Os Senhores da Guerra – Epílogo (será?)

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem” (Jean-Paul Sartre)

Manhã de 11 de setembro de 2001. Rodoviária de Campinas. No dia anterior, uma notícia entristeceu e derrubou a maioria da militância de esquerda no Brasil e também a população em geral. Era assassinado em uma estrada de Campinas o então prefeito daquela cidade, Antonio da Costa Santos, o Toninho.

Ele tinha sido eleito um ano antes, como uma esperança de reconstruir uma das maiores cidades do País, que vinha de um mandato anterior desastroso e mergulhado em denúncias de corrupção.

A morte de Toninho, além de estar sem uma explicação mais lógica até hoje, frustrou aquelas expectativas de futuro. A nós, naquele momento, só nos restava prestar as últimas homenagens ao arquiteto e companheiro de muitas lutas.

Fomos para Campinas participar do velório, que estava acontecendo na sede da Prefeitura. Era praxe, ao chegar à rodoviária, tomar um café, antes de seguir viagem ao destino. Tivemos que atravessar toda a extensão do local, já que a cafeteria escolhida ficava bem na saída.

Durante o percurso, reparamos que os televisores dos boxes estavam todos ligados em uma imagem só. Tratava-se de um avião chocando-se a duas torres de edifícios, para nós ainda sem identificação. Ao chegar ao café e antes de fazer o pedido, colamos os olhos no aparelho de TV do local e aí começamos a entender.

Atentados terroristas tinham atingido, com aeronaves seqüestradas de passageiros, as famosas torres gêmeas, como era intitulado o centro do capitalismo mundial, o World Trade Center. Além delas, outro avião atingia o centro militar americano, o Pentágono, e outro caiu antes de chegar no alvo: a Casa Branca.

Não demorou meia hora dos ataques, o então presidente americano George W. Bush faz um pronunciamento que vai mudar a configuração geopolítica do Planeta. Bush, um republicano fundamentalista, criticava a globalização nos aspectos de destruir fronteiras econômicas e políticas, mas vinha realizando um mandato medíocre, que fazia com que os Estados Unidos perdessem hegemonia naquele momento.

O Al-Qaeda, um grupo terrorista da Arábia Saudita, que tinha em Osama Bin Laden seu líder, assumiu a autoria dos ataques. George W. Bush em seu pronunciamento, tenta reeditar a Guerra Fria e estabelece dois blocos: o Eixo do Mal, formado por mulçumanos e todos aqueles que os apoiavam, e, claro, o Eixo do Bem, protegido por Deus e liderado pela América, vide Estados Unidos.

Em seguida ao discurso de declaração de guerra, os Estados Unidos invadem o Afeganistão, base da Al-Qaeda e do regime do Talibã e, na sequência, o Iraque de Saddam Hussein.

O interessante é que um dos últimos atos americanos na Guerra Fria foi apoiar Bin Laden contra a invasão russa nos anos 80, no mesmo Afeganistão.

Eixo do Bem, cidadão de bem

A investida americana em mais guerras, desta vez, encontra um mundo em franca globalização, onde não cabia levantar bandeiras de mais sangramento e destruição. A própria comunidade europeia, às voltas com o Euro e toda a transformação que a queda de barreiras econômicas e políticas trouxeram, se envolveu pouco nesta empreitada.

A Rússia e a China condenavam a invasão americana nos Países Árabes, mas não se envolviam belicamente e diretamente nos conflitos. O Brasil de Fernando Henrique e depois de Lula condenaram as intervenções dos Estados Unidos.

No entanto, outro sinistro aparecia ou reaparecia no cenário do Planeta Terra: o fundamentalismo baseado em dogmas religiosos e concepções extremistas, como programa de governo. Após os atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos e diversos outros Países iniciam uma caçada “cívica e cristã”, contra o eixo do mal.

A expressão Cidadão de Bem será ecoada naquela primeira década do século XXI, com os mesmos sendo incentivados por seus governos a caçarem mulçumanos, negros e várias outras fé e etnias. Grupos homofóbicos, discursos machistas, xenofobia sendo praticada aos extremos, intolerância religiosa, e o discurso de ódio, facilitavam a ideologia da guerra e do extermínio.

Renasce a extrema direita, não só nos Estados Unidos, como em varias partes do mundo, como no caso brasileiro, a triste era de um miliciano genocida no poder que tivemos que aturar por quatro longos anos.

O Nazi Fascismo nasceu da Primeira Guerra. O Fundamentalismo Político renasce em 2001 no fatídico 11 de setembro.

Ucrânia, Palestina – cenários de quê?

Pensadores e intelectuais já começam a delinear uma nova ou novas configurações para a Geopolítica Mundial, citando a Guerra da Ucrânia e o conflito Israel-Palestina, como pontos centrais nesta nova formação.

Ainda é muito cedo para delinear caminhos, mas os últimos acontecimentos, como os ataques diplomáticos do Estado de Israel, pedindo a extinção da ONU e a própria organização definindo o conflito como um extermínio israelita ao povo palestino, coloca em xeque o que pode vir pela frente.

Na contrapartida, blocos de nações se juntam para debater uma nova ordem. O G20 que o Brasil preside reúne três grandes potências, quatro contando conosco: Rússia, China e Índia.

As três não se alinham 100% com o G20, trilham caminhos próprios, como o Brasil busca unificar o bloco em torno de políticas da diplomacia, da paz e de uma pauta econômica com base nos direitos humanos.

Outro bloco nada desprezível é o da Comunidade Europeia. O Velho Continente ainda vacila entre apoio aos Estados Unidos e uma postura mais independente. No campo asiático, a China domina parte dele, mas o mundo árabe, quando unificado, se torna relevante. Já o Japão, sempre esperado como uma potência e liderança, é quase um satélite americano naquela faixa de continente.

A África e a América Latina se apresentam como polos importantes de formação de blocos políticos, em especial por conta do Brasil, da Argentina, do México e da África do Sul. Duas questões são certas: não haverá mais uma Guerra Fria, controlada por duas potências, e não é provável que o eixo do mal contra o bem se sustente. No entanto, as guerras ainda serão instrumentos de ampliar poder e riqueza.

A todas e a todos, um feliz final de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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