Via Crucis

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Quando o fascismo vier, virá enrolado em uma bandeira e carregando uma cruz” (Autor Desconhecido)

Hoje, Sexta Feira da Paixão, os cristãos relembram a paixão e morte de Jesus Cristo. Cerimônias e atividades lembram as horas em que o filho de Deus, carregando uma cruz rumo a sua morte, tem como ponto alto o sacrifício em prol da salvação da humanidade.

Para biblistas e especialistas, Cristo precisava ser assassinado para que o ser humano buscasse saída para si próprio. O sacrifício pode ser compreendido de várias formas:

  1. Entregar-se a dor como meio de se fazer exemplo de humildade e compaixão;
  2. Um sacrifício para unificar as pessoas em torno daquele ato;
  3. Só é mártir quem se sacrifica pelo outro;
  4. Oferece a outra face, é um dos ensinamentos do Salvador;
  5. A Ideologia do sacrifício, risca do mapa, a ideia de felicidade;

Bom, o leitor deve notar que este escrevinhador tem seus quês com estas concepções de sacrifício. Não penso que se sacrificar não tem objetivos coletivos e apenas de dolo e perdas, é masoquismo e só interessa aos detentores do poder, em especial econômico e político.

O sacrifício de Jesus Cristo ao morrer na cruz nos traz o ensinamento e a mensagem de uma proposta clara de Reino de Deus. Um Reino onde não haja a exploração de um ser sobre o outro, onde muitos têm nada e poucos concentram tudo.

O sacrifício de Jesus não foi para que ninguém sinta dor e sofra para pós-morte ir para o Reino dos céus. O Nazareno deixa a mensagem do aqui e agora, tanto que, na conversa com Pedro no monte das Oliveiras, ele entregou a chave de seu reino ao discípulo, para que ele edificasse esta ideia.

O sacrifício de Cristo não tem nada a ver com a política do sacrificialismo do capitalismo. O sacrificialismo é o aceitar condições de opressão, achando que ou é isto ou é nada. É concordar com as desigualdades de classes sociais. É aceitar quieto o preconceito e a discriminação. O sacrificialismo de dizer sim senhor e nunca não ao senhor. Passar fome e dizer que é vontade de Deus.

O sacrifico do Cristo não é individualizado ele nos aponta o caminho da solidariedade, da fraternidade, da paixão e da vida. Jesus Cristo não morreu para pregar a morte como salvação e sim como continuação da vida. A vida é um novo mundo, que substitui a morte proposta pelo velho mundo.

Assim a via crucis, ou o Caminho da Cruz, é o novo rompendo com o velho, é o sacrifício esmagando o sacrificialismo.

Abaixo buscamos dar as 14 estações da Via Crucis Cristã, nossa visão para os dias atuais.

1ª Estação: A morte pede carona na vida dos pobres os condenando a fome e a miséria.

2ª Estação: A cruz é carregada todo o momento que uma mulher sofre feminicidio e um negro é discriminado.

3ª Estação: O povo pobre e preto cai toda vez que é violentado em seus direitos.

4ª Estação: As pessoas se encontram e se descobrem como protetoras umas das outras.

5ª Estação: Quando um estende a mão aos outros.

6ª Estação: Quando o afeto das mulheres contamina os homens.

7ª Estação: O povo cai muitas vezes, mas se levanta outras tantas.

8ª Estação: Quando mulheres e homens comungam dos mesmos sonhos.

9ª Estação: Cair faz parte de uma vida de luta, mas a volta por cima também.

10ª Estação: Quando a força de trabalho é roubada e rasgada pelo capital.

11ª Estação: Todos os dias veem cruzes de nosso povo. Mas seu sacrifício é de todos.

12ª Estação: A cada preto morto por sua cor, uma mulher morta por sua condição, um LGBTQ + violentado, o Cristo dos pobres morre também.

13ª Estação: Uma mão estendida à outra faz a força e levanta as lutas.

14ª Estação: O velho mundo pode ser sepultado, com o advento e ressurreição do novo mundo.

Que o dia de hoje seja sempre de reflexão da cruz, não como sinônimo de sofrimento e morte. Mas pedras no caminho, como dizia Carlos Drummond de Andrade se não forem retiradas nos levam a ser pregados na cruz.

Uma reflexão dos tempos atuais onde falsos pregadores falam de Deus punitivo e sacrificialista. Uma reflexão de que Cristo andava com pescadores, prostitutas, mulheres, crianças, idosos e outros pobres desta terra.

O Deus da prosperidade não é egoísta, não atende a quem desfila vil metal. O Deus do Reino proposto por Cristo multiplica e divide o pão nosso de cada dia.

Dicas culturais

O dia de hoje foi, no mundo cristão, repleto de cerimônias religiosas de reflexão do caminho de Jesus Cristo, rumo à Cruz e a sua morte. Uma história de mais de 2 mil anos de vida. Uma história que não encanta só cristão, mas budistas, mulçumanos, ateus, agnósticos e outros. A figura de Cristo é a do filho de Deus ou do Profeta que fez a diferença, quando aqui nesta terra viveu.

Nossa dica desta sexta-feira vem lá da Paróquia de Santa Luzia em Limeira (SP). Todos os anos, após a procissão, um espetáculo teatral é apresentado ao ar livre. Trata-se da “Paixão de Cristo” após a procissão, que começa às 18h. Será no Morro da Penitência no Jd. Olga Veroni.

A todas e a todos, uma Feliz Páscoa.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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