Golpe do amor: como um falso investidor de Limeira iludia namoradas e amigos para embolsar dinheiro

Um falso investidor, D.S.M., 32 anos, que se identificava como diretor da XP Investimentos, e enganou pelo menos 15 mulheres que conheceu pela internet em vários estados brasileiros e no exterior ficou conhecido também como “golpista do amor”, é de Limeira. Já faz uns meses que veículos de comunicação de abrangência nacional falam deste homem, que foi identificado na última sexta-feira (23), em Balneário Camboriú, onde aplicava outro golpe e foi preso.

Apesar do flagrante, o suspeito responderá em liberdade. Na delegacia do estado catarinense, de acordo com reportagem do portal UOL desta segunda-feira (26), os policiais identificaram que trata-se de um famoso estelionatário que fez vítimas em Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e até em Portugal.

Investigações também estavam em andamento no Rio de Janeiro e, ao ser identificado o local de moradia do suspeito, a Justiça de Niterói determinou que os autos fossem encaminhados a Limeira. Em 8 de março, o juiz João Guilherme Chaves Rosas Filho acolheu o pedido da promotora Martha Pires da Rocha Hisse. “A competência para processar e julgar os crimes de estelionato ocorridos mediante transferência bancária é do local onde se situa a agência recebedora da vantagem indevida, porém, considerando que o NuBank é uma Fintech, conhecida como banco digital, que não possui agências físicas, não seria possível afirmar o local exato onde teria ocorrido a obtenção da vantagem ilícita no caso em tela. Assim sendo, considerando a impossibilidade de verificar o local em que foi obtida a vantagem ilícita, deve ser observado o disposto no artigo 72 do CPP [Código de Processo Penal], para fixar a competência para processamento e julgamento do crime ora em apuração, qual seja, o domicílio ou residência do investigado”.

O endereço do suspeito também foi enviado à Justiça de Limeira, que deverá encaminhar os autos ao Ministério Público local para andamento das investigações.

Neste processo, constam 3 depoimentos de vítimas e a confirmação da XP Investimentos de que o homem não integra o corpo de colaboradores da empresa.

Como as vítimas caíam no golpe do falso investimento

Em Niterói, investigação foi instaurada contra D. pelo conhecido artigo 171 do Código Penal por 3 vezes. Lá, as vítimas foram uma namorada e um casal de amigos. Os crimes ocorreram entre os meses de setembro de 2020 e janeiro de 2021.

Foi apurado que D. afirmava exercer uma função de diretor no Banco XP Investimentos, teria obtido vantagem indevida num total de R$ 183.560 apenas deles. Ele fazia falsa proposta de investimentos com alta rentabilidade. Para concretizar as transações, as vítimas deveriam transferir os valores para a conta dele.

Assim, por diversas vezes, os lesados realizaram transferências bancárias para o homem, acreditando que ele efetivava os investimentos propostos, o que não aconteceu. Veja trechos dos depoimentos:

Depoimento 1
Moradora de Niterói, em razão de uma oportunidade de trabalho se mudou para São Paulo em novembro de 2019, quando conheceu D.S.M. por meio de um aplicativo de relacionamentos; eles saíram, se distanciaram e, em agosto de 2020, reataram. Por isso, D. foi incluído no grupo de amigos.
Ele se apresentou aos amigos como quem trabalhava no Banco XP em um cargo alto e sempre atendia ligações de supostos clientes e, às vezes até do CEO da XP. A moça disse à polícia que observava que o telefone tocava, mas nunca ouviu a voz de qualquer interlocutor.
O homem ia ao apartamento dela, mas ela nunca conheceu o local de moradia dele, que afirmava ter 3 apartamentos. Quando o homem ia para RJ, ficava em Copacabana, no Atlantico Hotel. Por diversas vezes, o hotel era pago pela namorada e, depois, reembolsado por ele; o mesmo acontecia com passagens aéreas.
Ele dizia que não possuía cartão de crédito, pois suas economias estariam em um banco em Portugal e que ele não estaria conseguindo fazer a remessa para o Brasil devido ao bloqueio que a ex-mulher havia providenciado em suas contas. Como suposta ex-mulher, ele citava à namorada o nome conhecido de uma mulher da alta sociedade de Limeira.
Vários outros detalhes foram contados pela então namorada à polícia do RJ. No caso dela, o total tranferido, em diversas ocasiões, foi de R$ 73.560

Depoimento 2
O segundo depoimento foi de uma amiga da então namorada. Além dos detalhes de como conheceu D., informou que o rapaz, ao se identificar, era muito articulado e envolvente, nunca tendo despertado qualquer desconfiança da declarante, de seu companheiro, de outros amigos e mesmo da então namorada.
Após muitas conversas sobre investimento, ele afirmou que na XP havia um fundo restrito a funcionários de alta rentabilidade, mas que não poderia dar acesso à lâmina ou portfólio, já que era restrito; que ele se prontificou a abrir uma conta na XP no CPF do namorado da amiga, e fazer o referido investimento, mas que os valores deveriam ser transferidos para sua conta pessoal através da conta da namorada.
Só a amiga transferiu o total de R$ 75 mil. Ele informava altos rendimentos, mas não dava acesso e tentava ganhar tempo.

Depoimento 3
Da mesma forma, o namorado da amiga declarou ter sido vítima. Ele transferiu o total de R$ 35 mil. Ele confirmou todas as informações apresentadas pela namorada e amiga e contou também que foi naquela semana (segunda semana de janeiro deste ano), que foram alertados sobre a possibilidade de terem caído num golpe e, por isso, procuraram a polícia.
Uma amiga da então namorada de D., de São Paulo, contou que caiu num golpe e que havia um grupo de vítimas deste homem. Foi, então, que todos souberam que não se tratava de investidor e passaram a realizar pesquisas. Identificaram que tratava-se de pessoa que responde por estelionato em vários lugares. O amigo entendeu que a então namorada foi usada e que todos caíram em golpe.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.