O Talentoso Ripley: um thriller psicológico sofisticado

por Farid Zaine
@farid.cultura

Em 1960 fez furor no mundo todo uma adaptação do romance de Patricia Highsmit, The Talented Mr. Ripley (O Talentoso Ripley), dirigida por René Clément. O filme é “O Sol Por Testemunha” (Plein Soleil), que consagrou internacionalmente o já famoso e querido ator francês Alain Delon, na época um dos maiores galãs do cinema. Em 1999, portanto quase quarenta anos depois, o ótimo diretor americano Anthony Minghella fez um remake desse sucesso francês, agora com o título “O Talentoso Ripley”.

Tom Ripley é uma personagem complexa, criada pela imaginação e capacidade de montar enredos fascinantes demonstradas pela autora do livro, responsável, entre outros, pelo sucesso de “Carol” (The Price of Salt, 1952), filmado por Todd Haynes em 2015, com Cate Blanchett no papel-título.

A Netflix acrescentou ao seu catálogo recentemente esse instigante filme de Minghella, diretor que já nos deu, entre outros, o belo drama “O Paciente Inglês”, vencedor de 9 Oscars em 1997, incluindo o de melhor diretor.

Captando as nuances do romance de Patricia Highsmith, Minghella criou uma obra intensa, um thriller psicológico que não abre mão da beleza. A história se passa na Itália, em cenários paradisíacos que nos fazem compreender o fascínio de Ripley (Matt Damon) por um mundo até então distante dos seus sonhos. Ele vai para a Europa a pedido do pai do playboy Dickie Greenleaf (Jude Law), que deseja que ele retorne a Nova York. Ripley é um jovem pobre, que toca e afina pianos, e que em uma ocasião é confundido pelo milionário pai de Greenleaf com um estudante da escola em que o filho estudou, Princeton.

Ripley não revela que a jaqueta  da escola que ele usava era emprestada, e aceita ser contratado para ir à Itália convencer Dickie a retornar. Cheio de talentos como imitador, Ripley conhece Dickie após pesquisar todos os gostos do rapaz, fazendo com que inicie entre os dois uma forte amizade, Dickie colocando seu mundo de luxo e prazeres ao alcance do jovem manipulador. Marge (Gwineth Paltrow) é uma escritora , namorada de Dickie, e a princípio também se encanta com ele, mas depois passa a desconfiar de suas atitudes.

Quem na verdade percebe as intenções de Ripley é Freddie, interpretado por Philip Seymour Hoffman, em um dos primeiros grandes papéis de sua carreira. O elenco brilhante ainda conta com Cate Blanchett como Meredith, em participação menor, mas sempre com a competência da atriz australiana.

A história do envolvimento de Ripley com Dickie e seu mundo leva a acontecimentos que não cabe aqui revelar. Spoiler num tipo de filme como esse é tudo o que não se pode dar. O que dá pra dizer é que o filme é tenso, tem uma atmosfera de suspense que se consolida aos poucos, à medida em que segue para o desconcertante final.

Matt Damon está brilhante como Tom Ripley, e Jude Law foi indicado ao Oscar de Melhor ator coadjuvante em 2000, sendo que o filme recebeu 5 indicações, incluindo a de melhor roteiro adaptado para Minghella. Com excelente fotografia e direção de arte que valorizam os cenários italianos, “O Talentoso Ripley” tem ótima trilha sonora. Compensa muito deixar novidades de lado e curtir essa preciosa aquisição da Netflix para o seu catálogo. Melhor ainda vasculhar as possibilidades de ver Alain Delon na pele de Ripley no magnífico “O Sol por Testemunha”, de 1960, e comparar as leituras de dois grandes diretores para a mesma obra.

O TALENTOSO RIPLEY (The Talented Mr. Ripley – EUA, 1999 – direção de Anthony Minghella) – disponível na Netflix.
Cotação: **** MUITO BOM

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