MAID: Violência doméstica é tema de minissérie de sucesso

por Farid Zaine
@farid.cultura

MAID faz muito sucesso na Netflix e não são poucos os motivos. A minissérie fala de um assunto muito comentado nos dias atuais, a violência doméstica. Alex, a personagem principal, é uma mulher de 25 anos, com uma filha perto de completar 3, e um marido alcoólatra que começa a ter surtos , daqueles de atirar coisas para todo lado e quebrar paredes com socos. Alex começa a reviver memórias de sua própria infância, quando o pai agredia sua mãe. Ao decidir lutar por sua dignidade e pela integridade dela e da filha, Alex decide sair de casa, procurar um abrigo público e conseguir dinheiro para manter a menina em um ambiente minimamente confortável e com possibilidade de ir à escola. Ela só encontra um trabalho como faxineira, e resolve se entregar totalmente a ele. Sean, o marido, não a agride fisicamente, mas a destrói psicologicamente. 

A história de Alex é a de muitas mulheres, obrigadas a procurar uma forma digna de sobrevivência fora do alcance de seus agressores. A minissérie MAID (faxineira ou empregada em inglês) tem 10 episódios. A princípio pode parecer que não vamos suportar dez capítulos, porque fica claro que em todos eles vamos acompanhar os dramas de Alex, sua luta sem tréguas onde há poucos momentos de respiro e alegria, e muitos, muitos, de árdua batalha diária por sobrevivência e justiça. Mas de cara ficamos envolvidos , e não conseguimos abandonar a trajetória dessa jovem mulher e sua filhinha encantadora.

MAID trata, com a história de Alex, de um problema central, a violência contra a mulher dentro de casa. Mas ao retratar o drama da protagonista, outras questões surgem e são tratadas de forma crua e clara, sem apelações sentimentais. Por exemplo, a burocracia do governo, afogando em papeis e compromissos legais o já escasso tempo da jovem buscando espaço, comida, educação e justiça. 

MAID não se aprofunda muito nos temas paralelos ao principal, a luta de Alex contra a violência doméstica e para proteger a pequena Maddy, e nem seria necessário. O painel mostrado deixa clara a situação de muita gente numa América que em geral é só vista como a terra das oportunidades, da realização dos sonhos. Nesse aspecto a minissérie remete a obras recentes como “Era Uma Vez um Sonho”, cujo título original é Hillbilly Elegy, algo como “elegia caipira”.

Nesse longa de 2020 Amy Adams tem uma personagem que é uma mãe problemática, e lembra Paula, vivida por Andie MacDowell em “Maid”. Só que Paula esconde seus dramas por trás de uma vida aparentemente alegre e resolvida através da arte e do sexo. Paula e Alex, mãe e filha na minissérie, são vividas por mãe e filha na vida real: MacDowell é mãe de Margaret Qualley, a excelente jovem intérprete de Alex.

Paula também lembra a personagem vivida por Frances McDormand em Nomadland, pelo fato de dormir em seu veículo no estacionamento de um shopping, revelando uma situação dramática experimentada por muitos idosos nos EUA e muito bem colocada no longa premiado de Choloé Zhao, Oscar de Melhor filme e melhor direção em 2020. Outra abordagem é a que mostra a amizade que surge entre Alex, a faxineira, e sua cliente rica, Regina, interpretada pela ótima Anika None Rose, cuja vida opulenta, aparentemente sem problemas,  acaba mostrando  a impotência contra a solidão, a infelicidade no amor e outros dramas íntimos que o dinheiro não consegue resolver.

Com uma história envolvente, ótimo elenco e roteiro bem trabalhado baseado no livro de Stephanie Land, “Superação”, em que ela narra a própria experiência como faxineira, a minissérie MAID já é candidata a aparecer em várias categorias na próxima temporada de premiações.

MAID –Minissérie de 2021 em 10 episódios disponíveis na Netflix.
Cotação:****MUITO BOM

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