Investigação revela irmãos envolvidos em extorsão de falso sequestro em Limeira

Quando dona Amália (nome fictício), de 83 anos, atendeu a ligação na noite de 13 de abril de 2021 para viver, dali para frente, momentos de tensão, ela não tinha como saber. Mas, de longe, um policial civil da cidade de Itobi (SP), com autorização da Justiça, interceptava uma extorsão prestes a acontecer em Limeira. A parceria com a Polícia Militar resultou na detenção de um casal de irmãos que participou do constrangimento à idosa e impediu que uma quadrilha conseguisse sucesso no crime.

Dois PMs limeirenses trabalhavam naquela noite, quando um deles recebeu um telefonema. Do outro lado, um investigador da Polícia Civil de Itobi, região de São José do Rio Pardo, informava que, naquele momento, um crime de extorsão estava em andamento numa residência da zona leste de Limeira. Após a troca de informações, o PM limeirense se deslocou até o local para averiguar o que ocorria.

Em Itobi, o investigador mantinha, sob escuta, criminosos que estavam no estado do Rio de Janeiro conversando com a idosa. Quando dona Amália atendeu ao telefonema, o tom de voz era ameaçador. O interlocutor dizia que iriam matar o seu filho se ela não desse uma quantia em dinheiro. O pedido era claro: a polícia não podia ser avisada (embora ela já escutasse).

Horas de terror

Apavorada com a ameaça, a idosa relatou ter R$ 2 mil para pagar o suposto resgate. Os criminosos fizeram deboche e disseram que o valor era pouco e insistiram na suposta ameaça ao filho.

Dona Amália, então, aterrorizada, decidiu entregar o dinheiro que tinha na casa, cerca de R$ 5 mil. Ela não se recordou do tempo que ficou com os bandidos no telefone, mas a interceptação telefônica gravou bem: foram cerca de 3 horas.

Encerrada a ligação, os criminosos do Rio fizeram outro telefonema, também interceptado pela polícia em Itobi. Quem atendeu foi uma mulher em Limeira, que iria, por meio de viagem feita por intermédio de um aplicativo, até a casa da idosa pegar o dinheiro. Tudo isso foi relatado aos PMs de Limeira, que aguardaram, de modo discreto, a vinda da possível integrante da quadrilha.

Quem era, afinal?

Foi quando os PMs observaram a chegada de um Honda Fit, que parou em frente à casa da idosa. Do veículo, desceu uma jovem de 16 anos. A idosa saiu da residência e entregou o pacote de dinheiro à moça, que retornou ao veículo. Antes que o carro fosse colocado em movimento, os policiais agiram.

Além do motorista de aplicativo, estava no banco traseiro do carro um estudante de 18 anos, morador da capital, irmão da adolescente, que mora no Jd. Adélia Cavicchia Grotta em Limeira. O motorista relatou ao PM que pegou o casal no bairro onde reside a adolescente e levou-os até o local solicitado.

A jovem relatou que havia recebido uma ligação do restante da quadrilha para ir até a casa da idosa e pegar os R$ 5 mil. Ela poderia ficar com R$ 1,5 mil e depositar o restante em uma conta bancária. O rapaz de 18 anos disse que nada sabia, mas que emprestou o celular para a irmã. Com ele, foram achados R$ 134 no bolso da calça e uma porção de maconha, que ele disse ser para consumo próprio. A irmã relatou que o irmão mais velho não sabia sobre a empreitada.

Na casa de uma tia, onde a adolescente estava hospedada, os PMs entraram, com autorização da proprietária da casa, e encontraram 13 pinos de cocaína nos pertences da jovem.

Dólares e joias

Na delegacia, a jovem relatou que o irmão veio de São Paulo na noite anterior, preocupado com os atos infracionais que ela teria praticado naquele mês. Ela contou que recebeu a ligação no celular do irmão e o interlocutor explicou o que teria de fazer. Como já tinha feito esse serviço outras vezes, achou que não encontraria problemas. Chamou o motorista via aplicativo e convidou o irmão para acompanhá-la.

A adolescente relatou à Polícia Civil que, em março, a pedido do mesmo interlocutor, recebeu a missão e foi até a casa de uma idosa em Vargem Grande do Sul. Pegou dinheiro em reais e dólares, além de joias, depositando, em seguida, numa conta bancária.

Ela disse que a quadrilha explora pessoas idosas com base em ameaças e que estava “arrependida porque sabe que tais crimes podem gerar uma parada cardíaca nas vítimas”. Da delegacia, ela foi encaminhada à Fundação Casa e vai responder pelo ato infracional.

Consequências

No final de abril, a promotora Letícia Macedo Medeiros Beltrame denunciou o estudante pelos crimes de associação criminosa, extorsão contra pessoa idosa e corrupção de menores, pela participação da adolescente no crime.

Em seu depoimento à polícia, o rapaz confessou que portava a maconha no momento da abordagem. Confirmou que veio da capital e foi até a casa onde a irmã estava. Ela passou a digitar em seu celular e chamou a corrida pelo aplicativo, insistindo para que ele fosse até a casa de uma “tia pegar um presente”. Disse achar esquisito, mas acompanhou a jovem, quando foi detido.

O juiz da 1ª Vara Criminal de Limeira, Rogério Danna Chaib, aceitou a denúncia e abriu a ação penal. A primeira audiência de instrução foi agendada para 21 de julho.

Após muito susto, nervosismo e o que chamou de tortura psicológica, dona Amália, que desconhecia por completo quem era a mocinha a quem foi entregar o pacote, recebeu o dinheiro de volta na mesma noite. Ela não teve prejuízos econômicos. Os psicológicos, sim.

Foto: Pixabay

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