Cinema na Páscoa: Jesus é a grande estrela

por Farid Zaine
@farid.cultura

A grande estreia temática na semana passada foi a de “The Chosen” (Os Escolhidos), cujos episódios 1 e 2 da quarta temporada da série da Netflix foram unidos num longa que chegou aos cinemas brasileiros . “The Chosen”, com direção de Dallas Jenkins e com Jonathan Roumie no papel de Jesus, mostra a história do nazareno sob a perspectiva daqueles que conviveram com ele. Está também nas salas da cidade. Oportuna, a estreia supre a falta de um grande espetáculo bíblico.

A vida, Paixão e Morte de Jesus são temas inesgotáveis para a tela grande, que os tem tratado bem ou mal desde os primórdios de seu surgimento. Lembremo-nos de alguns que cumpriram bem a tarefa:

Ben-Hur – o clássico dos clássicos, um dos mais belos filmes de todos os tempos, dirigido por Wylliam Wyler, vencedor de 11 Oscars, record que manteve por mais de 40 anos, até a chegada de “Titanic” e depois “O Retorno do Rei”, que igualaram mas não superaram essa marca. Nunca é demais ver e rever esse drama estrelado por Charlton Heston e Stephen Boyd, protagonistas como Ben-Hur e Messala, respectivamente, dois amigos de infância que se tornam inimigos mortais. A corrida de Bigas, de enorme impacto e de um preciosismo técnico nunca visto na época, é uma das sequências mais celebradas da história do cinema. Quem a vê hoje não consegue imaginar filmagem e montagem dessa natureza feitas em 1958, sem os recursos tecnológicos da atualidade. A história de Jesus é paralela, seu rosto não é mostrado, mas é a que garante os momentos mais comoventes. Aliás, uma novidades do ano de 2016 foi o lançamento da nova versão de “Ben-Hur”, e nesta Jesus ganhou um rosto, e é o de nosso brasileiro Rodrigo Santoro, atualmente fazendo sucesso na última temporada de “Bom Dia, Verônica”.

“A Maior História de Todos os Tempos” – Grandioso drama dirigido por George Stevens, com Max Von Sydow e Carrol Baker. O filme, de 1965, ano em que foi indicado a 5 Oscars, tem três horas e 19 minutos de duração. Foi restaurado para a recomposição de sua beleza, e ainda tem no elenco Charlton Heston e ngela Lansbury. Carrol Baker, aqui a intérprete de Verônica, foi a linda freira/cigana apaixonada por Roger Moore em “O Milagre”, um drama romântico de 1959 com fundo religioso e que fez enorme sucesso popular .

“O Rei dos Reis” – Grandes diretores sempre se interessaram pela vida de Cristo. Um deles foi Nicholas Ray que, em 1961, convocou o ator Jeffrey Hunter para interpretar Jesus, depois da recusa de Richard Burton, a quem tinha sido oferecido o papel. O filme só ganhou, pois os olhos claros de Jeffrey passaram a ser uma marca dessa obra magnífica, com trilha sonora antológica de Miklos Rozsa, o grande compositor de música para cinema, vencedor de três Oscars, incluindo a espetacular trilha de “Ben-Hur”. Jeffrey Hunter morreu cedo, aos 43 anos, vítima de um acidente: ele caiu de uma escada e fraturou o crânio. O Jesus dele é considerado o mais belo do cinema.

Depois vieram muitos outros filmes sobre a vida de Cristo, alguns polêmicos como o belo “A Última Tentação de Cristo”, ousada incursão de Martin Scorsese pelo universo bíblico, e o genial “O Evangelho Segundo São Mateus”, de Píer Paolo Pasolini, que ganhou o prêmio do Ofício Católico no Festival de Veneza.

Com uma violência explícita e que causou também grande polêmica, surgiu a versão de Mel Gibson para o tema, simplesmente chamada “A Paixão de Cristo”. As cenas de grande impacto sobre a tortura a que Jesus foi submetido causaram grande comoção no mundo inteiro, dividindo as opiniões. Falado em aramaico e latim, o filme tem ótima trilha sonora composta por John Debney e Gingger Shankar, com Jim Caviezel no papel de Cristo, literalmente dilacerado diante das câmeras.

Há ainda diversas versões para a vida de Jesus no cinema, um tema inesgotável. E o gênero musical não deixaria de fora essa história excepcional. Com criatividade, bom gosto e um olhar crítico, pelo menos dois musicais surgidos nos anos 1970 fizeram e fazem ainda muito sucesso, tendo deixado suas marcas nas telas: “Jeus Cristo Superstar”, dirigido por Norman Jewison, e “Godspell – A Esperança”, de David Greene.

A maior história de todos os tempos, contada de formas diferentes pelos olhares dos diretores do cinema, está ao alcance de todos. Nada como esse período para voltar a ela, seu encantamento, seus mistérios e o fascinante exercício de reflexão que ela possibilita que façamos.

*As três primeiras temporadas de “The Chosen” podem ser conferidas na Netflix, e os dois primeiros episódios da quarta estão nos cinema. Os outros títulos mencionados podem ser facilmente encontrados no streaming.

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