Imaculada e O Bebê de Rosemary: duas formas de terror

por Farid Zaine
@farid.cultura

Não se pode esperar muito dos filmes de terror da atualidade, já que o gênero se tornou extremamente rentável e uma avalanche de longas do gênero chega anualmente aos cinemas. Quase um gênero à parte, o terror destinado a plateias juvenis tem sempre um público fiel, que se satisfaz com a fórmula surrada usada na maioria dos filmes.

Anunciado como um novo blockbuster, inclusive para atrair esse público, o filme que se diz continuação do clássico “O Exorcista”, de 1972, chamado “O Exorcista – O Devoto”, foi mal de público e um estrondoso desastre frente à crítica. Às vezes surge algo melhor, com mais consistência, como é o caso de “Imaculada”, longa de Michael Mohan, em cartaz nos cinemas desde 30 de maio.

O longa de Mohan traz a história de uma jovem que vai ser freira em um convento numa região rural da Itália. A jovem, chamada Cecília, que nunca manteve nenhuma relação sexual na vida, repentinamente se vê grávida. No convento o anúncio dessa misteriosa gravidez é celebrado e dado como um sinal de que acontece ali uma gestação muito esperada, provavelmente a vinda de um messias.

Contudo, Cecília passa a sofrer os horrores de uma gravidez complicada, à medida em que descobre terríveis segredos envolvendo os religiosos do local. Violento, com cenas de impacto visual envolvendo muito sangue, “Imaculada” tem como protagonista a ótima Sydney Sweeney, a Olivia da excepcional série “The White Lotus”. Outro nome de destaque no elenco é o de Alvaro Morte, no papel do Padre Sal Tedeschi; Morte ficou famoso como o Professor na série de sucesso da Netflix, “La Casa de Papel”.

O tema de “Imaculada”, tratado de forma brutal no longa de Mohan, pode ser visto em muitos filmes, mas há um que supera todos: trata-se do clássico de Roman Polanski de 1968, “O Bebê de Rosemary”, em que a personagem de Mia Farrow, Rosemary, vive feliz com o marido Guy (John Cassavetes), curtindo a primeira gravidez dela; eles se mudam para um apartamento, num edifício em que passam a conviver com pessoas muito estranhas.

Rosemary percebe que algo ruim ocorre com seu corpo durante a gestação, mas parece estar cercada de gente que não lhe dá ouvidos, nem o próprio marido, até que tenebrosas verdades surgem diante dela. O terror em “O Bebê de Rosemary” é todo construído com sugestões para a plateia, nunca com cenas violentas ou cheias de carnificina. As interpretações de Mia Farrow e de Ruth Gordon são espetaculares. Gordon, como a simpática e aparentemente inofensiva vizinha Minnie, levou o Oscar 1969 de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel.

“O Bebê de Rosemary”, com seu clima de crescente suspense e tensão, tem ainda na trilha sonora a canção “Sleep Safe and Warm”, chamada de “Lullaby from Rosemary´s Baby”, num doce acalanto interpretado pela própria Mia Farrow. A canção ganhou uma versão belíssima na voz de Rita Moss.

Portanto, “Imaculada” (2024) e “O Bebê de Rosemary” (1968) são opções de filmes de terror para um tema difícil, isto é, jovens mulheres sendo submetidas ao horror de gerar criaturas do mal. Os dois, naturalmente, pelas mãos muito distintas de seus diretores e pelas opções que escolheram: um escolheu a violência e o sangue explícitos, outro o poder arrasador da sugestão bem conduzida.

IMACULADA: filme de 2024, dirigido por Michael Mohan, em cartaz nos cinemas.
Cotação: *** BOM

O BEBÊ DE ROSEMARY: filme de 1968, dirigido por Roman Polanski, com Mia Farrow. Pode ser visto no Prime Video.
Cotação: ***** ÓTIMO

Foto: Divulgação

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.