A Limeira dos pobres

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Nasci e vivo em Limeira no interior de São Paulo há menos de 200 km da capital. Uma cidade de trezentas mil pessoas, onde o sol nasce forte e se põe com a mesma intensidade.

Limeira, ex-capital da laranja, hoje tem uma economia diversificada com a indústria do folheado e de autopeças ainda majoritários, mas um terceiro setor que, apesar da pandemia, ainda tem significância, seja na geração de emprego, seja na renda. Um município que, nas últimas duas décadas, tem se tornado um polo universitário e tecnológico de relevância no Estado, trazendo para cidade jovens de todo o País e também do exterior.

Limeira é, sim, um dos berços da imigração europeia, mas também o é da migração de trabalhadores vindos em especial de Minas, Paraná e Interior de São Paulo. A mistura de raças é evidente entre o nosso povo. Aqui o negro, o branco, o índio, o oriental se misturam, criando um cinturão de diversidades seja sexual, religiosa, política e, claro, cultural.

A cidade não se resume a Praça Toledo de Barros, ou a Vila Claudia ou a Boa Vista. A cidade tem a periferia onde se produz cultura do hip hop, outros ritmos e manifestações populares.

A obra Vidas Marcadas, do militante e defensor de direitos humanos José Galdino Clemente de Souza, busca mostrar a Limeira do além-Centro Comercial, além do bar do Fernando. O livro, que foi resultado de financiamento coletivo, mostra o conhecimento de Galdino da cidade onde nasceu, cresceu, trabalha e atua.

Mas não é um livro que segue uma lógica de exaltação. Pelo contrário, às vezes se torna ácido e desnuda hipocrisias e discursos populistas e ilusórios. Galdino não faz concessões em seu romance. Sim, é uma obra de ficção, mas que mistura nomes reais com imaginativos. Locais verídicos com ficcionais. Parece que o autor quer que façamos um exercício de separar o limite do real, do não real.

O limite entre uma história que narra contradições, com análises de como nossa sociedade no Brasil e no mundo está estruturada. A separação de classes sociais é nítida e clara nas mais de 220 páginas do livro.

A exclusão social e suas razões estão incutidas nas histórias de Galdino, muitas – e não tenho dúvidas – vivenciadas por ele e vividas por ele. Descrever personagens reais como Pinheiro Alves, seu Pai o Grande Glostóra, a travesti da carroça de reciclagem, de uma forma a não suscitar polêmicas, mas de apontar a participação de ambos na vida do limeirense, é sensacional, mesmo que seja sabido que com alguns o próprio Galdino tinha divergências.

A obra é um desnude de uma cidade. É a apresentação de uma realidade que é negada por alguns, que insistem em tratar a maioria das pessoas como invisíveis. Galdino dá vida aos invisíveis, aponta suas dificuldades e seus anseios. O livro tem lado, tem posição, não é alheio ao que acontece ao seu redor.

Sem ser cronológico, Vidas Marcadas ora nos leva a tempos idos, ora nos fala deste tempo de pandemia, onde poucos têm muito e muitos têm pouco. O livro tem capa desenhada pelo próprio Galdino e, em seu interior, também ilustrações feitas pelo autor, que é artista plástico. Li, gostei e recomendo.

O livro de Galdino, Vidas Marcadas, se encontra disponível para venda no Sindicato dos Bancários, na Rua Dr. Sebastião Toledo Barros, 34, Centro, telefones (19) 3443-1440/3443-1365. Valor de R$ 40,00. Se preferir, pode transferir direto para conta do Galdino na Caixa: José Galdino Clemente de Souza – CPF: 962.357.568-87 e conta: 0317 013 00110034-8, ou pelo PIX: 19994084378.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor, consultor político e cultural

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