Por João Geraldo Lopes Gonçalves
E as mulheres …
Mas não é que as teses misóginas, bolsonaristas e machistas vêm caindo por terra? As tentativas de colocar em pauta o tal sexo frágil e seu papel de reprodutora e dona do lar têm fracassado na sociedade brasileira.
É verdade que continuamos sendo campeões no feminicídio. Só no primeiro semestre registrou-se quase mil assassinatos de mulheres no Brasil, e sempre por parentes. A média diária tem sido alarmante: 4,98% de feminicidios consumados e 6,05 tentados.
A disparidade salarial, então, é um escândalo: mulheres na mesma função que os homens recebem de 35 a 40% a menos. Se for mulher preta, a realidade de desigualdades sociais e assassinatos dobra.
O Tribunal Superior Eleitoral registrou um aumento de 33% de candidaturas femininas as eleições este ano, em relação a 2020. Deste percentual, são mais de 2 mil candidatas a prefeito e também a negritude aumentou neste quesito.
Os números mostram que as mulheres estão com tudo, apesar das injustiças e terror provocados contra elas. O nível de participação, porém, e políticas públicas de inclusão e de combate ao feminicídio, ainda são aterrorizantes.
É preciso aproveitar este momento em que o país começa a discutir as eleições municipais de outubro para que façamos cobranças aos candidatos e candidatas quanto a reverter este quadro. Apresentar temas como educação, saúde, segurança, em especial esta última. Não considerar que mulheres são assassinadas por serem mulheres é contribuir com a morte.
Mulheres estão com tudo
Rebeca Andrade é uma menina preta que, aos 21 anos, foi medalhista de ouro em Tóquio. Quatro anos depois, em Paris, aos 25 ela brilha de novo.
Nossa ginasta olímpica vem da favela de Guarulhos, de uma família pobre com todas as suas dificuldades de sobrevivência. Só foi possível a prática do esporte pelos programas sociais do Governo Lula/Dilma.
Filha de um bombeiro, a paulista Beatriz Souza, preta, começou na infância a praticar o judô. Venceu o preconceito e ainda o enfrenta por ser mulher e negra e fazer um esporte que, faz pouco, era privilégio de homens e brancos. Bia foi medalha de ouro em sua categoria, quando ninguém acreditava.
Alem destas, as Olimpíadas de Paris anotaram 20 medalhas ao Brasil, sendo treze conquistadas por mulheres. O COI Brasil já anotou que as mulheres foram maioria em nosso time. No entanto, o reconhecimento delas no esporte ainda é pequeno, precário e indecente.
Outro dia, procurei fazer uma pesquisa para saber se minha cidade tinha programas de esporte específico para mulheres ou de incentivo a participação delas. Resultado: pífio. A realidade de Limeira não é diferente do resto do Brasil e atinge também os homens, em especial nas periferias.
O apresentador da TV Globo, Marcos Mion, cometeu uma infelicidade ao dizer que o baixo salário de R$ 2 mil por mês foi a razão de não conquistarmos melhores resultados. Equivocado, Mion voltou atrás e elogiou o Bolsa Atleta promovido pelo Governo Federal.
Se o apresentador tivesse dito que faltam investimentos no esporte de convivência, que é o primeiro a ser a ponte para o rendimento, estaríamos com ele. Se Mion tivesse tocado no fato de que empresários não apostam na formação de atletas, assinaremos em baixo.
Fiz outra pesquisa para procurar um lugar para uma pessoa querida praticar handebol: nada encontrei em minha cidade, nem pública, nem privada.
Se alguém souber, por favor, nos corrijam.
Mas, por ora, um viva eterno às nossas Mulheres Olímpicas.
Um juiz na mira do bolsonarismo
Alexandre de Moraes, de acordo com juristas, ex-alunos e ex-colegas, sempre teve uma propensão a decisões unilaterais e monocráticas. Não há dúvida que nosso sistema judiciário é fundado no princípio de uma cabeça, uma sentença.
Na obra “O Processo”, de Franz Kafka, esta tendência é muito clara. A imagem de um homem branco, alto e de postura corporal reta, vestido com uma toga preta, se vê o tempo todo em Moraes. Não há duvidas de que o comportamento do nosso juiz, às vezes, desagrada alguns e até este que vos escreve por cheirar autoritarismo.
Mas para enfrentar golpismo, talvez decisões monocráticas seja o caminho. A turba bolsonarista pede o “Fora Moraes” pelo fato de denúncias na imprensa de que o juiz teria utilizado, como instrumento, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para espionar e investigar lideranças deste segmento.
Ocorre que as ordens de Alexandre eram do presidente do TSE para o juiz responsável pelo inquérito das fake news no STF, que era ele mesmo. Comparar com Moro, quando juiz na Lava Jato, não tem cabimento.
Sergio Moro emitia ordens à Promotoria Pública quanto a investigações e definições de sentenças. Um crime.
É certo que Alexandre de Moraes polariza com o bolsonarismo. É certo que algumas decisões são questionáveis. Mas é real que o juiz togado do STF foi um dos alicerces para se garantir a democracia no Brasil.
Últimas
- Menos de um ano como presidente da Argentina, Javier Milei coleciona 73,3% de pobreza e 7,8 milhões de novos pobres.
- De acordo com o TSE, 53% dos candidatos são negros, mas apenas 37% candidaturas a prefeito.
- Na região de Campinas, onde Limeira está inserida, maioria do eleitorado é constituído de mulheres, inclusive a ex-capital da laranja.
- E falando em Limeira, dados dão conta de que o eleitorado apto a votar diminuiu em relação a 2020 e 2022. São 7 mil eleitores a menos. Pergunta que não quer calar: Quais as razões da queda?
- Ainda sobre Limeira, a cidade registra aumento assustador em mortes no trânsito. Comparado ao ano passado, no primeiro semestre deste ano, tivemos 53% de crescimento de vítimas. Novamente a pergunta que não quer calar: por que?
- Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, repete a fórmula de Jânio Quadros nas eleições municipais daquele ano de 1985.
- Quadros acusou Fernando Henrique Cardoso, que liderava as pesquisas, de maconheiro. Deu certo e FHC despencou do topo e perdeu as eleições.
- Marçal agora acusa Boulos de ser usuário de cocaína. Funcionou, pois o candidato de extrema-direita encostou-se à liderança da candidatura de esquerda.
- Será que a baixaria vai predominar nas eleições? Será que acusar sem provas é legal e o povo se influencia?
Frase: “Isto de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além” (Paulo Leminski)
Bom final de semana a todas e a todos.
João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural
Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar
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