O 1º de Maio e a luta das trabalhadoras e trabalhadores

Por Artur Bueno Júnior

Trabalhadoras e trabalhadores de todo o Brasil comemoram o Primeiro de Maio, mais uma vez, em um momento de crise. Há risco de vida pela pandemia do Coronavírus, e um governo federal que se reafirma inimigo da classe.

O caso do áudio vazado do Ministro da Economia, Paulo Guedes, é simbólico. Um áudio vazado, aliás, vale mais que mil declarações oficiais. Nele, o ministro que já tinha manifestado desprezo pelo fato de empregadas domésticas viajarem a Miami, agora fala em tom jocoso sobre filho de porteiro que garantiu vaga em faculdade com financiamento pelo Fies.

As manifestações do homem forte da Economia no governo parecem fazer paralelo com a do mandatário maior, sobre “empregos ou direitos”. Este grupo político enxerga a classe trabalhadora unicamente como força de trabalho, sem vida ou aspirações, sem direitos ou mesmo humanidade. Gente que não pode se dar ao luxo de fazer faculdade. É assim que pensam os homens do Poder, e o resultado é o assalto constante à Legislação Trabalhista.

O governo federal também ataca as NRs (Normas Regulamentadoras), que garantem um mínimo de segurança e saúde para os trabalhadores nas empresas. Para eles, são “empecilhos ao desenvolvimento”, “entraves burocráticos” a infernizar a vida do empreendedor. Claro, se para eles o trabalhador é força de trabalho não-humana, a perda de algumas vidas num contexto de pujante produção se justifica plenamente. Reduzamos em 90% as NRs, ora – dizem.

Mas o 2021 ainda reserva mais desafios. Sem respaldo de um Estado que não respeita o trabalhador, homens e mulheres têm de enfrentar a morte diariamente, em meio à pandemia do Coronavírus. No dia a dia, conta-se com equipes reduzidas de fiscalização nas empresas e postos de trabalho, ante uma classe empresarial contaminada pelo negacionismo selvagem, e de um presidente considerado genocida. Que recusou 70 milhões de doses de uma vacina em 2020, e cuja incompetência provocou a morte de dezenas em Manaus, por falta de oxigênio.

No Brasil é praxe dizer que o Dia da Trabalhadora e do Trabalhador não tem nada para comemorar. Infelizmente, temos mais um ano assim, e talvez um ano pior que os outros. Às companheiras e companheiros de todo o país, resta a mobilização em torno do movimento sindical, única salvaguarda diante de tamanhos desafios.

O lado bom da eterna crise é que viramos uma planta que verga, mas não quebra. O vigor da nossa luta se sustenta pelo fato de que somos humanos, somos gente, não somos máquina. Não somos apenas força de trabalho. A realidade colossal da vida se impõe aos homens do Dinheiro e do Poder, e a força do oprimido reside na resistência e renovação das esperanças.

Que as crises nos ensinem sobre os homens do Poder e do Dinheiro. Que as crises nos ensinem quem somos. Que os filhos de porteiros vençam ministros, e consigam fazer faculdade no Brasil. Neste Primeiro de Maio, nossos parabéns às trabalhadoras e trabalhadores deste país.

Artur Bueno Junior é presidente da USTL, do Stial e vice-presidente da CNTA

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