“Morro diariamente com as que não tiveram o direito de dar prosseguimento às próprias vidas”

No Dia Nacional da Visibilidade Trans, a primeira vereadora transexual da história de Limeira, Isabelly Carvalho (PT) escreveu um artigo sobre o significado da data. “Eu morro diariamente junto com as várias pessoas Trans que não tiveram o direito de dar prosseguimento às próprias vidas, seja pelos assassinatos, seja por estarem cansadas de estarem sempre desviando da faca, da pistola, da pedrada, do cuspe, do escarro, do xingamento, do sorriso de canto de boca, do deboche e outras violências introduzidas na sociedade através do preconceito e desinformação que faz vítimas diárias”. Veja:

29 de janeiro – Dia Nacional da Visibilidade Trans

No dia 29 de janeiro de 2004 foi o dia em que o Congresso Nacional foi momentaneamente transformado, pela primeira vez um grupo de Travestis e Transexuais invadiu o departamento de IST/AIDS e Hepatites virais do Ministério da Saúde para lançar a campanha intitulada “Travesti e Respeito”, pois acreditava-se que estas duas palavras poderiam andar juntas. Desde então o dia 29 de janeiro é reconhecido como o Dia nacional da Visibilidade Trans.

A data é marcada por uma série de eventos, palestras, debates, seminários e outras atividades que visam tanto a promoção da visibilidade positiva de pessoas Travestis e Transexuais, quanto para apontar a necessidade do combate às violências transfóbicas através da formulação e implementação de políticas públicas efetivas que visem a inclusão. Há quatro anos, através da Rede Trans Brasil e coletivos locais, não deixamos que Limeira ficasse de fora dessa agenda de atividades.

O Brasil apresenta aumento consecutivo nos casos de assassinatos de pessoas Trans em relação ao ano de 2020, mesmo no contexto da pandemia do Coronavírus e com a necessidade de distanciamento social. Este foi um fator determinante que impactou a vida das pessoas Trans, em especial as mulheres Travestis e Transexuais que têm apenas a prostituição como forma de trabalho e renda, viso que a maioria não obteve acesso às políticas emergenciais devido à precarização histórica de suas vidas.

Neste 29 de janeiro (sexta-feira), a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, instituição em que ocupei o cargo de Secretária Sudeste, lançará um dossiê com os dados de violência e negação de direitos da população Trans no Brasil no ano de 2020. Na ocasião, divulgará também um artigo de minha autoria, onde discorro sobre a participação das pessoas Trans na política. Este ano, o Coletivo LGBT Sobreviver, em parceria com o Mandato Isabelly Carvalho, realizará uma atividade on line, transmitida por meio das redes sociais do Coletivo Sobreviver, no dia 29 de janeiro, às 19h.

Eu morro diariamente junto com as várias pessoas Trans que não tiveram o direito de dar prosseguimento às próprias vidas, seja pelos assassinatos, seja por estarem cansadas de estarem sempre desviando da faca, da pistola, da pedrada, do cuspe, do escarro, do xingamento, do sorriso de canto de boca, do deboche e outras violências introduzidas na sociedade através do preconceito e desinformação que faz vítimas diárias. E, mesmo assim, se falarmos em políticas públicas para Travestis e Transexuais, mais uma vez vão dizer que mulheres Trans não são mulheres, que somos “quase mulheres”, “quase homens”, sempre quase, enfim, quase gente.

Que nesta data possamos intensificar a luta contra o desamor, contra a injustiça, contra a violência, contra a Transfobia. Que o respeito à identidade de gênero de cada um e de cada uma seja símbolo de luta no país que mais mata Travestis e Transexuais no mundo.

Isabelly Carvalho
Vereadora – Limeira/SP

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