A Mão de Deus – Um gol para a Itália

Por Farid Zaine
@farid.cultura

Desde “A Grande Beleza”, Oscar de Melhor Filme Internacional em 2014, Paolo Sorrentino tornou explícita sua admiração por Fellini. Alguns críticos chegaram inclusive a comentar que ele exagerou nas referências colocadas no belo filme rodado em Roma. 

Neste 2021, chega ao público, pela  Netflix , o novo filme de Sorrentino, “A Mão de Deus”, já como representante escolhido da Itália para o Oscar 2022. Ótima escolha. Sorrentino faz agora o seu melhor filme, cujo roteiro é inspirado na sua própria adolescência , quando ele decidiu que ser diretor de cinema seria o seu objetivo na vida. Esse desejo se cumpriu, e as marcas dessa escolha estão colocadas nas lembranças da juventude dele, no olhar sobre sua família, uma família napolitana tradicional, com tudo de bom e ruim que isso possa significar.

“A Mão de Deus”, cujo título é uma referência ao gol de Maradona pela seleção Argentina, contra a Inglaterra, na Copa de 1986, é um dos melhores lançamentos neste final de 2021. Maradona tem parte de sua vida intensamente associada à história da família de Sorrentino, no filme o jovem Fabietto Schisa, interpretado com uma mistura de delicadeza e força por Filippo Scotti.   Fanáticos torcedores do Napoli, os familiares estão sempre acompanhando a trajetória do craque portenho, e a evolução da carreira dele segue os passos da transformação de Fabietto em adulto, após sofrer as consequências de uma tragédia familiar.

Já se diz muito que Sorrentino faz o seu “Amarcord” com “A Mão de Deus”. O clássico de Fellini de fato é a luz que guia as memórias do criador de “A Grande Beleza”. 

Na primeira parte, o filme tem mais leveza e graça. Rimos muito com a família reunida, com as observações de todos sobre eles mesmos e os outros em diálogos engraçados, cheios de um humor bem característico dos exageros italianos. O jovem Fabietto tem na tia fogosa, Patrizia (Luisa Ranieri), o despertar de sua sexualidade e do desejo.

Patrizia tem um casamento complicado com Franco (Massimiliano Gallo), pela dificuldade de engravidar e por seus hábitos pouco convencionais, que incluem tomar banho de sol nua diante de todos. Fabietto tem boa relação com o irmão namorador Marchino (Marlon Joubert), mas não tem namorada e nenhum amigo íntimo, até conhecer um  traficante (Afonso Perugini), que mostra a ele vários aspectos da amizade e da vida.

Ele conhece também o diretor de cinema Antonio Capuano (Ciro Capano), e com ele passa a ter encontros que vão clarear sua decisão de ser cineasta. Tudo isso se passa na solar Nápoles, com sua extraordinária beleza natural e a peculiar cultura local.

Dentre as passagens importantes da adolescência  de Fabietto, surgem com grande impacto a tragédia que envolve seus pais Maria e Saverio (Teresa Saponangelo e Toni Servillo), bem como sua iniciação sexual promovida pela Baronesa (Betty Pedra).

“A Mão de Deus” é um lindo filme, tanto pelos aspectos técnicos (fotografia, direção de arte, trilha sonora), quanto pelo seu inspirado roteiro e a direção criativa de Sorrentino. O filme está disponível na Netflix, e desde já é um dos mais fortes concorrentes a uma vaga entre os cinco finalistas da categoria Melhor Filme Internacional.

A paixão por Maradona (chamado desde a abertura de melhor jogador de futebol de todos os tempos), guia da trajetória de Fabietto, serve sobretudo para mostrar que Paolo Sorrentino , no campo do cinema, marca um magnífico gol para a Itália, certamente com a ajuda da mão de Deus. 

A MÃO DE DEUS (È Stata La Mano di Dio – The Hand of God, 2021) – Direção de Paolo Sorrentino – Disponível na Netflix.
Cotação: *****ÓTIMO

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