DUNA: Uma história, duas visões

por Farid Zaine
@farid.cultura

“Duna”, dirigido por Denis Villeneuve,  um dos mais esperados lançamentos do cinema, previsto para ocorrer em 2020, apenas agora chega às salas do Brasil, adiado em decorrência da pandemia. Brevemente estará no streaming, via HBO Max.

“Duna” chega carregado de expectativas, principalmente por parte dos fãs de ficção científica, já que é uma adaptação de um dos maiores clássicos do gênero, o livro homônimo de Frank Herbert lançado em 1965 e transformado no livro de “sci-fi” mais vendido de todos os tempos. Sucesso editorial tamanho não passaria sem chamar a atenção dos produtores e diretores de cinema e TV. Em 1984 “Duna” chegou à tela grande pelas mãos do consagrado e respeitado diretor David Lynch, responsável por grandes filmes como “O Homem Elefante”, “Veludo Azul” e “Cidade dos Sonhos”, entre outros.

 A versão de Lynch não foi bem aceita, houve reações negativas da crítica e dos fãs do livro, e o próprio diretor até hoje rejeita sua obra. Passados 37 anos dessa estreia complicada, muitos hoje consideram o “Duna” dos anos 1980 um “cult” do gênero, e a comparação com a versão de Denis Villeneuve, que estreou neste outubro de 2021, é inevitável. Mesmo as gerações mais novas, apaixonadas pelo universo do planeta Arrakis, podem ver a versão original de Lynch, disponível na Netflix. Aliás, é um ótimo exercício cinematográfico assistir à versão de Lynch e depois à de Villeneuve. É impressionante como dois grandes diretores tiveram visões diferentes sobre o universo proposto por Frank Herbert, e não deixa de ser muito enriquecedor verificar as múltiplas possibilidades de transformação da mesma  obra literária em filmes muito diferentes.

O longa de Denis Villeneuve, cineasta franco-canadense, é fiel ao livro, e apesar de sua duração de duas horas e trinta e seis minutos, fica apenas na primeira parte da história, e termina deixando o expectador certo de uma continuação. Acontece que a filmagem da parte 2 está condicionada ao sucesso desta primeira. Contudo, parece improvável que não se realize a filmagem da segunda parte.

“Duna”, a complexa obra literária de Frank Herbert, teve em Villeneuve um leitor respeitoso, que resolveu levar à tela o mais próximo possível do que foi concebido pelo escritor. O resultado é um filme visualmente deslumbrante, com sua extraordinária fotografia na maior parte do tempo sombria, em imagens quase sempre em tons de bege, consequência das características do planeta Arrakis (Duna), com sua superfície ondulada e seus gigantes vermes de areia.

Quem espera uma aventura movimentada, com os costumeiros embates pirotécnicos dos filmes sobre futuro distópico, ficará um pouco decepcionado: “Duna” é lento, filosófico, contemplativo, mas nunca é entediante. Pelo contrário, é fascinante a história desse futuro onde um “império” tem um comando geral sobre os planetas,  e existe uma disputa entre as “casas” Atreides e Harkonnen pelo controle da especiaria “melange”, só encontrada em Arrakis e que tem extraordinários poderes. Paul Atreides , vivido por Timothée Chalamet, é o membro da família Atreides sobre o qual pesa um grande destino, o de se tornar uma figura próxima de um messias, que terá a incumbência de dominar e proteger o universo. Paul é filho do Duque Leto Atreides (Oscar Isaac) e de Lady Jessica Atreides (Rebecca Ferguson), membro da irmandade Bene Gesserit, formada por mulheres com grandes poderes. Parece estranho demais? É difícil condensar a história de “Duna” em uma simples sinopse, dada a quantidade de personagens importantes e da mistura muito bem costurada de filosofia, ecologia, política e poder.

O “Duna” de 2021 reforça o talento de Denis Villeneuve, já provado nos ótimos “A Chegada” e “Incêndios”, e principalmente na espetacular continuação de “Blade Runner, o Caçador de Androides”,de 1982,que resultou em outra obra-prima,o longa “Blade Runner 2049”. Parece que as tarefas de  lidar com filmes de ficção científica dos anos 1980 resultaram em mais prestígio ao já consagrado diretor. Desde já, Villeneuve é forte candidato a uma indicação ao Oscar 2022 como Melhor Diretor, e seu “Duna” já desponta como certo entre os concorrentes a melhor fotografia, design de produção, som , efeitos visuais e trilha sonora, mais um grande trabalho de Hans Zimmer. Seria justa também uma indicação a Melhor Ator para Timothée Chalamet, perfeito como Paul Atreides. Vale mencionar , além dos já citados no elenco, os nomes estelares de Josh Brolin, Jason Momoa,Javier Bardem e Zendaya.

Chalamet, o menino do solar “Me Chame Pelo Seu Nome”, que já deu sinais de amadurecimento em “O Rei” (Netflix), agora demonstra que é um ator completo e preparado para um futuro ainda mais brilhante.

DUNA – Longa de ficção científica, 2021 – Direção de Denis Villeneuve – em cartaz nos cinemas.

Cotação: *****ÓTIMO

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