A repercussão sobre os áudios vazados do deputado estadual Arthur do Val (Podemos), o “Mamãe Falei”, sobre as mulheres da Ucrânia, país em guerra com a Rússia, também vai chegar ao plenário da Câmara Municipal de Limeira. Quatro moções de protesto contra o parlamentar foram protocoladas nesta segunda-feira (07/03) e já podem ser lidas na sessão de hoje.
A primeira moção que entrou no sistema foi feita pelos vereadores Nilton Santos e Francisco Maurino dos Santos, ambos do Republicanos. “As declarações do deputado são repugnantes, asquerosas e uma das maiores indignidades que já vimos. Agridem as mulheres, envergonham o Brasil, enxovalham a política. Pior, foram feitas em um contexto de guerra e dor”, aponta a dupla.
O deputado retornava ao Brasil após viagem à Ucrânia, quando enviou áudios em um grupo de amigos. Neles, há declarações consideradas machistas e sexistas: “São fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara e aqui são supersimpáticas”, diz um dos áudios.
Em outro trecho, ele afirmou: “Acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Sem noção, inacreditável, é um bagulho fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”. As falas, principalmente sobre as refugiadas ucranianas em situação de vulnerabilidade, repercutiram de forma negativa no Brasil e no mundo.
“As palavras do deputado evidenciam que o machismo é um dado cultural que ultrapassa classes sociais e ideologias, contaminando até aqueles que, nas altas funções que exercem, deveriam zelar pelo humanismo e pelo respeito às mulheres, em atos e palavras”, completam Nilton e Ceará.
Já em sua moção, a vereadora Constância Félix (PDT) cita que, “em nenhuma esfera de poder, os comportamentos agressivos às mulheres devem ser considerados naturais. Que as declarações lamentáveis do deputado levem ao Congresso Nacional a olhar com mais responsabilidade e senso de justiça os inúmeros projetos que tramitam no congresso, de interesse e de proteção as mulheres”.
A terceira moção foi apresentada por todas as mulheres parlamentares de Limeira: Mariana Calsa (PL), Isabelly Carvalho (PT), Constância, Lu Bogo (PL), Tatiane Lopes (Podemos) e Terezinha da Santa Casa (PL). “As declarações machistas objetificam as mulheres em um cenário de grande fragilidade que a guerra impõe. É papel da Procuradoria Especial da Mulher se posicionar em um caso de grande relevância nacional para que fique evidente o repúdio ao evento e a necessidade de uma repreensão veemente às declarações para que esse tipo de discurso tenha cada vez menos espaços em nossa sociedade”, diz o documento.
A quarta moção foi protocolada por Isabelly. “As falas que se tornaram públicas carregam um profundo teor preconceituoso, machista, misógino, sexista que desrespeitam não apenas as mulheres ucranianas, mas todas as mulheres afetadas ou não pelo estado de guerra”, escreveu a parlamentar.
“Mamãe Falei” confirmou ter enviado os áudios e pediu desculpas. “Foi errado o que eu falei, não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro, em um momento de empolgação. (…) Eu só quero que as pessoas me julguem pelo que eu fiz, não pelo que eu não fiz”, declarou. Na eleição de 2018, ele recebeu 3.197 votos em Limeira.
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) já recebeu representação, feita pela deputada Isa Penna (PSOL), que pede a cassação de Arthur do Val. Ele também renunciou à pré-candidatura ao governo de São Paulo neste final de semana após os áudios vazados.
Foto: Alesp
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