Ele sempre vinha a passos calmos, sorriso estampado no rosto. Abria silenciosamente a porta e começava os cumprimentos. Passava na mesa de cada jornalista. “Como vai a senhorita?”, perguntava às repórteres, para emendar “Como vai o senhor?” aos colegas. De mesa em mesa, percorria toda a redação para depois perguntar: “Onde posso escrever a Janela?”.
João Sebastião de Moraes, nosso João Valdir, tinha muita história. Trabalhou por muitos anos na Prefeitura de Limeira, no setor de comunicação. Brilhou na crônica esportiva nos rádios. Cobria jogos da Inter e do Galo, à beira do campo como repórter ou nas cabines como comentarista. Participava de programas esportivos, sempre com a mesma alegria e desenvoltura.
Cada um tem história para contar junto com João Valdir. Nenhum texto é capaz de resumir uma vida. A trajetória de cada pessoa ressoa de forma diferente em todas as outras com as quais ela se relaciona. Cada um tem o seu recorte, sua forma de contá-la. E como todo repórter, o próprio João encontrou a sua. Perguntas e respostas. Uma trajetória no formato que chamamos, na imprensa, de entrevista “pingue e pongue”.
João Valdir de Moraes criou a sua “Janela do João”. A ideia era, semanalmente, entrevistar uma pessoa. A base, sempre, era o esporte, pelo qual ele era apaixonado. Mas ele expandia essa interpretação. Com o tempo, passou a entrevistar lideranças ou qualquer outra pessoa que pudesse ser homenageada.
A primeira “Janela do João” no formato entrevista foi publicada em 27 de setembro de 1999 pela Gazeta de Limeira. A estreia foi com um ícone do esporte de Limeira: José Carlos da Silva, o Fumaça. A última foi publicada em 25 de fevereiro de 2018, com José Ricardo Estevan de Oliveira, professor para alunos especiais.
Ao longo deste período, foram 910 entrevistas publicadas. João se dizia realizado quando as pessoas retornavam, felizes, após lerem a publicação. Alguns entrevistados se repetiram. Quando o locutor Luciano do Valle esteve no Limeirão para uma transmissão da Inter, lá estava o João para arrancar uma “Janela” exclusiva. Até uma “bruxa” ele entrevistou.
João queria colocar tudo isso em livro. No início de 2019, formatamos a ideia e, para isso, convidamos um amigo em comum, o também já saudoso Walfrido Salvi. Sim, me lembro daquela manhã de sábado no café do supermercado Bom Mix. Levei minhas anotações e, junto com os dois, decidimos as entrevistas que não podiam ficar de fora.
Era uma tarefa difícil. Listamos 300 entrevistas, imaginamos três tomos para incluir tudo. Aos sábados, íamos no arquivo separar o material. Mas tudo tomou rumo inesperado. Veio a pandemia, que adiou tudo. Walfrido nos deixou em março de 2020 com uma contribuição inestimável, também, ao projeto. Retomamos há cerca de dois anos a ideia. Compilei diversas entrevistas. Sempre que conversávamos, falávamos em dar continuidade ao livro e concretizá-lo. O projeto seguiu com suas complicações naturais: autorizações, separação de imagens, transcrição dos textos, tudo isso em meio à escassez de tempo, esse implacável componente da vida que sempre nos alerta a não adiar sonhos ou projetos.
No início da manhã desta segunda-feira de carnaval (12/2), recebemos com tristeza a notícia da morte de João Valdir, aos 72 anos. Ele nos deixou, mas suas entrevistas memoráveis vão ficar nas páginas amareladas pelo tempo e nos corações dos leitores. Registros para a eternidade. As “Janelas do João” são recortes da história da própria Limeira, do esporte de Limeira.
João Valdir está na eternidade. Descanse em paz, João!
Uma homenagem do Diário de Justiça e seus integrantes: Renata Reis, Denis Martins e Rafael Sereno
Foto: Reprodução/Redes Sociais
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