QUARTETOS FANTÁSTICOS: encontrando tesouros no streaming

por Farid Zaine
@farid.cultura

Esqueçam por um tempo os blockbusters que inundam as salas de cinema de todas as cidades, e no interior passam a ser praticamente as únicas opções: pior, em salas que testam os nervos de quem ama cinema, com som de péssima qualidade, e geralmente sem uma única sessão legendada. Haja paciência. Em casa ficam as incontáveis opções oferecidas pelo streaming, e não raro perdemos muito tempo na escolha de um programa, bombardeados que somos por múltiplas e sedutoras possibilidades.

Pois bem, aí moram tesouros que fazem a felicidade dos cinéfilos. Hoje é possível tanto curtir “Viagem à Lua “ de Georges Mèliés, do longínquo 1902, quanto passear pelas montanhas flutuantes de Pandora, no “Avatar” de James Cameron de 2009, sem sair do sofá. De certa forma, podemos usufruir das delícias de um cineclube com milhares de ofertas de obras-primas , mas ao mesmo tempo também das mirabolantes e pirotécnicas aventuras de super heróis e similares.

As sugestões a seguir são para quem busca joias raras para curtir em casa, e um fim de semana que parece um trailer do inverno é bem apropriado para esse exercício de descoberta ou revisão, que será sempre prazeroso. Proponho que os leitores façam uma busca rápida e topem com dois quartetos fantásticos: não, não me refiro a nenhuma franquia da Marvel, pois os quartetos que mencionei são de atores e atrizes realmente fantásticos, não por peripécias em universos de ficções delirantes, mas por interpretarem de forma absolutamente genial personagens marcadas para sempre na história do cinema.

O primeiro deles é o mais do que clássico “Uma Rua Chamada Pecado”, a obra-prima do teatro levada à tela por Elia Kazan, em 1951. O título brasileiro não tem nada a ver com o original, “Um Bonde Chamado Desejo”, que deveria ser mantido. No filme, na sua história, há realmente um bonde chamado desejo, mas nenhuma rua chamada pecado. Enfim, isso posto, vamos ao longa: o quarteto aqui é formado por Viven Leigh, interpretando uma das mais icônicas personagens do teatro e do cinema, Blanche Dubois, contracenando com o então novato Marlon Brando, que explodiu na criação do bruto e sensual Stanley Kowalski; completando o quarteto, Kim Hunter é Stella e Karl Malden é Mitchell, ambos premiados com o Oscar de coadjuvantes, juntando-se a Vivien, eleita melhor atriz. Não bastasse a obra ser densa, intensa e fascinante, somos todo o tempo possuídos pelo talento soberbo desses atores e atrizes. Está aí um filme que não pode deixar de ser conhecido por quem ama o cinema, e uma indicação mais do que necessária para quem começa a estudar as maravilhas da sétima arte.

O outro quarteto foi formado em 1966, quando um consagrado texto de Edward Albee foi levado ao cinema por Mike Nichols. Desta vez se juntam, em formidáveis embates, dois dos mais amados monstros sagrados do cinema: Elizabeth Taylor e Richard Burton, formando o casal principal de “Quem Tem Medo de Virginia Woolf”, Martha e George. Fabulosos, eles encontraram no filme um casal de coadjuvantes à altura da exigência do texto de Albee: Sandy Dennis e George Segal, como Honey e Nick. Uma noite de poderosos duelos verbais em que se confrontam quatro pessoas que remexem em seus passados , às vezes com total brutalidade, outras com infinita ternura, é o espaço temporal desse drama. Liz Taylor ganhou seu segundo Oscar, e os coadjuvantes Dennis e Segal foram premiados.

Como Marlon Brando em “Uma Rua Chamada Pecado”, Burton também não ganhou o Oscar de Melhor ator. Brando perdeu para Humphrey Bogart, por “Uma Aventura na África”, e Burton perdeu para Paul Scofield, por “O Homem que não Vendeu sua Alma”. Coisas do Oscar.

Eis então os dois quartetos fantásticos de que falei: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter e Karl Malden em “Uma Rua Chamada Pecado” (Um Bonde Chamado Desejo) e Liz Taylor, Richard Burton, Sandy Dennis e George Segal em “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf”. Esses brilhantes quartetos estão nas duas pérolas comentadas e que podem ser vistas pelos assinantes da HBO Max , por exemplo. De qualquer forma, são filmes facilmente encontrados.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, 1951, direção de Elia Kazan)
Cotação: *****ÓTIMO
Quem Tem Medo de Virgínia Woolf (Who´s Afraid of Virginia Woolf, 1966, direção de Mike Nichols)
Cotação: *****ÓTIMO

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