O debate adiado e a falta de uma agenda para o país

Por Leandro Consentino

Esta é mais uma eleição em que o Brasil desperdiça uma excelente oportunidade para discutirmos uma agenda de desenvolvimento em detrimento de um debate estéril entre um fascismo mal-ajambrado e um comunismo imaginário. Na realidade, nenhuma dessas ideologias têm significado real nos dias que correm e a identidade entre seus representantes está completamente imbricado no atraso e na subordinação ao Centrão.

Já se passaram quase trinta anos de quando o Brasil alcançou reformas importantes como a integração de serviços públicos ao capital privado – de onde vieram as exitosas experiências da privatização das telecomunicações e das concessões rodoviárias, por exemplo – ou da estruturação de serviços públicos como a educação e a saúde, ainda que careçam de avanços na questão da qualidade.

Os desafios atuais, para além da melhora desses serviços, residem na volta da estabilidade macroeconômica e na melhor qualidade de vida da população. Enquanto a primeira foi dragada por sucessivas crises, oriundas de eventos internos (Nova Matriz Econômica do PT) e externos (pandemia de covid-19), a segunda ainda não foi bem respondida, sobretudo em alguns campos como a segurança pública.

Além disso, ainda há a agenda da inovação, onde o Brasil, que não passou de forma competente pelos desafios da terceira revolução industrial, será jogado na quarta etapa deste processo, sem qualquer preparo ou reflexão maior sobre o tema. Nesse momento, constatamos o preço altíssimo a pagar pelo descaso com a educação que assola nosso país desde muito tempo.

Diante de tantos desafios, fica a pergunta: O que os candidatos que lideram as pesquisas, ambos já tendo governado esse país, propõem para o futuro? Que visão de Brasil, hoje já com 200 anos, podemos esperar de eventuais novos governos? Se evitarmos as platitudes e as palavras de ordem, veremos que não sobra muita coisa. A demagogia viceja exatamente onde a discussão de ideias permanece infértil.

O debate será novamente adiado e a sensação amarga é de que estamos há mais de duas décadas girando em falso sobre temas de moralidade pública, sem discutir exatamente para onde vamos. Ou bem o Brasil se olha no espelho e começa a corrigir essa triste imagem que verá refletida, ou estaremos condenados a repetir perpetuamente esse círculo vicioso que compromete não só os dias atuais como as próximas gerações. 

O Brasil e os brasileiros merecemos mais e já passou da hora de, em lugar de virarmos as páginas, mudarmos o livro. Se recorrermos aos bons exemplos internacionais, veremos que, desde os países nórdicos até o Japão, a melhor chance que temos é privilegiar a educação de nossos filhos. Não uma educação contemplativa e decorativa, mas uma educação cidadã em que o aluno se torne protagonista e possa desenvolver habilidades individuais e responsabilidades coletivas.

Tudo isso, precisa ser calcado em métricas claras de desempenho, aprendizado centrado nos alunos e coleta permanente de evidências científicas que visem o aperfeiçoamento de nosso sistema educacional como um todo. Para isso, precisamos romper com certas instituições informais que permeiam o Brasil desde o século XIX, superar o conflito de ideologias que remonta ao século XX e, finalmente, desembarcar no século XXI. Urgentemente.  

Leandro Consentino é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor em Ciência Política pela mesma instituição. Atualmente, é professor de graduação no Insper e de pós-graduação na FESP-SP.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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