Amor Esquecido: ver, chorar e esquecer

por Farid Zaine
@farid.cultura

Histórias românticas, principalmente as de época, têm um grande poder de fascínio sobre o público. Dramas de amor e superação sempre foram e sempre serão produzidos, pois são temas caros demais ao cinema. Estreou na semana passada na Netflix o filme polonês “Amor Esquecido”, com todos os elementos  necessários para conquistar grande audiência: é uma produção de luxo, com belíssimos cenários, boa reconstituição de época, belos figurinos e uma trilha sonora, claro, sempre prestes a acelerar o caminho das lágrimas. Sem problema, isso é um recurso válido num filme que vai na onda dos melodramas mais tradicionais, saindo-se bem nessa tarefa de emocionar e fazer chorar.

“Amor Esquecido” é baseado num romance polonês de grande sucesso, “Znachor”, que significa “feiticeiro”, já levado às telas em duas versões, uma em 1937 e outra em 1982. Atenta ao potencial do drama, a Netflix produziu essa nova versão, que já é um dos grandes sucessos atuais da plataforma de streaming.

“Amor Esquecido” conta a história de um médico conceituadíssimo, interpretado com comovente delicadeza por Leszek Lichota, de coração mole numa clínica onde o dinheiro é que comanda tudo, no meio de uma guerra de egos; ele é apaixonado pela esposa e pela filha pequena, Marysia, a quem devota enorme carinho; a esposa, contudo, não o ama e o abandona para ir morar com outro homem, levando com ela a garota; o médico, sofrendo muito, passa a procurar desesperadamente pelas duas e, numa noite, é espancado violentamente num beco escuro, perdendo a memória por causa de ferimentos na cabeça; anos mais tarde ele se encontra em um povoado, e sem se lembrar de como aprendeu, passa a tratar das pessoas e curá-las, realizando inclusive improváveis cirurgias com recursos precários; Marysia, por sua vez, agora uma linda moça (Maria Kowalska), acaba chegando ao mesmo povoado depois da morte da mãe e do padrasto, e vai trabalhar num bar como garçonete e tocando piano,  onde é assediada pelos jovens do lugar e por um rico playboy (Ignacy Liss), filho do homem mais rico da região, um conde. A mãe do jovem conde, uma megera preconceituosa, fará de tudo para atrapalhar o romance que, apesar da resistência inicial da jovem, acontece. No primeiro “não” que Marysia dá ao conde, já sabemos que os dois ficarão juntos. É clássico.

“Amor Esquecido” coloca num caldeirão de sentimentalismo vários elementos infalíveis: homem abandonado pela família perde a memória, pais e filhos separados, amores desfeitos, sofrimento e carência de pobres aldeões, casal romântico  de classes sociais diferentes, que tenta ser separado, encontros, desencontros, curas quase milagrosas, preconceito… Tudo isso, enfim, é misturado num roteiro competente, levado por uma direção que tem em mente prender o espectador e fazê-lo se emocionar mais a cada minuto. Em certa parte, o longa cumpre o que promete. Toda a história se passa em belas paisagens, e mesmo a pobreza ganha um toque de glamour. E temos até um olhar crítico sobre a medicina elitista na Polônia de 1930, época em que se passa a trama de “Amor Esquecido”.

Enfim, é sempre bom relaxar com uma história sentimental. Se o calor infernal estiver persistindo no fim de semana, melhor é ir a um bar animado, com cerveja gelada, como no lugar onde Marysia toca seu piano e anima os beberrões da aldeia. Se, contudo, estiver um tempo fechado, até com um friozinho, chuva caindo, então o aconchego do lar poderá ser completado por esse melodrama polonês.

Amor Esquecido – Polônia, 2023 – drama romântico de época – disponível na Netflix.

Cotação: ***BOM

Foto: Reprodução

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