Meu Policial : Quando amar pode ser crime

por Farid Zaine
@farid.cultura

Harry Styles está na moda. Num curto espaço de tempo, o cantor milionário ganhou mais holofotes no mundo do cinema e do streaming com dois lançamentos quase simultâneos: o longa “Não se Preocupe, Querida”, ainda em cartaz  nos cinemas e já disponível na HBO Max, e “Meu Policial” (My Policeman), que estreou no Prime Video no dia 4 de novembro. Falemos do que causou mais expectativa, o longa “Meu Policial”, que mantém no Amazon Prime Video o título original, “My Policeman”.

A história é a de um triângulo amoroso que nos dias de hoje não causaria nenhum espanto na maior parte do mundo, mas que na Inglaterra dos anos 1950 seria criminoso: é que o trio de envolvidos era formado por um policial, um curador de museus e uma professora. O policial, Tom Burgess, personagem de Styles, envolve-se emocional e sexualmente com Patrick Hazlewood, interpretado por David Dawson, que introduz Tom ao mundo das artes visuais. Tom e Patrick se apaixonam, mas precisam manter o relacionamento oculto, principalmente por Tom ser um policial, mais um agravante no caso, uma vez que a homossexualidade era considerada crime naquele tempo na Inglaterra. Tom se casa com a professora Marion Taylor, personagem de Emma Corrin, que fez a princesa Diana na quarta  temporada da estupenda série “The Crown”, da Netflix.

O interesse gerado por “My Policeman” vem do fato de ter sido inspirado no livro da escritora Bethan Roberts, que construiu o romance baseando-se numa história real com a qual ficou muito impressionada.

O longa transcorre morno quase todo o tempo, sem que o assunto dramático e tempestuoso ganhe a força que merece. O filme não é ruim, longe disso, mas poderia ser muito melhor. O trio de intérpretes não decola para altos voos. Styles e Dawson formam um par sem muito apelo, falta a  química entre os dois que faça a plateia torcer por um final feliz para o romance, embora desde o início já se saiba como a história dos dois terminará, uma vez que a narrativa toda é feita através de flashbacks. Já Corrin, como a professora que acompanha o drama do marido gay, embora contida, tem presença mais marcante, confirmando o talento já reconhecido pelos prêmios recebidos por “The Crown”. O que teria faltado? Talvez uma maior ousadia por parte da direção de Michael Grandage. Imagino esse trio nas mãos de Ang Lee, que foi o responsável pela adaptação do conto de Annie Proulx , “O Segredo de Brokeback Mountain”, obra-prima que deu a ele o Oscar de Melhor Diretor; pelas mãos de Lee, Heath Ledger como Ennis Del Mar, Jake Gyllenhaal como Jack Twist e Michelle Williams como Alma , deram vida a um dos mais intensos e dramáticos triângulos amorosos da história do cinema. Ang Lee acertou completamente o tom do filme, que desconstruía a imagem do machismo tóxico dos cowboys no cinema ao escancarar um tórrido romance entre Ennis Del Mar e Jack. Isso sem mencionar Anne Hataway, que fazia Lureen, a esposa de Jack, completando assim um inusitado quarteto. A comparação veio pelo fato de uma expectativa criada por “Meu Policial” ter sido um pouco frustrada pelo resultado final.

“Meu Policial” é um filme que cuidou particularmente de sua técnica: a fotografia é eficiente, a reconstituição de época é perfeita, com direção de arte bastante competente.

Nesta semana, em que acontece a 30ª edição do Festival Mix Brasil da Cultura da Diversidade em São Paulo, para quem se interessa mas não pode ir à capital, será uma boa escolha conferir “Meu Policial” em casa e avaliar se Harry Styles deve mesmo investir na carreira de ator.

“Meu Policial” chama a atenção para a época e o lugar onde a homossexualidade era crime : Inglaterra, anos 1950. Mas atenção: não era só lá, e mesmo agora, em pleno 2022, sabemos que isso ainda acontece em muitos países, para o espanto do mundo que valoriza e defende a liberdade de amar.

MEU POLICIAL (My Policeman) – drama com Harry Styles – disponível no Amazon Prime Video

Cotação:***BOM

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