Pirâmide Social

por João Geraldo Lopes Gonçalves

Quero me livrar dessa situação precária
Onde o rico cada vez fica mais rico
E o pobre cada vez fica mais pobre
E o motivo todo mundo já conhece
É que o de cima sobe e o de baixo desce

(Trecho de Xibom Bombom, As Meninas)

Esta canção vem do universo da música baiana dos anos 90. Foi durante a explosão da axé music, que revelou Daniela Mercury, Ivete Sangalo e outros.

Esta banda formada só por mulheres nos chamava a atenção para os temas que ela levantava. Letras como da obra acima mostrava uma realidade que se vivia e que se vive no Brasil de hoje.

A tal Cadeia Hereditária ou a mais popular Pirâmide Social. Para as Meninas, não havia dúvida de que o País herdava, em séculos um quadro real de distanciamento entre ricos e pobres, onde como a letra sugere, os de cima crescem e os de baixo descem.

Nos anos 80, nas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica se utilizava o método ver/julgar e agir para fazer leitura de cenário. No ver, o diagnóstico social era ilustrado pela Pirâmide Social.

O assunto da pirâmide para o texto desta semana nos fez recordar estes fatos acima relatados, mas em especial matéria publicada pelo portal UOL com o Secretário Nacional da Receita Federal, José Tostes.

O secretário responde ao portal, acusação de empresários, de que se a alíquota do imposto de renda for alterada, como o governo vem anunciando, haverá aumento para a pessoa física.

Testes afirmam que o aumento será para a pessoa jurídica, e não tão significativo, e faz uma grave denúncia: 20.850 pessoas que receberam 250 bilhões não pagam impostos sobre este valor e, sim, 1,8% apenas do total.

A justificativa para reajuste de alíquota, se pensarmos na premissa de que grandes fortunas e rendimentos devem contribuir com maiores cotas para o Estado, não há dúvida de que a concordância conosco.

Não achamos que o governo Bolsonaro, que isentou o agronegócio de taxas e alíquotas, que protege madeireiros e predadores do meio ambiente, leve a sério a taxação de grandes riquezas.

Mas não se pode negar que uma das soluções para o combate à fome e à miséria é uma distribuição de renda justa, onde se diminua o acúmulo de grandes corporações e famílias.

As desigualdades sociais são, sem dúvida, o maior problema do País. Desde a chegada dos portugueses a linha que divide privilegiados da grande massa da população, só aumenta.

Na história do Brasil, tivemos poucos momentos em que uma estabilidade econômica pode proporcionar uma distribuição em que diminui-se a linha tênue da pobreza. Podemos citar aqui períodos de pequena prosperidade.

Foram períodos de estabilidade da democracia: o governo Juscelino Kubistchek, no final dos anos 50; a estabilidade da moeda com Fernando Henrique Cardoso e os anos Lula, e o primeiro de Dilma Rousseff, em que politicas públicas beneficiaram os mais pobres, onde o salário médio cresceu na casa dos 70%.

Foi neste período também que o País começou a sair de um patamar de 50 milhões abaixo da linha da pobreza para um pouco mais que 20 milhões. No entanto, após 2015, a roda da fortuna para os pobres e também para classe média, começa a degringolar.

Segundo o relatório de desigualdade social da Escola de Paris:” 1% da população (cerca de 1,4 milhão de pessoas) concentra 28,3% dos rendimentos no País, com média de ganhos de R$ 140 mil por mês. De outro lado, os 50% mais pobres (71,2 milhões de pessoas) ficam com 13,9% – que representa menos da metade do 1% mais rico. Essa parcela tem, em média, ganhos de R$ 1,2 mil mensais”.

Dados recentes apontam para o aumento significativo da linha da pobreza, colocando o Brasil novamente no mapa da fome, agravado com a pandemia.

Na mesma toada, já estamos próximos de 15 milhões de desempregados, onde o auxílio emergencial do governo não consegue cobrir.

Por isto, a Pirâmide Social está com a tendência de voltar a números assustadores parecidos com os do início dos anos 80 do século passado, onde a dívida externa corroía nossas reservas cambiais, aliada à inflação astronômica.

Mas hoje não temos a dívida, nem inflação.

Mas temos genocídio e corrupção.
E agora, Brasil?

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor, consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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