Quanto custa o trabalho de uma mãe?

Por Camila Duarte

Já perdi a conta de quantas vezes já ouvi a frase “eu amo meus filhos, mas odeio ser mãe”. Pode parecer, num primeiro momento, que há ali uma contradição, mas basta algumas reflexões para entender essas mulheres, que estão cansadas e sobrecarregadas do infinito trabalho não remunerado do cuidado dos filhos. Trata-se daquelas “pequenas” coisas do dia a dia:

Acordar cedo para levar para a escola. Preparar o lanche. Levar para a escola. Se sentir culpada. Ir para o trabalho. Buscar da escola. Fazer almoço. Dar o almoço. Lavar a louça, limpar e organizar a casa. Preparar outro lanche. Levar para a casa da avó (outra mulher responsável pelo cuidado). Se sentir culpada. Voltar para o trabalho. Fazer compras no mercado. Buscar da casa da avó. Preparar o jantar. Dar o jantar. Lavar a louça, limpar e organizar a casa. Se sentir culpada. Dar banho. Colocar pra dormir. Se sentir culpada por trabalhar e não ter tempo pra brincar mais, pra cuidar mais, pra passear mais. E recomeçar.

Essa dupla jornada de trabalho da mulher é vista como obrigação. No Dia das Mães, é enaltecido como desprendimento, generosidade. Vejam como ela é guerreira e lutadora – tudo isso, claro, por muito amor! Relatório publicado em 2020 pela organização não governamental britânica Oxfam estima que mulheres e meninas dedicam, no mundo todo, 12,5 bilhões de horas por dia ao trabalho de cuidado não remunerado. O valor monetário desse trabalho representa anualmente 10,8 trilhões de dólares. Isso sem contar o fato de que a maternidade empobrece as mulheres, diminuindo suas possibilidades de estudar e se capacitar e também de promoções na carreira.

O estudo apontou que no Brasil 90% do trabalho de cuidado é realizado informalmente pelas famílias – sendo 85% dele feito pelas mulheres. Ou seja, sabemos que, quando existe um pai presente, em geral ele é responsável por uma ou duas dessas atividades, ele “ajuda” a mãe. Ele chega do trabalho cansado, talvez ele lave a louça do jantar. Talvez ele ajude com o dever de casa da criança. Ou o mais provável é que ele mais atrapalhe do que ajude, que reclame que o jantar demorou pra ser servido, que sopa não é janta, que a criança faz muito barulho e não deixa ele ouvir o jornal na televisão.

Portanto, está claro que nós, mulheres, damos uma enorme contribuição para a sociedade. Está na hora de o Estado assumir as suas responsabilidades e, de uma vez por todas, zerar a fila das creches, promover restaurantes e lavanderias populares acessíveis a todas as famílias. Também é direito das mulheres o acesso a métodos contraceptivos e a informação e orientações profissionais quanto ao planejamento familiar. É preciso dar um basta à maternidade compulsória.

Que este Dia das Mães seja um dia de homenagens, amor e afeto. Mas também um dia de refletir sobre a maternagem e como podemos tornar essa experiência mais leve para as mães. Feliz Dia das Mães!

Camila Duarte é jornalista e mestra em ciências humanas e sociais aplicadas pela Unicamp.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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