por Farid Zaine
@farid.cultura
Em 1998 o mundo se comoveu com uma história brasileira, um “road movie” nacional que arrebatou prêmios nos mais importantes festivais, incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda Montenegro, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro (hoje a categoria é chamada melhor filme internacional), o Bafta de Melhor Filme Estrangeiro e muitas, muitas outras láureas: trata-se do longa de Walter Salles, “Central do Brasil”.
O Oscar de 1999 parecia vir para o Brasil, finalmente. Era a melhor chance em anos, desde que o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, “O Pagador de Promessas”, obra-prima de Anselmo Duarte, perdeu para o francês “Sempre aos Domingos”, um belo filme, porém sem comparação com o clássico nacional baseado na obra de Dias Gomes. O Brasil esteve por 4 vezes entre os 5 finalistas da categoria filme estrangeiro, e “Central do Brasil” chegou forte ao Oscar com duas indicações, as de melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro. Contudo, o filme italiano “A Vida é Bela” , recebeu 7 indicações, já como prenúncio de sua vitória na categoria de filme estrangeiro.
Naquela noite infeliz para nosso cinema, primeiro vimos a felicidade de Sophia Loren ao gritar “Roberto”, referindo-se a Roberto Benigni, diretor do longa italiano, que se saiu vencedor, sendo ele também vitorioso como melhor ator, e o filme levando ainda a estatueta de melhor trilha sonora de drama. Pior foi, logo depois, o Oscar de Melhor Atriz, indiscutivelmente merecido por Fernanda, ir para as mãos de Gwyneth Paltrow, por “Shakespeare Apaixonado”, um bom filme, mas superestimado pelas suas 7 estatuetas ganhas. Enfim, coisas do Oscar. O que conta, realmente, é a qualidade do filme de Salles, cuja passagem do tempo só faz ser confirmada: “Central do Brasil”, com sua comovente e original história, é envolvente e apaixonante do começo ao fim.
Em 2024, o longa de Walter Salles chega aos 25 anos, inteiro e cada vez mais adorável. Jovens deveriam ver esse filme para curtirem e compreenderem o poder do nosso cinema. “Central do Brasil”, pela história de uma ex-professora, Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, pode parecer estranho: uma mulher cobra , na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para escrever cartas para analfabetos que querem se comunicar com parentes, amores, desafetos… isso hoje, com a invasão desenfreada dos celulares e aplicativos de conversas, pode gerar uma grande curiosidade sobre a situação tratada no ótimo e criativo roteiro. O caminho de Dora se cruza com o do menino Josué (Vinícius de Oliveira), que perde a mãe, cliente de Dora, num acidente, e se vê sozinho na imensidão da metrópole, numa estação de trem. O destino se encarrega de unir Dora, cujas cartas nunca são enviadas aos destinatários, e Josué, que parte com ela numa longa viagem em busca do pai que nunca conheceu.
Com um elenco extraordinário, encabeçado por Fernanda Montenegro, e pela doce presença do menino Vinícius de Oliveira, “Central do Brasil” tem ainda a participação soberba de Marília Pera, no papel de Irene, amiga de Dora. Othon Bastos, Matheus Nachtergaele e Otávio Augusto também brilham em seus papéis. A trilha sonora, uma das mais belas do cinema brasileiro de todos os tempos, é assinada por Antonio Pinto em parceria com Jacques Morelenbaum.
Enfim, o aniversário de 25 anos dessa joia do cinema brasileiro chamada “Central do Brasil”, é um motivo para que o filme volte a ser visto e comentado, para que continue sendo admirado para sempre como um dos mais importantes momentos do cinema nacional. Enquanto Dora e Josué atravessam o país revelando suas belezas e misérias, somos também atravessados por uma história emocionante, que escreve uma linda carta à nossa alma brasileira, em claro e bom português.
CENTRAL DO BRASIL (Brasil, 1997) – longa dirigido por Walter Salles, com Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pera e grande elenco.
Cotação: *****ÓTIMO
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