por Farid Zaine
@farid.cultura
A maior curiosidade para o público brasileiro, claro, ao assistir “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, era ver como seria a participação de nossa estrela, Maria Fernanda Cândido. A atriz brasileira, que desenvolve um trabalho consistente na Europa, incluindo a participação no filme “ O Traidor”, de Marco Bellocchio, causou ansiedade no público, pois aparecer num filme dessa natureza, blockbuster por antecipação, não é para qualquer um. Ela aparece com destaque, sim, mesmo que por poucos minutos, e com apenas duas falas. Mas a personagem vivida por ela é Vicência Santos, Ministra da Magia do Brasil, e sua imagem surge poderosa nos momentos cruciais da trama do longa. Bela e elegante, a figura de Maria Fernanda Cândido causou frisson na sessão em que assisti ao filme, muitos espectadores aplaudindo. É compreensível. Talvez ela ganhe maior destaque nas sequências que poderão vir.
À parte esse detalhe relevante para o público brasileiro, vamos ao filme: “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, repete a fórmula concebida por J.K. Rowlings para os dois primeiros longas, surgidos como uma necessidade de manter vivo o interesse pelo universo dos bruxos criado para a saga de Harry Potter, fenômeno mundial. O surgimento dessa nova franquia trouxe novidades, como os “animais fantásticos” que o título sugere, mas nada comparável à deliciosa história do bruxinho Harry Potter e seus amigos, na suntuosa Hogwarts. Claro, as figuras fundamentais dessa cinessérie permanecem na nova franquia, com mistérios de suas histórias revelados enquanto se desenrolam as aventuras de Newt Scamander, o “magizoologista” interpretado por Eddie Redmayne.
O novo roteiro de J.K.Rowlings e Steve Kloves, que ganhou a direção de David Yates, trata agora de mostrar o ralacionamento verdadeiro entre Alvo Dumbledore (Jude Law) e o poderoso Grindelwald (Mads Mikkelsen). Dumbledore precisará agora de toda a trupe que acompanha Scamander , incluindo seu irmão Theseus (Callum Turner) e o sempre engraçado Jacob (Dan Fogler). O acontecimento principal será a eleição do maior cargo entre os magos do mundo, e a decisão caberá a uma criaturinha encantadora, um dos novos “animais fantásticos” apresentados.Trata-se de qilin, realmente a melhor sacada do filme, tanto pela delicada e complexa criação e movimentação do bichinho, quanto pela sua importância na condução da história.
“Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” agrada aos fãs da cinessérie, mas não é nada excepcional. É longo demais. Seus 142 minutos de duração trazem muitos momentos de “barriga”, que provocam tédio e cansaço. Mais enxuto, com uma meia hora a menos, o filme renderia mais.
Os tais segredos de que o título fala, não causam estranhamento algum. Nem o principal, que revela a verdadeira natureza de sentimentos que unia Dumbledore e Grindelwald na juventude. Na verdade, todo mundo já vai ver o filme sabendo do que se trata, pois o assunto já era bem discutido anteriormente. Nos dias de hoje, o caso dos dois é aceito com absoluta tranquilidade, como tem de ser, mas seria pouco provável que fosse assim num passado não muito distante. Segredos familiares passam a ser, então, mais importantes, mas também sem impacto.
Jude Law está muito bem como um Dumbledore entristecido e cheio de lembranças dolorosas. Mads Mikkelsen, como sempre, confere dimensão extra ao tamanho da personagem que lhe é entregue, coisa de grande ator. Eddie Redmayne, desta vez, parece um coadjuvante meio cansado. E ele é excelente ator, como é possível ver na sua impecável atuação merecedora do Oscar em “A Teoria de Tudo”, e como é fácil comprovar sua versatilidade ,tanto no belo “A Garota Dinamarquesa”, em que faz uma mulher transexual, como no musical “Les Misérables”, em que solta a voz com propriedade.
Enfim, mais um filme a ocupar a maior parte das salas em sua estreia. A recepção morna pode ser também consequência das declarações transfóbicas de J.K.Rowling, o que lhe rendeu um enorme transtorno, tão difícil de contornar quanto criar grande interesse para seu novo roteiro.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore – Coprodução entre EUA e Reino Unido, 2022 – Direção de David Yates – Em cartaz nos cinemas
Cotação: ***BOM
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