7 Prisioneiros – O drama do trabalho escravo

por Farid Zaine
@farid.cultura

Estreou na Netflix o novo filme de Alexandre Moratto , o diretor de “Sócrates” , com o mesmo ator Christian Malheiros, “7 Prisioneiros”. O longa traz um dos mais prestigiados atores brasileiros no exterior, Rodrigo Santoro, em um papel bem diferente dos que marcaram a imagem dele. Santoro ganhou notoriedade por ter se revelado um ator versátil e seguro em filmes de grande prestígio como “Bicho de Sete Cabeças”, “Abril Despedaçado” e “Carandiru”.

A nova versão do clássico bíblico “Ben-Hur” deu o rosto de Santoro a Jesus; o original, imbatível, de 1959, sempre foi lembrado por não mostrar a fase de Cristo em uma dramática cena do encontro de Jesus , prestes a ser crucificado,  com a personagem principal da obra de William Wyler.

“7 Prisioneiros” toca numa profunda ferida social, o trabalho escravo. A história é a de jovens que saem do interior do estado de São Paulo, em direção à Capital, levados por promessas de trabalho digno que renderão dinheiro e paz a eles e suas famílias. Só que não. Iludidos por traficantes de seres humanos, eles acabam em lugares imundos com péssimas condições de vida, escravizados e ameaçados. 

Em “7 Prisioneiros” Rodrigo Santoro precisou conviver com uma personagem horrível, um carrasco, um homem vindo de uma infância de pobreza que decide se dar bem a qualquer custo, perdendo os escrúpulos ao aceitar explorar pessoas inocentes, sonhadores como os vindos do interior ou como os que chegam de outros países da América do Sul. Sonhos destroçados não faltam no longa de Moratto. O diretor, na verdade, habituou-se a tratar dos temas relacionados a oprimidos e opressores.

A história de Mateus, vivido com muita competência pelo jovem ator Christian Malheiros, é a mesma de muitos que deixam seu lugar de origem e suas famílias, em busca de uma vida melhor num grande centro. Mateus, no caso, e outros três amigos, chegam a um ferro-velho em São Paulo, onde Luca (Rodrigo Santoro) lhes mostra a cruel realidade da armadilha em que caíram: eles trabalharão como escravos, impossibilitados de fugirem, pois um acordo com policiais corruptos garante que, em caso de alguma tentativa de fuga ou rebeldia, membros das famílias deles terão a integridade física ameaçada.

Desenha-se, naquele lugar, uma sucursal do inferno: pouca comida, quarto trancado com cadeado, trabalho árduo e pesado durante horas a fio, péssimas condições de higiene. Mateus, então, passa a perceber que alguma coisa só mudará se ele se render às ordens de Luca, e começa uma trajetória de aproximação com o chefe truculento, deixando os companheiros atônitos e incrédulos. O espectador, atordoado com tantos desconfortos provocados pelo filme, fica ainda mais incomodado ao perceber o rumo que a vida de Mateus irá tomar, provavelmente.

Rodrigo Santoro contou à revista Veja que se sentia “carregado, sujo” e tinha até dificuldade em dormir, tal a carga de emoções negativas que trazia para casa depois de um dia de filmagem, em que emprestava o corpo para um homem tão diferente dele e representante de uma realidade muito próxima de todos nós e que poucos ousam mostrar sem véus.

Aplaudido no Festival de Veneza em setembro de 2021, “7 Prisioneiros” ainda tem possibilidades de premiações e apresentações em festivais e mostras, mesmo que esteja nos cinemas e já no streaming.

“7 Prisioneiros” concorreu à vaga como representante do Brasil no Oscar 2022, categoria Melhor Filme Internacional. O escolhido foi “Deserto Particular”, de Aly Muritiba, drama muito elogiado que estreará nos cinemas no dia 25 de novembro. Com a  estreia de “Marighella”, de Wagner Moura, agora com a de “7 Prisioneiros” e a chegada de “Deserto Particular” às telas do Brasil, dá para acreditar em dias melhores para o cinema brasileiro e, consequentemente, para nossa cultura. 

“7 Prisioneiros” – longa brasileiro de Alexandre Moratto – disponível na Netflix.
Cotação: ****MUITO BOM 

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