O equívoco do centro político

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Podemos definir o centro político no Brasil de várias formas, e com leituras diferentes de cada uma delas. A primeira definição remete ao famigerado Centrão, agrupamento politico partidário que surge durante a Constituinte de 1988, se contrapondo a políticas consideradas por eles como de esquerda, comunista e nada conservadora. Este grupo vai se firmar na política brasileira como o epicentro de uma forma casual, conveniente e fisiológica de práticas, em especial no Parlamento Brasileiro.

É deste agrupamento que surgem as bancadas da Bíblia, da Bala e do Boi, defesas de bandeiras retrógradas e em especial espaço no poder com cargos, emendas e outras benesses. Escândalos de corrupção são comuns neste grupo, com alguns deles na prisão, como Eduardo Cunha e outros. Base de Bolsonaro, como foram base de Lula/Dilma e FHC. Não importa quem esteja no poder. Deu o golpe em 2016 e fez parte do governo Temer.

A segunda definição vem da chamada Social Democracia, termo cunhado historicamente de rachas nos Partidos Socialistas e Comunistas no século XIX. Na Europa, a Social Democracia em vários países se aproxima das esquerdas, com bandeiras bem próximas, mas sem abrir mão do livre comércio, da economia sem interferência do Estado. Ou seja defende direitos civis, mas não abre mão do privatismo.

No Brasil, a Social Democracia esteve alojada na ditadura militar no MDB. Na redemocratização, ela vai se pulverizar, mas em especial terá uma hegemonia no PSDB e no PT. No PT ela não é majoritária, por isto defesas de posições pró-mercado são combatidas internamente, mesmo que nos governos petistas tivemos ministros da Economia e do Banco Central aliados com o mercado e mesmo políticas econômicas afeitas a Faria Lima e outros centros.

Mas no PSDB esta posição nasce como maioria, quando do racha com o PMDB. Sociais Democratas convictos como Mario Covas, Fernando Henrique e Franco Montoro vão dar o tom desta politica até o final dos anos 90. Mas o inchaço e derrota de alguns grupos mais a esquerda na social democracia vão abrir espaço para a direita e, em algumas situações, a extrema direita.

A posição do PSDB em apoiar o golpe de 2016, fazer parte do Governo Michel Temer, não se posicionar como oposição até agora a Bolsonaro e votos no Congresso a politicas antissociais, como Reforma da Previdência e Trabalhista, mostram que a Social Democracia modelo Europeu, como gosta de frisar FHC, tem perdido as batalhas. Cada vez mais posições de direita, como de João Dória e até há pouco Aécio Neves, tem sido condutora dentro do ninho tucano.

O aspecto ideológico no Brasil tem ficado confuso e deixado a maioria simplificar o debate com o discurso da polarização, entre esquerda e extrema direita. E aí o tal centro político, que em nossa opinião vai de PSDB, passando por MDB, DEM, PL, PSD, PTB, PP e outras siglas, comete o equívoco de defender a confusão.

Colocar a polarização como algo ruim e até pecaminoso para o processo eleitoral no Brasil é, no mínimo, oportunismo político e uma tentativa e arrastar novamente um clima de caos gerado em 2018, quando estes setores reforçaram o antepetismo. Na iminência de não ter uma candidatura viável no pleito passado, varias lideranças e partidos do Centro votaram e subiram no palanque bolsonarista, alguns inclusive ainda no primeiro turno. Mesmo a posição de anular o voto, no segundo turno, consistiu em erro.

Não era novidade para ninguém do mundo político e das grandes mídias e corporações financeiras, por exemplo, que Bolsonaro não era democrático e tudo faria para destruir o Estado de Direito. Não se tratava apenas das pautas de costumes ou morais. As políticas econômicas e sociais deflagrariam o que estamos a enfrentar hoje: a volta da inflação, um pibinho, o menor da história, a volta do Brasil no mapa da Fome, 15 milhões de desempregados, gasolina a R$ 7, gás de cozinha a R$ 130 e cesta básica, R$ 600.

Se isto não bastassem, 600 mil mortos por Covid-19 e agora o ex-Posto Ipiranga amiguinho do chamado centro politico envolvido com dinheiro estranho e com origem desconhecida, nos paraísos fiscais. As pesquisas eleitorais cada vez mais apontam que nenhum nome ligado ao centro tem ou terá viabilidade eleitoral.

O que resta ao centro político? Insistir no discurso equivocado do roto e do rasgado, colocando na mesma bacia Lula e Bolsonaro? Ou ficar a espera ou mesmo patrocinar mais um golpe, como o de 2016, em que vários membros o apoiaram? Penso que há um grupo no centro politico que pensa o Brasil do Desenvolvimento com Justiça Social e não repetirá o erro.

É o que esperamos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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