Ah, o pessimismo…

por Fernando Bryan Frizzarin

Saí procurando alguma coisa para me ajudar a argumentar sobre o pessimismo e encontrei o site pessimistsarchive.org que me divertiu e fez com que ficasse absolutamente maravilhado e vidrado nele por horas.

Já de início mostra o aviso: “Arquivo Pessimistas é um projeto para refrescar nossas memórias coletivas sobre a histeria, a tecnofobia e o pânico moral que muitas vezes acompanham as novas tecnologias, ideias e tendências”. Mais bem explicado é impossível.

Abaixo da página há uma linha do tempo que você pode mover para à esquerda, rumo ao passado mais remoto, e à direita, para tempos mais próximos, de 1850 até 1980, mais ou menos.

Clicando em uma década dessa linha do tempo você tem uma breve explicação do que “estava pegando” naquela época e tem acesso ao clipping, ou conjunto de notícias, sobre aquele assunto.

É divertidíssimo ver como o desconhecido afeta o julgamento das pessoas e as pessoas, em especial a mídia, afeta o julgamento de outras pessoas, que por fim criam uma histerese. Por curiosidade, histerese, no dicionário é “a tendência de um sistema de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as gerou, ou ainda, é a capacidade de preservar uma deformação efetuada por um estímulo”.

Fui lá em 1880. 93 clippings. Em 29 de abril de 1813 um sujeito chamado O. A. Brownsox, escreveu um artigo, no The Universalist Watchman, aterrorizado de que, os que leem romances estão abandonando a realidade, e esse tipo de livro pode levar à corrupção dos jovens e plantar ideias perigosas nos pensamentos das pessoas. Além de romances fazerem que as pessoas não tenham atenção para assuntos mais importantes. Coitado, imagina se naquela época existisse a televisão?

E imagina que, depois da televisão, ele tivesse tido a chance de conhecer o vídeo game? Ah, meu Deus, e se ele imaginasse que pudesse, em algum momento do futuro distante para ele, existir algo como a internet e suas redes sociais? Talvez tivesse mudado de ideia e odiado os cientistas e não os romancistas.

Em 1918 existia até Liga Anti-Máscara, em plena pandemia da gripe espanhola. Segundo algumas publicações as máscaras tornavam as pessoas cansadas e não eram efetivas. Além de esconder os sorrisos que enobrecem as cidades. Prefiro nem me alongar aqui.

Já na década de 1950 o problema eram os gibis (comics books) que transformariam as crianças e os jovens em criminosos. Foram queimados, banidos em alguns estados dos EUA e o senado estadunidense abriu investigação para entender os efeitos nocivos deles.

Em 1954, o médico psiquiatra Fredric Wertham escreveu o livro “Seduction of the Innocent”, que começa assim, em tradução de máquina: “O tipo de quadrinhos do Superman tende a exagerar e superexagerar. Paul A. Witty, professor de educação na Northwestern University, descreveu bem esses quadrinhos quando disse que eles “apresentam nosso mundo em uma espécie de ambiente fascista de violência, ódio e destruição. Acho que é ruim para as crianças”.

Imagine ele vendo o sucesso que os filmes da DC e da Marvel fazem! Cinemas lotados, gente de toda idade fantasiada e torcendo por seus personagens favoritos em acaloradas discussões em publicações ou programas de televisão.

Mas o melhor, a meu ver, está em 1980, com o Walk-man criando pessoas “não humanas” (zumbis talvez?).

Lewis Beale, em 07 de outubro de 1990, reclama que “pessoas conversam com você enquanto trabalham em seus computadores ou veem TV”, “usam o Walk-man para se desligar do mundo ou o rádio dos seus carros para infectar todos com seus gostos musicais”, e segue com uma lista extensa passando por “as pessoas estão crescendo em volta da TV e aprendendo comportamentos inapropriados com a tecnologia.

Divirta-se!

E o mais divertido de tudo isso é que está até na Bíblia: Eclesiastes 1:9.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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