por Roberson Augusto Marcomini
Vivemos tempos sombrios na internet e fora dela, onde a liberdade de expressão não é uma regra fundamental para a democracia e o desenvolvimento humano. Essa liberdade antes equilibrada com um senso de ética na comunicação, deixou a responsabilidade de evitar agressões e danos desnecessários aos outros. Esquecemos a oportunidade do diálogo social e o entendimento mútuo para um bem-estar coletivo.
No dia 5 de maio de 2024, o ministério público de Minas Gerais denunciou uma influenciadora por intolerância religiosa, depois de uma postagem agressiva por associar a tragédia climática no Rio Grande do Sul a práticas de religiões de matriz africana. A liberdade de gravar uma live deve ser equilibrada com um senso de ética na comunicação, que inclui responsabilidade nas palavras proferidas, guiadas por princípios éticos que promovam respeito e dignidade humana, ou seja, evitar discursos que desumanize, difame ou incite violência contra o próximo. A internet é uma tecnologia para proporcionar espaço onde o diálogo deve ser construtivo, e as plataformas digitais devem trabalhar em conjunto para estabelecer normas comunitárias que protejam um ambiente saudável para troca de ideias. Em poucos dias em Mato Grosso do Sul um padre fez uma declaração polêmica dizendo: “O Rio Grande do Sul abraçou a bruxaria e o satanismo”, a fala gerou uma indignação para quem defende a liberdade religiosa, pois o sacerdote insinuou que a calamidade é uma espécie de punição divina. O púlpito de um templo sagrado não dever ser nunca lugar para ameaçar ou fazer a espetacularização do ódio a nenhuma religião.
O pensador Voltaire (1694-1778) em seus escritos já direcionava que a liberdade de expressão era crucial para combater a tirania e a injustiça, infelizmente a oportunidade para usar a tecnologia virou uma arma para muitas pessoas que esquecem o valor real da liberdade de expressão, assim como o filósofo Stuart Mill (1806-1873) propôs que a liberdade de expressão seria a oportunidade para progresso da sociedade, mas o que constatamos que as melhores ideias não estão prevalecendo e sim o ódio, ódio que é propagando sem o crivo da consciência. É preciso proteger a liberdade de expressão, mas observar os limites, limites para não ser propagado à violência, ódio ou discriminação. Sendo assim John Locke (1632-1704) ao afirmar que a liberdade só acontece com a lei, precisamos reafirmar leis mais rígidas contra discursos inflamados de ódio, protegendo assim grupos vulneráveis de ataques que podem levar à violência ou marginalização.
Roberson Augusto Marcomini é graduado em Teologia, tem licenciatura plena em Filosofia, doutorando em Sociologia, mestre em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, membro do Grupo de Pesquisa do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP/UFSCar), membro do Grupo de Pesquisa Ética e Justiça (Unicamp/Limeira)
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