente deprimida pela ruptura do noivado com o amor de sua vida.

Claro que todos os possíveis envolvidos  na história dessa morte estranha estarão reunidos na casa, com a presença de Poirot. Uma “sensitiva”, papel de Michelle Yeoh, tentará criar um clima de credibilidade para a história, mas novos fatos passam a acontecer, e não há como continuar sem dar spoiler, o que não é nada recomendável em se tratando de filme desse gênero, apesar de não ser tão difícil decifrar logo a trama toda.

Kenneth Branagh continua se divertindo com a criação de Agatha Christie. E, pelo fato de já estar no terceiro filme como Hercule Poirot, provavelmente as bilheterias têm sido generosas. Resta saber qual será a próxima obra da “rainha do crime” a ser adaptada pelo diretor e roteirista  de “Belfast”.

A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice – EUA, 2023) – Dirigido e interpretado por Kenneth Branagh – em cartaz nos cinemas

Cotação: *** BOM

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