Pausa para um adeus

Por Farid Zaine
@farid.cultura

Fechou-se um importante capítulo da história da cultura brasileira com a morte de Jô Soares. Fechou-se porque ele não mais poderá produzir talk-shows, sitcoms, filmes, livros, peças de teatro. Mas o acervo composto por sua vasta obra, esse ficará para sempre. Jô foi um multiartista, atuando com a mesma capacidade criativa em diversas linguagens, destacando-se sua imensa contribuição ao humor brasileiro, através das personagens antológicas que criou e suas famosas entrevistas com personalidades de todo o mundo.

Inteligente, criativo, provocador, conhecedor dos mais diversos assuntos e falando vários idiomas, Jô Soares marcou sua passagem pela história da televisão brasileira, pela literatura, pelo teatro, pelo cinema.

Neste momento, quando escrevo este artigo, o Brasil inteiro já comentou sobre a rica biografia de Jô Soares e o significado de sua morte, aos 84 anos. Ninguém que está ligado às artes, ao jornalismo, contudo, pode deixar de registrar sua manifestação de pesar e colocar sua forma de reconhecimento ao trabalho desse homem tão querido pelo povo brasileiro.

Muita coisa, felizmente, está registrada para sempre sobre a variada e sempre interessante obra de Jô Soares, sejam os impagáveis episódios de “A Família Trapo”, estrondoso sucesso nos anos 1960, os humorísticos da Globo (Faça Humor, Não Faça a Guerra e outros), os talk-shows no SBT e depois na Globo. Seus livros , como “O Xangô de Baker Street”, levado ao cinema, “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” e “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, sucessos literários, com certeza voltarão a gerar interesse agora para os antigos e novos leitores. Ele estava escrevendo um novo romance policial, que permanece incompleto.

Trabalhador incansável, Jô estava dirigindo um novo espetáculo para o teatro, talvez a sua despedida. Trata-se de “À Meia Luz”, que já tinha data de estreia: 9 de setembro no Teatro Procópio Ferreira. Com certeza,  o projeto terá andamento com um novo diretor, até por homenagem a Jô Soares. “À Meia Luz” (Gaslight) foi uma peça escrita pelo inglês Patrick Hamilton e gerou dois filmes: um de 1940, dirigido por Thorold Dickinson e outro de 1944, dirigido por George Cukor e com Ingrid Bergman à frente do elenco.

Tento buscar na memória momentos marcantes de Jô Soares , mas são muitos, muitos. Lembro-me de uma foto de uma entrevista que Jô fez com Hebe Camargo: os dois aparecem gargalhando, e é como se ouvíssemos as risadas deles, mesmo sem assistir ao vídeo. Essa e outras serão imagens eternas na história da televisão brasileira.

Se alguém quer ver coisas ligadas à incrível produção de Jô Soares, vou deixar duas dicas de filmes que podem facilmente ser encontrados: um bem no início da carreira do humorista, datado de 1959, e que se transformou numa das melhores comédias já produzidas no cinema nacional: “O Homem do Sputnik”, dirigido por Carlos Manga, com Norma Bengell, no auge da beleza,  fazendo uma impagável paródia de Brigitte Bardot. E outro mais recente, baseado num livro de Jô, “O Xangô de Baker Street”, coprodução luso-brasileira dirigida por Miguel Faria Jr. em 2001 e que reuniu elenco de artistas brasileiros e portugueses.

Hoje, portanto, façamos uma pausa para o adeus a Jô Soares. Depois fiquemos com seu imenso legado, ao som de risos e aplausos.

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