Lições

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Muitos dirão, após ler este exto, ser prematuro realizar uma reflexão acerca das lições que podemos tirar deste cenário em que as eleições são, sem dúvida alguma, a mais importante ou talvez se assemelhe a 1989, de nossa história pós-ditadura militar.

Analistas políticos dirão que, à flor da pele e do momento, fica difícil ou quase impossível entregar uma análise mais próxima da verdade e realidade. Para um leitor de cenários, a reflexão é a todo instante. É cotidiana e obrigatória.

As imagens da conjuntura borbulham em nossas mentes a partir do instante que acordamos e levantamos da cama. É automática a necessidade de projetar o dia, a partir dos elementos que incorporam a história presente. Porém, não há como analisar futuro sem considerar passado e presente.

Não há como definir o bolsonarismo ou mesmo o petismo sem mergulhar a fundo em cenários que ambos se inserem e que são responsáveis direto nas mudanças da sociedade.

As eleições 2022 apresentam uma polarização que há muito não se via, na forma como ela vem se dando. A instituição da luta polarizada não é novidade na política brasileira. Apesar do fim do bipartidarismo, a redemocratização não eliminou a disputa por dois projetos distintos. Não há um terceiro que viabilize uma trajetória politica de apaixonar corações e mentes.

O chamado centro político, desde 2014, vem amargando derrotas acachapantes, a ponto de seu maior partido no passado recente, o PSDB, passar de maior bancada no Congresso a uma das menores. Sem falar que os tucanos, não governarão, a partir de 2023, nenhum estado do Sudeste, onde se concentra a maior parte das riquezas nacionais. A maior perda do PSDB, sem dúvida, é São Paulo, a qual governava desde 1995.

A ascensão da extrema direita, liderada hoje por Jair Bolsonaro, ao contrário que muitos dizem, não é a falência das esquerdas, e sim a inconsistência de um centro democrático que se revelou em 2016, golpista quando articulou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

De lá pra cá, o Centro foi representado, por figuras como João Dória, Zema, Eduardo Leite e outros que vão de um populismo que se aproxima do bolsonarismo a uma política de sucatear os serviços do Estado que dão inveja a qualquer predador da coisa pública.

Quando a Democracia se coloca em risco como agora, não há espaço para vacilo e meio termo. É preciso detectar quem defende o Estado de Democrático de Direitos e quem quer a ruptura instalando um Estado Autoritário e Ditador. PSDB e seus aliados de Centro não foram capazes de enxergar este momento e, com isto, amargam uma falência que os fazem esfarelar-se ou até ser extinto, não literalmente, mas conceituadamente. O apoio de Rodrigo Garcia a Bolsonaro é reflexo desta decadência de apresentar-se como alternativa de projeto de poder.

Na mesma toada se encontra Ciro Gomes. O ex-ministro, há duas eleições, tem apresentado um Plano de Governo, sobretudo no desenvolvimento econômico, considerado por todos, inclusive adversários, como o mais avançado e capaz de solucionar os grandes problemas do País. No entanto, sua apatia em discutir questões próximas ao povo pobre, como miséria, fome e carestia, se transforma um dos grandes entraves para que ele se popularize.

Um outro aspecto importante é o fato de Ciro não representar unidade na política, aceitando a diversidade delas. Em alguns momentos do pleito deste ano, o cearense chegou a utilizar de métodos bolsonaristas e distribuiu acusações gratuitas às esquerdas, ao invés de buscar apoios neste segmento.

E por último, consequência dos dois primeiros, seu vacilo em assuntos estratégicos do cenário o aproxima muito dos tucanos e isto prejudica sua conduta perante o povo. O vacilo ou a negação em dar apoio a Lula neste segundo turno mostra que Ciro Gomes tem dificuldades de se enquadrar em um projeto nacional que compartilhe lideranças e ideias.

Aliás, Ciro teve e tem dificuldades inclusive de unificar seu próprio partido, o PDT. Exemplo disto foi mais da metade dos militantes partidários ter abandoná-lo no primeiro turno para apoiar o candidato do PT. Resultado: Ciro derreteu-se, ficando atrás de Simone Tebet.

Assim, o intitulado Centro Político, que vai da direita ao Social Democrático, encontra-se dando cada vez mais espaço a extrema direita ou a parcelas politicas de conveniência, aqueles que são governo não importando qual a sigla ou o que ela pensa que esteja no poder.

Por isto que o problema não é a polarização. Ela não é prejudicial ao debate político, não há “briga”, há projetos de Brasil antagônicos. Muito desta situação deriva da ausência de alternativas plantadas em um projeto de sustentabilidade não só econômica, mas política e calçada em uma unidade federativa.

Hoje, quem apresenta esta solução é Lula e sua aliança, por mais que o programa do candidato seja baseado em medidas paliativas e reformas subjetivas e genéricas, do que um lúcido plano de desenvolvimento com justiça social. Lula, em contexto de polarização com o bolsonarismo e seu fundalismo cristão e político, se coloca como o restaurador da unidade nacional para preservar a democracia e reconstruir a paz.

O País está dividido. Esta divisão coloca desafios que vão além de dogmas e convicções pessoais. Para isto, é necessário admitir que precisamos dar respostas a algumas questões detectadas neste período e que podemos tirar lições:

1 – Política: Pra que serve e a quem serve?

2 – Religião: Qual deve ser sua relação com a política?

3 – Livros ou Armas?

4 – Convicções individuais ou bem-estar coletivo?

5 – Política sacrificialista ou distributiva?

6 – Estado Laico ou Cristão?

Pretendemos em breve trabalhar cada um desses tópicos. Por hoje é só.

Até a próxima semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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