Conexão Amazônica: como Limeira integra rede de crimes que abalam a maior floresta tropical

Desmatamento ilegal, extração ilegal de madeira, grilagem de terras públicas, agropecuária com passivo ambiental e mineração ilegal. Estes crimes integram um ecossistema de infrações ambientais na Amazônia, formado por 262 cidades onde ocorreram crimes ambientais e conexos que viabilizam a atividade ilícita na maior floresta tropical do mundo. E Limeira aparece na lista de territórios que integram ao menos duas redes de crimes: a mineração ilegal e a extração ilegal de ouro.

Os dados foram compilados em estudo e publicados neste mês pelo Instituto Igarapé. O artigo é intitulado “Territórios e Caminhos do Crime Ambiental na Amazônia Brasileira: Da Floresta às demais Cidades do País”. O texto aponta que o ecossistema de crimes é um dos grandes responsáveis pelo atual nível de desmatamento e degradação da Floresta Amazônica. Na raiz do problema, está um conjunto de atividades econômicas realizadas na floresta de forma ilegal e com alto impacto socioambiental. Atividades que não se limitam à região e se ramificam pelas cidades brasileiras.

O estudo analisou mais de 300 operações deflagradas pela Polícia Federal (PF) nos últimos anos. “A extensão e capilaridade do ecossistema do crime ambiental na Amazônia atesta a participação de outras localidades e atores de fora do espaço amazônico nestas cadeias ilícitas”, diz o documento.

Limeira é citada em dois ecossistemas de crimes que abalam a Floresta Amazônica. O estudo identificou um conjunto de cidades pequenas e médias que ocupam cada vez mais papel relevante nas cadeias dos diferentes recursos naturais extraídos ilegalmente de áreas de floresta.

Nesta cadeia, participam 16 municípios paulistas que estão mencionados em operação de combate à mineração ilegal. Diz o Instituto Igarapé: “Nota-se também a presença de um conjunto de cidades médias do interior paulista conhecidas por serem plos agropecuários do estado, como São José do Rio Preto [três menções], Araçatuba e Limeira [duas menções cada]”. Na região, foram mencionadas as cidades de Cordeirópolis e Piracicaba.

Limeira também aparece entre os caminhos do ouro, especialmente por conta da Operação Ouro Perdido, deflagrada em 2019 pela Polícia Federal no Amapá. A investigação foi feita em conjunto com a Receita Federal, Ministério Público Federal, Força Aérea e o Exército. O que foi descoberto? “Um total de oito territórios entre aqueles ligados ao crime ambiental da extração ilícita de ouro no Amapá e nos países vizinhos e os territórios que participam do ecossistema como locus de comercialização do ouro: outras cidades amazônicas [Macapá e Itaituba] e não-amazônicas [Goiânia e quatro cidades do estado de São Paulo: Jundiaí, Limeira, Guarulhos e São Paulo]”.

Na época, as investigações apontaram para uma associação criminosa liderada por garimpeiros brasileiros na Amazônia. O ouro era vendido para pessoas físicas e jurídicas em diversas regiões do Brasil. Entre 2012 e 2017, o valor das operações de compra e venda de ouro alcançou aproximadamente R$ 145 milhões.

“Ao mapear estes caminhos dos recursos naturais e commodities da Amazônia para o mundo, o estudo demonstra de maneira inequívoca que o Brasil participa do crime ambiental na Amazônia, ilustrado pela centralidade de alguns estados do Centro-Oeste e do Sul em quase todas as economias ilícitas ou com ilicitudes da floresta, e sobretudo na cadeia produtiva do ouro”, conclui o estudo.

Nas considerações finais, os pesquisadores do estudo – Laura Trajber Waisbich, Terine Husek e Vinicius Santos – fazem o seguinte apontamento: “Tais achados apontam para a urgência no aprimoramento de mecanismos de regulação da comercialização de recursos naturais e florestais na Amazônia, bem como de detecção, investigação e persecução de crimes de dimensão econômica, tributária e financeira. A presente análise também reforça a tese de que os processos de destinação de florestas públicas para uso compatível com a manutenção da floresta em pé são também importantes no eixo de comando e controle e combate à ilegalidade, pois geram uma maior atenção de órgãos como a Polícia Federal”.

Foto: Polícia Federal/Arquivo

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