Ninguém gosta de futebol

por Fernando Bryan Frizzarin

Todo relacionamento, ao contrário do que se prega, é feito de rotina. A convivência é necessária e fundamental para que duas pessoas possam viver juntas, seja por quanto tempo for.

Qualquer tamanho de amor segue uma receita bem conhecida que é uma convivência inicial, seja pela amizade na escola, os encontros sociais na igreja, a vida profissional. Por inúmeros motivos, a convivência inicial, se despertar interesse em ambos, passará para o namoro, que, nos momentos iniciais, serão encontros além do local inicial, mas ainda esporádicos, que irão aumentando em intensidade até que se torne diária e constante, com o passar do tempo.

Isso vale para qualquer tipo de relacionamento; por isso, comecei “todo relacionamento” ali em cima.

A intensidade com que convivemos com alguém ou com alguma coisa, seja essa coisa um objeto ou uma ideia, e havendo mínimo interesse, se traduzirá com o passar do tempo em algum amor, ou, como se diz, passaremos a gostar daquilo.

Uma das dificuldades em gerar esse gosto é o interesse. É fundamental criar o interesse; por exemplo, um estudante tem aulas de matemática duas ou três vezes por semana, ou seja, possui a intensidade de convívio, a rotina necessária. No entanto, se o professor não conseguir despertar o interesse mínimo para que o aluno passe a gostar da disciplina, se o professor não conseguir cativá-lo, talvez ele nunca goste de matemática.

Com o futebol, é a mesma “mágica”: a competição, o tempo curto para ganhar do adversário, as regras, o senso de pertencimento dentro da torcida. Tudo isso seduz, causando o interesse, devido à natureza humana que quer experimentar tudo isso.

E como somos bombardeados intensa e incessantemente com tudo o que se pode mostrar e anunciar sobre o futebol, acabamos gostando do esporte. Tem futebol logo no noticiário do início da manhã, na hora do almoço, no meio da tarde, no final do dia, no começo da noite, no meio da noite, com transmissão de jogos e, após os jogos, tem “mesas redondas” e resumos finais no noticiário do início da madrugada. Adicione a isso os portais na internet, tudo em tempo real.

No dia seguinte, sai nos jornais impressos e, não por menos, domina as conversas nos círculos sociais.

Ninguém, provocativamente, gosta efetivamente de futebol; é que o futebol está em todo lugar e o tempo todo, e essa convivência, a partir de um mínimo interesse, faz com que muitos se engajem como torcedores.

Imagino se tivéssemos o jogo de queimada no início da manhã, no meio da manhã, no horário do almoço, no começo da tarde, no meio da tarde, no início da noite, no meio da noite, no início da madrugada e começando tudo de novo no dia seguinte, todo mundo ia amar queimada!

E queimando três pessoas, poderia até pedir música no Fantástico! E depois mesas redondas intermináveis para comentar as melhores e piores jogadas. Na segunda de manhã iam falar de queimada no primeiro telejornal. Também no segundo. No terceiro. No quarto. Em todos eles. Todos os dias.

E todo mundo ia gostar de queimada!

É tudo questão de exposição forçosa e dinheiro investido com retorno garantido. Isso vale também para a música sertaneja, mas vou deixar para outra oportunidade.

O lance, já que falamos de futebol, é usar exatamente isso, essa intensidade, convivência e sedução, para coisas boas.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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