Impeachment de Bolsonaro já

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Cuidado! Há um morcego na porta principal
Cuidado! Há um abismo na porta principal” – GOTHAM CITY


Em 2018, em uma entrevista para o programa “Intervenção Urbana” apresentado pelo jornalista Fabio Shiraga na Rádio Mutante, escolhi a canção Gotham City, de autoria de Jards Macalé, para ilustrar o momento em que vivíamos.

O trecho acima compreende o refrão da obra, escrita no ano fatídico de 1969, um ano após o golpe dentro do golpe, o famigerado AI-5 (Ato Institucional Número 5), instituído pela ditadura militar, que fecha ainda mais o regime, com prisões, institucionalização da censura, da tortura e repressão geral.

Ao escolher a música 49 anos depois, é porque vivíamos naquele momento, um outro golpe, o de 2016, que derrubou sem motivo ou crime cometido a presidenta eleita pelo voto popular Dilma Rousseff.

Em seu lugar assume o vice Michel Temer, principal articulador da conspiração golpista e feito um vampiro que, durante o dia, se apresenta como educado e com bom comportamento, à noite na surdina dá o bote certeiro levando as vítimas à morte.

Quando concedi a entrevista, estávamos no final do mandato do usurpador e a alguns dias das eleições para presidente. Infelizmente, o Brasil escolheu um protegido do vampiro, um seguidor de políticas rasteiras e antidemocráticas. O golpe dentro do golpe estava dado. Repetíamos 13 de Dezembro de 1968, exatos 50 anos depois, com Bolsonaro presidente.

Não era de desconhecimento de grande parte da população, em especial a classe média e os fazedores de opinião, que Jair Bolsonaro não trazia em seu discurso e DNA nenhuma defesa do Estado Democrático de Direito. As pautas conservadoras e fascistas também eram conhecidas.

Suas declarações homofóbicas, machistas, xenófobas, racistas, hora ou outra inundavam o noticiário dos grandes veículos de comunicação, bem como as barras dos tribunais onde a figura responde por seus atos até hoje. Não era novidade também que Bolsonaro e seu governo teriam lado. O lado do desmatamento, do agronegócio, das grandes corporações financeiras.

E, com isto, a política de desmonte dos serviços públicos e da exclusão de direitos sociais e trabalhistas foram a tônica desde o primeiro dia de governo. Aliado a isto, deixar de comprar feijão para dar armas a população era e ainda permanece sendo crucial pra a continuação do golpe de destruição do Brasil.

Os resultados desta política estão nos indicadores: quase 15 milhões de desempregados, quase 600 mil mortes na pandemia do coronavírus, a volta da inflação, dólar a R$ 5,50, gasolina a sete reais, botijão de gás a 100 reais e fuga constante de capitais.

A corrupção e os crimes da família Bolsonaro, em conjunto com sua alma fascista e Golpista, tentaram dar o golpe e antecipá-lo para o ultimo dia 7 de setembro. O tiro sai pela culatra. Os atos antidemocráticos não são suficientes para a ruptura e as instituições sólidas reagiram e evitaram o pior.

Tudo caminhava a dois depois da tentativa de golpe, para que finalmente ganhasse corpo o impedimento de Bolsonaro. O próprio Centrão já ameaçava a demandada. Mas ao cair da tarde e o início da noite, sai de sua tumba o Vampirão. A carta arregando escrita por Michel Temer, o golpista mor, recoloca na ordem do dia a continuação da conspiração das elites econômicas, encasteladas em seus interesses pessoais e de acúmulo e concentração de renda.

Temer é o representante de uma elite que o escritor Jessé de Souza define em sua obra como a do atraso. Esta elite não está interessada no desenvolvimento do Brasil. Não há a mínima chance deste grupo querer combater a miséria e a fome, investindo na produção para gerar empregos e renda. Muito menos que os trabalhadores e pobres tenham direitos e acesso a cidadania.

Michel Temer não é republicano e muito menos um democrata. Seus interesses são os mesmos desta elite representada pelos dezoito participantes do jantar dado na casa de Naji Nahas, empresário e acusado de quebrar a bolsa de valores do Rio de Janeiro.

Por isto Jair Bolsonaro não precisa ser cassado. Basta domesticá-lo e corrigir a rota, que é continuar as privatizações, o desmonte das politicas públicas e a concentração de renda. Temer vem para continuar o golpe dentro do golpe. Por isto que defendemos o impeachment de Bolsonaro já.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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