Sede Assassina: tirando um matador das sombras

por Farid Zaine
@farid.cultura

Bastou um filme dele para que se tornasse, para mim, um dos melhores diretores do cinema argentino contemporâneo: ele é Damián Szifron e o filme é “Relatos Selvagens”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2015, ano em que foi vencedor o polonês “Ida”, também muito bom. Chamado para Hollywood, Szifron veio a dirigir o longa “Sede Assassina”, sobre um atirador de elite que mata dezenas de pessoas sem deixar nenhum vestígio, movimentando a polícia em torno de achar pistas sobre sua identificação e seu paradeiro.

A princípio pode parecer mais um daqueles filmes sobre serial killers que fazem sucesso, alguns sendo realmente ótimos. Aqui o diferencial é a visão do diretor argentino sobre essa “sede assassina” que é tão frequente nos noticiários, quando atiradores matam pessoas em shopping centers, igrejas e escolas nos Estados Unidos, como se essas tragédias estivessem sendo banalizadas, de tanto que se repetem.

Szifron tem um olhar diferente sobre essa questão tão complexa, e traduz isso no seu filme, utilizando sua escolha pelo retrato frio das cidades grandes americanas, sem em nenhum momento usar clichês que caracterizam os costumes tão explorados pelo cinema sobre aquele país. Mas, claro, não faltam boas cutucadas sobre o FBI e sua relação com a política.

Em “Sede Assassina”, a jovem e talentosa Shailene Woodley vence o desafio de interpretar uma policial em geral silenciosa, cujo passado conhecemos aos poucos. Ela, por carregar uma dor que se arrasta desde a infância, tem um faro melhor para descobrir e compreender gente como ela, isto é, que também carrega pela vida o peso de traumas sofridos.

Não há o que justifique o fato de um ser humano se armar com uma metralhadora e sair por aí matando pessoas, mas a desconstrução do monstro pode ser a saída para tirá-lo das sombras. É esse o aspecto mais contundente do longa de Szifron, que nos faz compreender a policial Eleanor, vivida por  Woodley, e enxergar as razões de sua extrema sensibilidade para decifrar enigmas.

“Sede Assassina” não é nenhum blockbuster, daqueles que ocupam a maioria das salas de cinema e arrastam multidões para as bilheterias, como os filmes de aventuras velozes e de façanhas de super-heróis. Não é seu objetivo, tanto que passou discretamente pelas salas exibidoras do Brasil, e em poucas semanas já pode ser visto no streaming, o que é bom para quem é fã do gênero e procura novas e originais obras na vasta e diversificada oferta que existe.

Com um elenco perfeito, em que se destacam Woodley como Eleanor, Ben Mendelsohm como o policial Lammark, Jovan Adepo como MacKenzie e Ralph Ineson como o assassino Dean, “Sede Assassina” tem também ótima fotografia e trilha sonora eficiente, elementos que acentuam a dramática história contada através de um roteiro muito bem costurado, também valorizado por uma primorosa montagem. Mais um ponto para o cinema argentino, porque é do nosso país vizinho que surgiu um cineasta para o mundo aplaudir.

SEDE ASSASSINA (To Catch a Killer, EUA, 2023) – Direção de Damián Szifron – com Shailene Woodley – disponível para compra ou aluguel no Youtube, Apple TV+ e Now.

Cotação: **** MUITO BOM

Foto: Reprodução

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.