Pesquisas de intenção de voto influenciam o eleitor?

por João Geraldo Lopes Gonçalves

A partir de hoje, podemos contar 32 dias para o brasileiro acima de 18 anos obrigatoriamente e jovens de 16 anos, de forma facultativa, irem às urnas eletrônicas escolher seus candidatos aos cargos de presidente, governadores de Estado, senadores, deputados federais e estaduais. Uma eleição quase casada, que desperta a atenção não só do País, mas do mundo.

O Brasil é a maior potência econômica, política e cultural da América Latina ao lado do México e o que acontece aqui tem repercussão no restante do continente. Os olhos e os corações de chefes de estado, lideranças populares, meios de comunicação e outros se voltam para o pleito de 2 de outubro próximo.

Por isto a preocupação de democratas com as ameaças de bolsonaristas e do próprio presidente da República em questionar a lisura das urnas eletrônicas e afirmar que pode não aceitar o resultado que vier delas.

Bolsonaro, na sabatina da Rede Globo, deixou claro que aceita os resultados “se não tiver suspeitas de fraude”. Como ele e sua claque estão há quatro anos dizendo que o Tribunal Superior Eleitoral encoberta supostas fraudes, as quais ele (o presidente) nunca apresentou provas, ficamos na sugestão de que, no mínimo, se repetiria aqui a tentativa frustrada de golpe de Donald Trump no Parlamento Americano, após ser derrotado nas eleições.

Aliás, no próximo dia 7, Dia da Independência, bolsonaristas vão as ruas e a propaganda e o barulho que se faz nas redes sociais teriam um ensaio de golpe. Este escrevinhador acredita que não.

Nem no dia da Independência, nem após as eleições. No mínimo Bolsonaro e seu grupo pretendem, neste momento, fortalecer a campanha e tentar virar o jogo, já que todas as pesquisas de opinião o colocam abaixo do ex-presidente Lula.

Pesquisas eleitorais no Brasil são recentes se comparadas com os Estados Unidos, que já as possui há mais de cem anos. Embora a adoção de pesquisas já vinha sendo feita no Brasil, as mesmas dizendo respeito a publicidade de produtos anunciados no rádio, o maior veiculo de comunicação, até meados dos anos 60 do século passado. Foi entre as décadas de 30 e 40 que as ´primeiras empresas e agências de publicidade surgem para efetuar pesquisas.

Um destes institutos é o antigo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Criado em 1945, produziu a primeira pesquisa eleitoral um ano depois nas eleições a prefeito da capital São Paulo. Antes disto, o boca a boca, a percepção, é que determinava uma tendência a escolha de candidatos, que se definiam por meio do poderio de suas campanhas, que até os dias de hoje influenciam na opinião do eleitor.

Mas o fenômeno das pesquisas como ferramenta de influenciar e mudar um cenário eleitoral se fortalece e vai fazer parte da vida do brasileiro nos anos 80. Cada vez mais com advento da televisão e do jornalismo político, a coleta de opiniões e sua divulgação passa a ser importante e em alguns casos preponderante e decisivo para definição das eleições.

Atualmente, temos diversos institutos, entre eles o Ibope, hoje IPEC, que fornecem números toda a semana, abastecendo a imprensa, formadores de opinião e partidos para consequente análises.

Alguns candidatos, como Jair Bolsonaro, menosprezam em público resultado dos levantamentos, dizendo não acreditar em supostas manipulações, em especial quando este mesmo candidato vê os resultados lhe sendo desfavoráveis. A verdadeira pesquisa é as ruas e as urnas, diriam candidatos cascudos para tentar desviar das pesquisas.

Entendemos que o instituto de pesquisas, nos dias atuais, tem cada vez mais se aprimorado e transformado seu desenvolvimento em ciência. Não acredito e minha experiência de mais de trinta anos na política não me deixa se equivocar em tentativas deste ou daquela empresa em mexer na realidade do momento para favorecer este ou aquele candidato.

Como disse acima, pesquisas refletem o momento de uma campanha, não são definitivas. Elas podem mudar radicalmente no curso dos dias, em especial quando se aproxima do pleito. O que define posições nas pesquisas são as ações dos agentes políticos que podem ou não mudar um quadro de uma coleta anterior.

Esta semana, mesmo o bolsonarismo afirmando que a maioria das pesquisas são para favorecer Lula, todas sem exceção guardando as devidas metodologias que diferem de um instituto para outro, o números se assemelham dentro da margem de erro.

De acordo com o agregador de pesquisas do jornal O Estado de São Paulo, que converge 14 institutos, incluindo os maiores como Datafolha e o IPEC, o ex-presidente Lula lidera com uma vantagem de 12 pontos sobre Bolsonaro. A diferença já foi maior, mostrando que o atual presidente cresceu no mês de agosto. Porém, seu crescimento e a oscilação de Lula foram dentro da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Jair, mesmo com o pacote suspeito de estelionato de “bondades” eleitorais como o Auxilio Brasil, não cresceu como seus apoiadores imaginavam, a ponto de virar o jogo. Porém, todas as pesquisas já não têm segurança de que o processo termine no primeiro turno.

Com o início da campanha oficial, a exposição dos candidatos é bem maior, com programas eleitorais, sabatinas, debates e outras ações. Com isto, estes eventos ajudam o eleitor ir se definindo.

Esta semana, se Lula caiu e Bolsonaro subiu os dois na casa da margem de erro, candidaturas do chamado Centro Político, como Ciro Gomes e Simone Tebet, cresceram e podem ser motivo para termos o segundo turno.

Pelas pesquisas, mesmo com alterações, a tendência de vitória de Lula, mesmo no segundo turno, pode mostrar que tanto Bolsonaro como o ex-presidente podem ter chegado a seu teto de votos. No entanto, o Centro, em especial Ciro e Simone Tebet, podem ser decisivos tanto para evitar terminar em 2 de Outubro, como para sua definição já na primeira rodada. E aí a tendência do voto útil pode favorecer Lula neste estrato de votos.

Um outro dado importante é a rejeição de Bolsonaro que continua alta e não dá sinais de que pode abaixar. Se não ocorrer a migração dos que o rejeitam, dificilmente o presidente consiga a reeleição.

Fatos que podem influenciar as próximas pesquisas, como as recentes denúncias de corrupção no caso de compra de imóveis pelo clã Bolsonaro e o antepetismo aumentando, são as apostas. Portanto, para quem tem dúvidas sobre a importância das pesquisas para colaborar na definição de voto, afirmamos que elas são fundamentais.

Até semana que vem!

João Geraldo Lopes Gonçalves é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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