Não confunda o Príncipe de Maquiavel com o Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry

por Roberson Augusto Marcomini

Infelizmente esta confusão não é novidade quando você ministra aula em filosofia. A notícia que um advogado defendeu um réu e confundiu o Príncipe de Maquiavel com o Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. É bom lembrarmos que a obra o Pequeno Príncipe foi publicado em abril de 1943 em inglês e francês em Nova York, já a obra de Maquiavel com a diferença de quatrocentos anos, pois a obra foi publicada em 1532.

Em 2016 promotores confundiram “Hegel” e “Engels”, ministro confundir o pensador “Kafka” com “Kafta”. No mundo acadêmico sempre proponho aos alunos ler e questionar o que acabaram de ler, além da apostila ou livro didático indico livros que possam conduzir os alunos a autonomia em seu pensar, pena que muitas vezes não surti um efeito rápido, mas que bom que alguns momentos da vida aparece uma pessoa fazendo esta confusão na mídia e nos ajudando a reforçar o alerta para um erro que não podemos repetir e achar normal.

Podemos interpretar de vários modos estas obras a partir dos pés que nossa realidade toca. O Príncipe de Maquiavel é muito anterior ao Pequeno Príncipe, ela foi elaborada no período do Renascimento, e é considerada uma obra fundamental na filosofia política, além de um clássico. Na obra o Príncipe de Maquiavel o livro retrata um alerta aos governantes sobre como obter e manter o poder em uma sociedade política instável. Neste quesito ele desafia as nossas concepções morais tradicionais ao sugerir conceitos como virtude e fortuna dentro desta relação política e moralidade. É preciso reforçar também que a famosa frase “os fins justificam os meios” não consta em sua obra, mas a frase acabou sendo a síntese de todo o seu legado. Na verdade, esta frase é do poeta romano Ovídio.

O Livro de Antoine de Saint-Exupéry é uma obra muito famosa, escrita em meados da 2ª. Guerra Mundial, e gira em torno de um piloto de avião que cai no deserto do Saara e encontra um pequeno príncipe que viaja entre planetas em busca de conhecimentos e experiências. E muitos temas com uma certa profundidade como solidão, amizade natureza humana e o significado da vida.

As duas obras não têm nada em comum quando propomos uma certa aproximação dos temas, afinal além da distância, são temas relevantes, mas com destinos diferentes.

O que há em comum nessas duas obras? A notória necessidade em consultar a fonte, aprimorar-se em conhecer de fato a contextualização dos escritores e suas obras. Hoje tornou-se ferramenta de marketing e encantamento utilizar-se de frases aleatórias para causar impacto, porém, em tempos de tantas facilidades há pouca coerência, profundidade e ressalto, ao colocar de forma tão equivocada desrespeita-se a história, a literatura e sobretudo a educação.

Roberson Augusto Marcomini é graduado em Teologia, tem licenciatura plena em Filosofia, doutorando em Sociologia, mestre em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, membro do Grupo de Pesquisa do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP/UFSCar), membro do Grupo de Pesquisa Ética e Justiça (Unicamp/Limeira)

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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