Precisamos avançar com políticas de prevenção e não de legalização de mais drogas

por Tony Almeida

Atuo na prática da prevenção ao uso e abuso de drogas há mais de 20 anos, fui membro do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas (Comad) em Limeira por dois mandatos, Conselheiro da Saúde e com atuação direta na área de prevenção na indústria, escola, igrejas e projetos dentro de comunidade terapêuticas e clínicas para tratamento de dependência química.

Sou conselheiro em dependência química pela Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas (UNIAD), em parceria com a UNIFESP, especialista em prevenção com cursos pela UNIFESP, UFSC e ISSUP – Sociedade Internacional de Profissionais de Prevenção.

A indústria da Cannabis, chamada de medicinal, a cada dia ganha mais espaço em nossas mídias e isso só faz aumentar a sensação de que a maconha é uma droga inofensiva e que só tem benefícios. Isso não é verdade.

Das 400 substâncias encontrada na Cannabis, apenas o CDB (Canabidiol) tem se mostrado eficiente em alguns tratamentos e os estudos e as evidências científicas precisam avançar. É certo que, para termos remédios à base de canabidiol, a indústria farmacêutica poderá desenvolver em laboratório essa molécula isolada e não precisaremos ter milhares de hectares de plantação de maconha para ter os benefícios do CDB.

O Captopril é feito à base do veneno da jararaca e os hipertensos não andam com uma cobra no bolso, e assim poderia citar outros exemplos.

Os males que a legalização traz são muito maiores que o benefícios, basta buscar informações dessa política no Uruguai. No ano em que o comércio da maconha teve início, os homicídios tiveram uma alta de 5,6% (puxados exatamente pelos meses pós-legalização) em relação a 2016. De 2017 para 2018, o salto foi de impressionantes 45,8%. Segundo o governo, metade desses assassinatos está relacionada com o tráfico de drogas (fonte: Gazeta do Povo). Nos Estados Unidos, por mais que o setor legal tenha crescido, ainda é pequeno em comparação com as vendas ilícitas, que totalizaram US$ 65 bilhões em 2020 em todo país. E essas vendas clandestinas não se limitaram a estados onde a maconha continua ilegal. Mesmo na Califórnia, primeiro estado a aprovar seu uso para fins medicinais em 1996, até 80% das vendas de maconha permanecem à margem da lei (fonte: gauchazh).

A maconha é extremamente perigosa aos nossos jovens, adolescentes e precisamos avançar com políticas de prevenção e não de legalização de mais e mais drogas. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Copenhague, com mais de 7 milhões de pessoas na Dinamarca, apontou que o uso de cannabis pode aumentar em até quatro vezes o risco de desenvolvimento de esquizofrenia.

O estudo é considerado o maior já feito sobre a droga e foi publicado na respeitada revista JAMA Psychiatry, analisando os dados obtidos em bases de departamentos médicos e psiquiátricos de 7.186.834 dinamarqueses, que completaram 16 anos de idade em algum momento entre 1° de janeiro de 1972 e 31 de dezembro de 2016, sendo 50% mulheres e 50% homens. Foram analisados todos os fatores de risco para o desenvolvimento da esquizofrenia, sendo detectado que o uso de cannabis para automedicação como causa foi quatro vezes maior, na comparação com pessoas com o transtorno relacionado a outros motivos, que permaneceram estáveis (fonte: spdm).

Sem acrescentar outros danos que o usuário desenvolver, fica a pergunta: a quem interessa a liberação das drogas? Prevenção é chegar antes, agir com antecipação, então precisamos ensinar nossas crianças e os mais jovens a tomar boas decisões sempre. Não é fácil, mas precisamos começar.

Tony Almeida é conselheiro em dependência química pela Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas (UNIAD)

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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